Por Simão Zygband
Vamos imaginar o que faria o governo de extrema direta de Bolsonaro, se a Rússia decidisse implantar bases nucleares na Venezuela, encostada no Brasil. Como o presidente norte-americano, Joe Biden, reagiria a esta provocação?
Tem sido a maior dificuldade se posicionar sobre o conflito Rússia x OTAN (leia-se EUA), tendo a Ucrânia como vítima de se permitir utilizar como bucha de canhão em uma guerra que em geral acaba sempre estourando do lado mais fraco: os soldados enviados para o front, muitos deles contaminados por uma narrativa bélica suicida e a população civil, que nunca fica imune neste tipo de ação militar.
Vou pegar como exemplo um jornalista brasileiro que não costuma fugir da raia. É o Joaquim de Carvalho, com vasta experiência na mídia privada e também na alternativa (que se opõe à versão hegemônica dos empresários da Comunicação). Tenho acompanhado diariamente as suas postagens no Facebook, que procura jogar um pouco de luz nesta treva que é a guerra de narrativas do conflito,
Veja o que o experiente jornalista, que inclusive foi entrevistado por um jornal russo (cujo nome é aparentemente impronunciável em português), fala em sua postagem no facebook, sobre as negociações envolvendo a Rússia e a Ucrânia:
“Do lado esquerdo, os negociadores russos, diplomatas de carreira. Do lado direito, os negociadores ucranianos (foto abaixo). Sinceramente, de quem você compraria um carro usado? Pior: há informação de que os informais negociadores ucranianos têm ligações com organizações neonazistas. Você acha que a Ucrânia quer acordo? Eles usam civis como escudos humanos em Kiev porque apostam no banho de sangue, para desgastar politicamente Putin e a China e favorecer os EUA e a Otan. Esses caras são perversos”.
Também me sirvo de trecho da matéria publicada neste domingo (01/03) no jornal Folha de S.Paulo, pelo jornalista Breno Altman, editor do site Opera Mundi, que faz a cobertura de assuntos internacionais:
“Apesar da narrativa dominante na imprensa ocidental vender que Moscou seria responsável pelo conflito ucraniano, os fatos demonstram um outro fluxo geopolítico. A Casa Branca, apoiada por vassalos europeus, se moveu incisivamente para empurrar Vladimir Putin ao caminho das armas, fechando as portas diplomáticas.
“A atual crise militar, certamente a mais relevante desde a 2ª Guerra Mundial, teve início em 2014, quando um golpe de Estado derrubou o presidente Viktor Yanukovich, aliado russo. Essa insurgência, apoiada pelos EUA e pela União Europeia, teve como principal bandeira a incorporação de Kiev ao bloco atlântico. Sob essa plataforma, unificaram-se de sociais-democratas a neonazistas”.
O ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à presidência da República nas eleições de outubro, sabidamente um negociador nato e um pacifista na essência, faz uma análise extremamente ponderada, como lhe é peculiar:
“A humanidade não precisa de guerra, precisa de emprego, de educação. Por isso que fico triste de estar aqui falando de guerra e não de paz, de amor, de desenvolvimento”.
Mas também apresenta alternativas para gestão de crises como a guerra entre a Rússia e a OTAN:
“É importante que a gente coloque novos países no Conselho de Segurança e a gente aumente a capacidade de governança da ONU, que não seja uma instituição apenas decorativa e que tome decisões efetivamente. E ela poderia ter tomado decisões para evitar essa guerra”.
Bem, por tudo que vi, ouvi e li sobre o conflito, não poderia deixar de me posicionar. Também preferia que não houvesse guerra, em nenhum lugar do mundo, mas a história da humanidade não foi feita apenas de arte e flores.
Vamos imaginar o que faria o governo de extrema direta de Bolsonaro, aliado dos EUA, se a Rússia decidisse implantar bases nucleares na Venezuela, encostada no Brasil. Como o presidente norte-americano, Joe Biden, que considera o Brasil como seu quintal, reagiria a esta provocação?
Fico feliz pela onda de pacifismo que ganhou vulto com a invasão russa da Ucrânia, mas que em momento algum se reproduziu em outros conflitos. É o que relata a amiga de Facebook, a professora Cris Catalina Charnis:
“E quando você vira hipócrita por defender a soberania dos ucranianos e não chora igual pelos palestinos, sírios, afegãos, congoleses, centroafricanos, iraquianos, curdos, iemenitas, sudaneses, rohyngyas e somalianos?”
Cris também defendeu a solução negociada e se posicionou contra a invasão russa e a favor da Ucrânia.
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