Boulos encurta diferença para Nules

Por Simão Zygband

Vamos combinar que além de péssimo prefeito, Ricardo Nules é um candidato horroroso.

Os marqueteiros da campanha dele fazem das tripas coração para empurrar para cima o trambolho bolsonarento, filho legítimo de João Doria, Michel Temer, Bruno Covas, Milton Leite e Jair Bolsonaro.

Uma amalgama de Frankstein com tudo que não presta na política.

Agora ele foi adotado por Tarcísio de Freitas, um governador de São Paulo que não sabe nem onde fica a ponte João Dias ou o Largo do Socorro, o pedaço de Nules.

Ele cometeu no debate um erro que nunca passa batido para o eleitor de São Paulo: cantou vitória antes do tempo.

Como se diz na nossa gíria, no “paulistanês”, sentou na cadeira de prefeito antes do tempo  de fechar das urnas.  Para os entendidos em marketing político, não existe eleição ganha de véspera.

Já vivi várias eleições em São Paulo, na militância, no trabalho de divulgação ou na panfletagem. Também trabalhando em mandatos políticos, que vivem eleições e disputas quase que diárias.

Se as eleições fossem hoje, a maior possibilidade é que Nules estivesse reeleito. Teve no primeiro turno o maior tempo de horário eleitoral. Isso pesou muito favorável a ele. Mesmo assim, terminou o primeiro turno somente com 25 mil votos a mais que Boulos. Nada animador.

Ao contrário de outros prefeitos aliados do presidente Lula, Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, reeleito no primeiro turno com 69,47% dos votos válidos e João Campos, de Recife, com 78,11%, Nules passou raspando, quase perdendo para o desconhecido e doidivano Pablo Marçal, que é louco mas não rasga dinheiro.

Assim, Nules, que está em vantagem, pode não tê-la mais no dia 27 de outubro, um domingo, data do segundo turno. Boulos (e o temporal) tem conseguido jogar o ladino prefeito para baixo. O retrato de hoje pode não ser o mesmo do dia das urnas.

Duas pesquisas mostram isso, ambas extremamente compromissadas com as candidaturas conservadoras e bancadas por empresas que costumam fazer arranjos contra candidatos de esquerda: a Paraná e a Quest. Lula mesmo já sofreu muito nas mãos deles.

É evidente que indica uma tendência, que pode não ser suficiente para dar a vitória Boulos. Enquanto isso, no desespero, Nules utiliza a máquina da prefeitura para recolher material nas ruas do candidato do presidente Lula. As denúncias, com fotos (como a abaixo), se sucedem.

Caminhão da prefeitura recolhe ilegalmente material de campanha do Boulos

O prefeito bolsonarento, que tem como vice um ex-comandante da Rota, respondendo por série de homicídios, procede da mesma maneira que a Polícia Rodoviária Federal da epoca do ex-presidente, que agiu ilegalmente nas eleições presidenciais barrando nas estradas eleitores de Lula.

São 11 dias que tudo pode acontecer. O eleitor de São Paulo ainda vai decidir o seu voto. Ele vai maturá-lo até o dia da eleição. Nules não os tem cristalizados. O primeiro turno foi um teste de uma conjugação que já era meio previsível. O atual prefeito bolsonarento contra o candidato do Lula. Até se divertiram votando inconsequentemente em Pablo Marçal. Agora é pra valer.

Boulos teve votos importantes nos bairros de classe média em São Paulo, incomuns para candidatos de esquerda. Ganhou também na chamada periferia funda da cidade. Mas se o discurso encaixar, pode retomar sim os redutos tradicionais onde o PT sempre foi bem, sobretudo nas zonas Sul e Leste, onde Guilherme não teve o desempenho esperado. Mas pode vir a ter.

Se empolgar as militâncias do PT e do PSOL, além das do PCdoB, PV e Rede, pode conquistar o voto popular e o vento virar.

Simão Zygband é jornalista, editor do site Construir Resistência e produtor de campanhas eleitorais, algumas vitoriosas

 

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