Por Simão Zygband
Cresce no interior do PT paulistano a tese de que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) deveria sair candidato a prefeito nas eleições de 2024 pelo partido. Esta seria a solução que acomodaria resistências, já que a maioria da bancada de vereadores petista, segundo o jornal O Globo, já se posicionou contra essa aliança com o candidato psolista, que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente nacional do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann.
O que o jornal O Globo não disse é que dentro do PT cresce a tese de que o deputado federal mais votado nas últimas eleições no estado (com mais de 1 milhão de votos) deixe o PSOL, como fizeram tantos outros psolista, para entrar exatamente no partido do Lula. Isso acomodaria resistências e viabilizaria a construção de uma Frente de Esquerda na cidade, um pouco menos ampla do que a que elegeu o presidente Lula. Recentemente, o próprio Construir Resistência já formulava a tese de que Boulos deveria analisar com carinho (juntamente com Lula e Gleisi) a chance de se filiar ao PT, em matéria intitulada O impasse de Guilherme Boulos (https://ur1.app/GeWIE).
Senival Moura, líder da bancada do PT na Câmara Municipal paulistana, admite que Boulos “tem chance real de ser eleito pelo Psol”, mas acredita que ele teria mais chances caso se filiasse ao PT. O petista também defende que o diretório nacional abra discussões com as lideranças da capital e diz que quer cumprir o acordo firmado por Gleisi, mas “é preciso discutir”.
“Oferecer a vice, por exemplo, seria o mais justo. O PT é um partido grande, já governou a cidade por três oportunidades, fez os maiores projetos de inclusão social, o Bilhete Único foi em governo do PT, CEUs, corredores de ônibus. O PT sempre cumpriu acordos. nós queremos cumprir, mas queremos sugerir algo também que entendemos importante. Nos estamos procurando discutir ainda”, disse Moura.
A maioria do PT paulistano é controlado politicamente pela família Tatto (a qual Senival é vinculado), liderada pelo secretário nacional de Comunicação do partido, Jilmar, que também é crítico do apoio puro e simples da legenda a Boulos no PSOL. Ele, que por duas vezes foi secretário municipal dos Transportes (gestão Marta Suplicy e Fernando Haddad) e se elegeu deputado federal, já utilizou a mídia para defender que o partido tenha candidato próprio. Ele mesmo foi candidato a prefeito nas últimas eleições e sequer conseguiu ir ao segundo turno, obtendo uma das piores votações históricas da legenda em pleitos municipais.
“O PT ganhou cinco vezes a Presidência da República e três vezes na cidade de São Paulo, e tem que continuar sendo protagonista na cidade. Esse acordo foi feito sem uma discussão grande com o partido. Nada contra o Boulos. Se ele viesse para o PT, tranquilo, tudo bem. Mas o PT é muito grande, não podemos transformar São Paulo em uma nova Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre, onde o PT nunca tem candidato”, disse o parlamentar.
PSOL
Quem não tem gostado muito da ideia de Boulos mudar de partido são exatamente os integrantes do PSOL, que também não tem muita unidade interna. Há uma disputa marcante entre dois deputados federaIS do partido, o próprio Guilherme e Sâmia Bonfim.
Ela não queria, por exemplo, que seu partido integrasse o governo Lula. Ele, que participou ativamente da campanha e compôs a equipe transição de governo, sempre defendeu o apoio. Toda a bancada psolista, inclusive Boulos, votou contra o projeto de Arcabouço Fiscal apresentado ao Congresso pelo ministro da Economia, Fernando Haddad.
“Quem vai fazer oposição ao Lula é o bolsonarismo, e não estaremos ao lado deles. O momento do país é outro. Enfrentamos uma oposição raivosa. E não dá para brincar com isso”, disse o deputado.
“Eu defendo que o Psol integre a base de apoio ao Lula. O governo será de frente ampla, e nós temos que disputar internamente espaços para puxar a agenda do país para a esquerda”, defendeu Boulos.
Sâmia também criticou maneira como Boulos se transformou no candidato a presidência pelo PSOL nas eleições de 2018. “Com dirigentes passando o trator, perde Boulos e perde o PSOL. Mas é importante dizer com tranquilidade que a entrada do Boulos e sua candidatura (no PSOL) não inaugura o autoritarismo no partido. Infelizmente sua entrada é instrumentalizada por alguns dirigentes para impor um isolamento artificial de alguns setores do partido. Utilizam o carisma e a empolgação com a chapa Boulos-Guajajara para seguir a marcha do aparelhamento, burocracia e encastelamento em cargos”, criticou ela.
“O conteúdo político desse processo também gera saudável desconfiança. Boa parte da militância, por exemplo, ficou desconfortável com o vídeo de Lula dizendo que vai ao palanque do Boulos. Por que ele faria isso agora, se há poucos meses nos chamou de “partido frescurento”? Se sempre repudiou nosso partido e militância? Seu apoio (ou provocação) gera um sentimento de desconfiança de que a campanha do PSOL pode não vocalizar o acúmulo de anos de construção. Também gera debate as falas que Boulos faz como pré-candidato. Faltam pontos que correspondem ao DNA do programa do partido. Isso pode ser disputado, construído e lapidado, tenho certeza. Mas se está sendo construída sem contar com a militância do partido, a desconfiança é justa e totalmente cabível. Temos todos a avaliação de que é preciso superar a experiência lulista? De que traição aos trabalhadores é projeto e estratégia e não erros ou equívocos? De que o PSOL é um projeto de construção de alternativa política para o país? Sem o apreço pela democracia interna, sobram desconfianças e denúncias e perde-se a oportunidade de viver este novo momento em sua máxima potência”, escreveu a deputada em seu site.
Vamos aguardar o rumo dos acontecimentos.
Simão Zygband é jornalista profissional desde 1979. Trabalhou em TVs, rádios e jornais de São Paulo, onde foi respectivamente pauteiro, repórter e redator. Foi funcionário das TVs Bandeirantes, SBT, Gazeta, Record e dos jornais Notícias Populares, Diário Popular, Diário do Grande ABC , Diário do Comércio, entre outros. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (onde editou o Jornal Unidade) e redator do jornal Plataforma do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Também fez assessoria de comunicação em campanhas eleitorais e mandatos parlamentares. Trabalhou na Comunicação de Secretaria Municipal de Transporte de São Paulo. Foi diretor da Rádio e TV Educativa do Paraná e Secretário Municipal de Comunicação da prefeitura de Jacareí, São Paulo.
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