Por Tião Nicomedes
Foi anunciarem a vacina #Janssem para a #populaçãoemsituaçãoderua e a temperatura caiu para “zilhões” abaixo de zero
A ideia de proteção contra o #coronavirus foi imediatamente atropelada pelo medo de passar frio.
Dirá você: vai pro abrigo!
Bem, a ideia de rua sendo à praça, o relento. Aí é a ponta.
E se eu te disser que no abrigo se passa frio? Te disser que nas vagas de pensão, nas hospedarias, se passa frio? Passa fome quem paga pernoite por diária de 10 contos, acima?
Tem dias que a féria apurada não dá pro prato feito no boteco mais fuleiro.
Tem noite que pendura a diária pra noite seguinte.
Com dias acumulados…
Ou paga, ou dorme na calçada.
É, nem toda classe em pop rua está organizada ou protegida. Há despejos, despejos…
Nas ocupações há luta quando vem oficial da justiça. Se revertem alguns casos, quando a #DefensoriaPública entra com recurso, porém nos pensionatos a lei é o Jagunço.
Deveu não pagou, junta os panos de bunda. Pega-se pelo fundo das calças joga escada abaixo. Com as trouxas, mas retém o documento.
Ah, não sabia? O #RG é apreendido.
Se vira. Se não aparecer com a grana semanal, além da calçada vira indigente.
O frio na rua só tem um consolo: o rango vem na mão. De um jeito ou de outro a comida vai chegar.
Essa vantagem amplia nos centros de acolhida. Refeições asseguradas.
Mas do frio não tem escape.
O frio de rua dói na alma.
Faz trincar os dentes.
Ensurdece os ouvidos.
Degela o coração.
Faz enlouquecer.
Expõe aos riscos da tuberculose.
Aquela gripezinha logo vira pneumonia.
Quer saber? #Covid-19 na rua é luxo. Equivale a um passaporte com chances de se obter atenção e cuidados. Garantia de leito e alimentação. Mobiliza assistência social, saúde e #DireitosHumanos.
Você vai concluir: mas que absurdo e esse?
Digo que é vivência.
E ouvi isso de uma pessoa em situação de rua.
Nesse contexto. Literalmente. Sem nada de ficção.
Entende agora o que é #isolamentosocial?
O frio mata.
Sebastião Nicomedes de Oliveira é “poeta das ruas”. Autor da peça teatral Diário de um Carroceiro e do livro As Marvadas é artista popular. Ex-catador e ex-morador em situação de rua, integra o MIPR (Movimento Internacional de População em Situação de Rua).
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Sebastião, tenho sempre um desejo de apoiar a população de rua, você poderia me indicar um grupo ou ong para que eu possa ajudar?
Parabéns pela visão!
O abandono social só aumenta!