Por Adriana do Amaral
Há semanas acompanho o “crime do miojo”. O sonho de consumo do povo brasileiro que passa 24 horas em jejum…
Hoje, ao ver a imagem da brasileira, mãe de cinco filhos (2, 3, 6, 8 e 16 anos), sucumbi. Como ver a beleza num mundo de desamor?
“Meu sonho é ser gente”, disse Rosangela Sibele ao sair da prisão nessa quarta-feira (13). Ela ficou enclausurada no Centro de Detenção Provisória Feminino de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, durante 18 dias. O crime? Ter roubado comida no valor de R$ 21,69: dois refrigerantes, um refresco em pó e dois pacotes de macarrão instantâneo.
Explicando o que entende por gente, completou:
“Eu ainda não sei o que é isso, não sei o que é ser mãe, filha, irmã”…
Finalmente, prevaleceu a determinação do Ministro do #STF (Superior Tribunal de Justiça) Joel Ilan Paciornik, solicitado pela #DefensoriaPúblicadeSãoPaulo. Baseando-se no “princípio da insignificância”, o relator do habeas corpus justificou tratar-se de um “furto simples”, cometido por uma #pessoaemsituaçãoderua para “saciar a fome”. O valor da dívida com o Estado Brasileiro? Menos de 2% do salário mínimo, justificou o Ministro.
Há uma década essa brasileira de 41 anos vive nas ruas, onde a cada dia as oportunidades de reintegração social torna-se mais difícil, e que foi intensificada com a #pandemia da #Covid-19. Afinal, quem não tem endereço não consegue emprego e muitas vezes sucumbe às drogas. Isso porque já é um milagre ela ter sobrevivido tanto tempo.
Rosangela declarou-se dependente química, e que estava em tratamento. É reincidente no furto de alimentos e também corre o risco de perder a guarda dos filhos,
“Roubei porque estava com fome…”, confessou.
Padre #JúlioLancellotti, o defensor dos fracos e pequenos desse país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, lembra:
“Santo Tomás de Aquino diz que no momento de penúria e sofrimento todos os bens se tornam coletivos, a propriedade privada cessa. ”
Eu me pergunto: qual a solução para esse impasse? O que é direito? O que é justo? O que é Justiça?
A alternativa é coletiva, pois o indivíduo sempre será criminalizado. Sobretudo uma mulher, solteira, desempregada, sem endereço, viciada, pobre…
Uma mulher que ainda tem esperança ao dizer que quer se tratar para poder cuidar da família. Que quer pedir perdão, e recomeçar…
Pego emprestado as palavras do cientista e médico #MiguelNicolelis:
“Esse é um momento de bifurcação histórica para o Brasil. A sociedade brasileira vai ter de decidir de uma vez se nós vamos nos transformar numa nação de de verdade, ou se nós vamos abrir mão desse objetivo e simplesmente continuar como um aglomerado de gente num país gigantesco…”
O Brasil precisa recomeçar do zero.
“
Imagem: Reprodução
