Por Tácio Lorran-Metrópoles
Chefe de gabinete do deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), Ivanadja Velloso Meira Lima, ré em processo por rachadinha, recebeu do próprio gabinete um poder incomum: autorizações formais para sacar salários e movimentar contas bancárias de funcionários, sem qualquer limitação.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal, desde 2011 ao menos dez servidores e ex-servidores assinaram procurações concedendo a Ivanadja poderes para abrir contas, assinar cheques, sacar valores e até encerrar contas-salário, prática que, para os investigadores, viabilizou um esquema sistemático de desvio de recursos públicos.
O montante movimentado pelos funcionários cujas contas ficaram sob controle de Ivanadja ultrapassa R$ 4 milhões. Entre os casos citados na denúncia, está o de Ary Gustavo Xavier, motorista que também atua como caseiro da fazenda de Motta. Ele assinou duas procurações em 2016, autorizando a chefe de gabinete a administrar sua conta integralmente.
Desde que entrou no gabinete, já recebeu mais de R$ 1,1 milhão em salários pagos pela Câmara dos Deputados.
Outro exemplo é o de Jane Costa Gorgônio, secretária parlamentar desde 2012, que também deu acesso total a Ivanadja e recebeu cerca de R$ 336 mil no período.
A lista inclui ainda Maria Socorro de Oliveira, nomeada em 2013, que acumulou cerca de R$ 82 mil em salários pagos pelo gabinete de Motta enquanto também mantinha cargo no governo estadual — situação que pode configurar acúmulo ilegal de funções.
Outros beneficiários das nomeações e que assinaram procurações semelhantes são Gabriela de Oliveira Figueiredo Leitão Venâncio, que recebeu R$ 879 mil enquanto estudava e mantinha um negócio próprio, além de Valdirene Novo dos Reis, Kelner Araujo de Vasconcelos, Paulo Vinícius Marques Pinheiro e Raimundo Nonato de Araújo.
O caso não é isolado. Antes de trabalhar com Motta, Ivanadja já havia ocupado o mesmo cargo no gabinete do deputado Wilson Santiago, onde também foi apontada como responsável por movimentar salários de servidores fantasmas.
As semelhanças entre os dois casos reforçaram a acusação de improbidade administrativa apresentada pelo MPF.