Por Iara Vidal – Revista Fórum
Saiba tudo sobre o estudo chinês por trás desse feito fabuloso para a humanidade e para a medicina e que leva esperança a milhões de pessoas em todo o mundo.
Em um avanço médico sem precedentes, médicos em Xangai, China, conseguiram curar pela primeira vez um paciente com diabetes tipo 2 através do transplante de células pancreáticas derivadas de células-tronco. O paciente, um homem de 59 anos, passou por um procedimento inovador que envolveu o implante dessas células em seu fígado.
As células derivadas de células-tronco, conhecidas como ilhotas pancreáticas, não apenas sobreviveram ao transplante, mas também prosperaram no novo ambiente. Como resultado, o diabetes do paciente foi revertido, eliminando a necessidade de injeções de insulina.
O procedimento marca um importante avanço na medicina regenerativa e no tratamento do diabetes tipo 2 e um passo significativo no tratamento da doença ao oferecer esperança para milhões de pessoas ao redor do mundo que sofrem com essa condição.
A pesquisa e o desenvolvimento contínuo de terapias baseadas em células-tronco podem transformar radicalmente a abordagem do tratamento do diabetes e outras doenças crônicas.
Estudo pioneiro
O estudo foi conduzido por pesquisadores chineses do Instituto de Bioquímica e Biologia Celular de Xangai, Centro de Excelência em Ciência Molecular Celular, da Academia Chinesa de Ciências e publicado na prestigiosa revista científica Nature desta quinta-feira (30).
Intitulado “Treating a type 2 diabetic patient with impaired pancreatic islet function by personalized endoderm stem cell-derived islet tissue” (Tratamento de um paciente com diabetes tipo 2 e função das ilhotas pancreáticas comprometida com tecido de ilhotas derivado de células-tronco endodérmicas personalizadas, em tradução livre), o artigo é assinado por Jiaying Wu, Tianlong Fu, Tengfei Nie, Tongkun Wei, Ying Zhou, Xin Cheng e Xiaoliang Xu.
Os pesquisadores apresentam uma nova abordagem para tratar o diabetes tipo 2 (T2D) e traz esperança para pacientes que dependem de insulina. Pesquisadores estão utilizando células-tronco endodérmicas humanas (EnSCs) para criar ilhotas pancreáticas (E-ilhotas), que são transplantadas no paciente, potencialmente melhorando a produção de insulina.
O diabetes tipo 2 geralmente começa com a resistência à insulina nos tecidos do corpo, levando à perda da função das células beta no pâncreas, que produzem insulina. Muitos pacientes acabam precisando de insulina externa. Embora o transplante de ilhotas pancreáticas de doadores falecidos seja uma solução, a falta de doadores é um grande obstáculo.
Como foi feito o estudo
Um paciente de 59 anos, com 25 anos de história de diabetes tipo 2 e já submetido a um transplante de rim, foi escolhido para este estudo piloto. Ele recebeu o transplante de E-ilhotas geradas a partir de suas próprias células-tronco. Essas células foram preparadas em laboratório em condições rigorosas para garantir a qualidade e segurança.
Durante 116 semanas de acompanhamento, o paciente apresentou melhorias significativas no controle da glicemia. O monitoramento contínuo da glicose mostrou redução nas flutuações de glicose no sangue e eliminação de episódios de hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) e hiperglicemia severa (alto nível de açúcar no sangue).
Os exames de acompanhamento não detectaram formação de tumores ou outras complicações graves. Além disso, as necessidades de insulina do paciente foram gradualmente reduzidas até a retirada completa em 11 semanas, e os medicamentos orais para diabetes foram descontinuados.
Este estudo oferece as primeiras evidências de que tecidos de ilhotas derivados de células-tronco podem restaurar a função pancreática em pacientes com diabetes tipo 2 em estágio avançado. O tratamento foi bem tolerado, sem formação de tumores ou eventos adversos graves. Futuras pesquisas são necessárias para expandir esta terapia para outros tipos de diabetes e desenvolver produtos prontos para uso que não requeiram imunossupressão.
Essa nova abordagem promete revolucionar o tratamento do diabetes tipo 2, oferecendo uma nova esperança para pacientes que dependem de insulina para controlar a doença.
População com diabetes
Em 2021, havia aproximadamente 537 milhões de pessoas vivendo com diabetes em todo o mundo. Este número está projetado para aumentar para 643 milhões até 2030 e 783 milhões até 2045.
A China tem o maior número de diabéticos no mundo, com aproximadamente 141 milhões de pessoas vivendo com a doença em 2021. Este número deve aumentar para 174,4 milhões até 2045.
Em 2023, o Brasil tinha cerca de 16,8 milhões de pessoas diagnosticadas com diabetes. Este número representa uma prevalência de cerca de 8,9% da população adulta .
O que é diabetes
O diabetes é uma condição crônica caracterizada por níveis elevados de glicose (açúcar) no sangue, resultante de problemas na produção ou na ação da insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas que regula a glicose no sangue. Existem vários tipos de diabetes, sendo os mais comuns o diabetes tipo 1, tipo 2 e o diabetes gestacional.
Diabetes Tipo 1 – Ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Geralmente diagnosticado na infância ou adolescência, embora possa surgir em adultos. As pessoas com diabetes tipo 1 necessitam de insulina externa para sobreviver. Tem como sintomas sede excessiva, fome constante, perda de peso, urina frequente, fadiga e visão embaçada.
Diabetes Tipo 2 – Relacionado a uma combinação de resistência à insulina e produção insuficiente de insulina. Fatores como obesidade, sedentarismo, dieta inadequada e predisposição genética contribuem para seu desenvolvimento. É mais comum em adultos, mas pode ocorrer em qualquer idade, inclusive em crianças. Pode ser gerenciado com mudanças no estilo de vida, medicação oral e, em alguns casos, insulina. Tem como sintomas sede excessiva, fome constante, cansaço, visão embaçada, feridas que demoram a cicatrizar, infecções frequentes.
Diabetes Gestacional – Ocorre durante a gravidez e é causado por alterações hormonais que resultam em resistência à insulina. Geralmente desaparece após o parto, mas mulheres que tiveram diabetes gestacional têm maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 mais tarde na vida. Frequentemente não apresenta sintomas perceptíveis e é diagnosticado através de exames de rotina durante a gravidez.
Se não for controlado adequadamente, o diabetes pode levar a várias complicações graves, incluindo: doenças cardíacas, renais e derrame, danos nos nervos e aos olhos, feridas e infecções nos pés que podem levar à amputação.
O tratamento e gerenciamento da doença requer mudanças no estilo de vida com adoção de alimentação saudável, atividade física regular, manutenção de um peso saudável; uso de medicamentos (insulina para diabetes tipo 1 e, em alguns casos, tipo 2; medicamentos orais para diabetes tipo 2) e monitoramento para controle regular dos níveis de glicose no sangue, exames de rotina para monitorar complicações.