Por Simão Zygband
Enquanto todos os olhares se voltam para as atrocidades cometidas pelo governo “nazisionista” (ou de extrema direita) de Benjamin Netanyahu em Israel contra a população civil palestina, no Brasil vai se tornando “café pequeno” o processo de dispersão de moradores de rua realizado por governos também nazifascistas do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ambos da base de apoio do bolsonarismo.
Trata-se, evidentemente, de uma tragédia humanitária que nem de longe se compara a de Gaza, onde a matança é deliberada e não silenciosa.
Mas, o que está ocorrendo em São Paulo, na chamada Cracolândia, debaixo do nariz de todos os entusiastas do rompimento das relações diplomáticas do Brasil com Israel, também merece atenção. Mas todos se mantêm quase que indiferentes com o drama dos moradores de ruas.
As notícias sobre o esvaziamento das ruas centrais da Capital e a maneira pouco sutil de espalhamento de moradores em situação de ruas para municípios da Grande São Paulo e para outras cidades do Litoral e Interior não são nada alvissareiras e também tem passado dos limites aceitáveis.
Nada que incomode, é verdade, a classe média paulistana. Boa parte dela, inclusive, acha exemplar que “se limpe” o Centrão (com perdão da utilização do termo), de pessoas tão “desagradáveis”, que cometem abordagem de carros nos semáforos e também pequenos furtos.
Mas, afinal de contas, existe uma pergunta que não quer calar: onde foram parar os “indesejáveis” moradores de rua, contumazes usuários de drogas, que ficavam pedindo moedas nos faróis para comprar crack?
Isso parece não importar a ninguém, nem mesmo a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo ou a de Igualdade Racial, Anielle Franco, que deveriam estar mais empenhadas (se é que não estão, mas não aparenta) na resolução do grave problema humanitário.
Dispersão de moradores, mesmo sendo eles de rua, afeta diretamente a vida das pessoas, que estão sendo “convidadas gentilmente” a se retirar do centro de São Paulo.
Enquanto isso, o prefeito Ricardo Nunes e o seu vice, Mello Araújo (que foi comandante da Rota, um grupamento de combate da Polícia Militar) se ufanam de ter “limpado” a região central da cidade de tão indesejada frequência.
Concomitantemente ao sumiço dos chamados “nóias” do centro da Capital, as denúncias pululam sobre a invasão de hordas de moradores de rua nos municípios de Guarulhos, Jundiaí, São José dos Campos, Caçapava (estas duas no Vale do Paraíba) e até em Caraguatatuba e São Sebastião, no litoral norte.
Melhor esta dispersão, é verdade, do que a solução encontrada nos anos 60 no Rio de Janeiro (a terra de Tarcísio de Freitas) no governo de Carlos Lacerda.

Em sua gestão ocorreu operação “mata-mendigo”, a matança de moradores de rua que foram atirados amarrados no Rio Guandu e outros por agentes do Serviço de Repressão à Mendincância (SRM), órgão ligado à Secretaria de Segurança do Estado da Guanabara.
Era uma operação que não nasceu com a intenção de matar, mas apenas livrar as ruas do Rio de Janeiro da mendicância.
Mas acabou se transformando em ações de extermínio. O próprio Carlos Lacerda, que comandou a política de remoção de favelas para “limpar” a Zona Sul do Rio, declarou sua intenção de livrar das vias públicas a população em situação de rua na base da repressão.

Conta a história que os próprios agentes destacados para executar o plano decidiram que seria mais eficiente matar as pessoas detidas por “vadiagem” lançando-as, amarradas no Rio Guandu, historicamente usado por criminosos para ocultar os cadáveres de suas vítimas.
Entre outubro de 1962 e janeiro de 1963, cerca de 20 pessoas foram tiradas das ruas da Guanabara e lançadas em rios pelos agentes do SRM. Nove morreram.
Aquela matança só se tornou visível por que em uma das operações estava a pernambucana Ondilina Alves Japiassu, que havia sido campeã de natação na cidade onde nascera.
Jogada no Rio da Guarda, ela nadou até o outro lado e conseguiu fugir. Dias depois, denunciou a atrocidade que ficou conhecida como a “Operação Mata-Mendigos”.
É melhor que os ministérios de Direitos Humanos e de Igualdade Racial do governo Lula acompanhem mais de perto a dispersão dos moradores de rua.

Simão Zygband é jornalista veterano e editor do site Construir Resistência
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