Osvaldo Aranha estava errado ao lutar pela criação de Israel?

Por Simão Zygband 

Antes que seja taxado de sionista como comumente tem sido usado o termo de maneira pejorativa, quero dizer que nunca fui um deles, nem sequer pisei ou tive vontade de pisar em Israel.

Preferi ir para Cuba em 1986 logo que se refizeram as relações diplomáticas entre os dois países. Era o estertor da ditadura militar e este foi um dos passos que os militares cederam.

Bem. Não me identificando como sionista e tampouco como “nazisionista”, gostaria de tecer meus humildes comentários sobre esta tragédia humanitária que se abateu sob Gaza.

Imagino que serei lacrado, mas o que isso importa? Vivemos tempos de verdades absolutas e cada um rosna a sua.

Sou defensor da existência do estado de Israel. Isso pode me tornar um “sionista”, daqueles que se enche a boca para apontar com dedo em riste.

E isso, muitas vezes. só pelo fato de defender que Israel exista, sou julgado como um traidor da causa Palestina.

Mas a história não é bem assim, não é somente maniqueista. Aliás, nada na vida é.

Os judeus são diversos como qualquer povo. Por sorte não pensam igual. Há judeus religiosos, conservadores,  progressistas, de esquerda,  sem opinião formada, Maria vai com as outras, etc.

Todo mundo pode ser o que quiser. Eu defendo esta tese. Inclusive sionista, se isso não implicar em matança de semelhantes. Tenho certeza que não é disso que se trata ou se propõe.

Não entendo por que deve ser revista a decisão da ONU em 1948, que teve apoio fundamental do jurista brasileiro Osvaldo Aranha.

Pelo seu empenho pela criação do estado de Israel foi indicado inclusive para o Prêmio Nobel da Paz.

Então, ficam as perguntas: Osvaldo Aranha estava tão equivocado assim? Israel não deveria ter sido criada mesmo após o Holocausto judeu? Não deveria ter sido concebida em território palestino?

Onde deveria se situar o estado judeu se não no local hoje definido, chancelado pela ONU e que possui restos do Palácio do rei judeu, Salomão, o sagrado Muro das Lamentações?

A mesma ONU que centenas de países procuram para denunciar que Israel promove um genocídio contra os palestinos, foi  também a responsável pela criação do estado judeu em 1948.

Ou seja, nada de do Rio ao Mar, frase dos intolerantes árabes, terroristas do Hamas, insuflados militar e politicamente por ditaduras como o Irã, o Catar e o Iêmen.

Enfim, se houve uma resolução da ONU, por qual motivo ela deve ser revista? Por que os intolerantes do Hamas não querem dois Estados, um judeu e outro palestino?

Vamos lutar sim pelos dois Estados. É melhor do que a matança indiscriminada de palestinos, ocasionada como revide com sangue nos olhos ao asqueroso atentado do dia 7 de outubro de 2023 realizado pelo Hamas em Israel.

Uma chacina, promovida por terroristas, que tiveram a audácia de visar apenas alvos civis, massacrando jovens inocentes em uma raive, ou famílias inteiras dentro de kibutz, geralmente defensores dos dois Estados.

Óbvio que o massacre de palestinos realizado por Benjamin Netanyahu é de fato um genocídio. Um revide desproporcional que só poderia ter sido levado adiante por um governo genocida. Estes extremistas pensam da mesma forma. Só morte e sangue.

Faz muito bem o presidente Lula de não se deixar tomar pelo radicalismo raso e romper relações diplomáticas com Israel. Não faz nenhum sentido.

Lula sabe da necessidade de Israel existir (assim como o estado palestino) e da importância de haver pátrias específicas para os dois povos.

Romper com Tel Aviv neste momento dificultaria ainda mais a costura pelos dois estados.

Tem que desincendiar os ânimos, tirando o sanguinário Benjamin Netanyahu e seus irmãos-siameses do Hamas do poder. São igualmente fétidos.

Osvaldo Aranha

É necessário e justo que os brasileiros lutem pelo estado palestino.  Mas que também honrem a memória de um brasileiro pacifista, que compreendia a questão do Oriente Médio.

Ele tem escrito seu nome pelo mundo. Uma das avenidas principais de Porto Alegre se chama Oswaldo Aranha e corta justamente o bairro do Bom Fim, reduto de expoentes da comunidade judaica na capital do Rio Grande do Sul.

Também há ruas com este nome em Tel-Aviv, Bersebá e Ramat Gan, em Israel. E uma Praça Oswaldo Aranha em Jerusalém.

As homenagens se justificam principalmente pela atuação do brasileiro para a aprovação da chamada Resolução 181, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou as bases para a criação do atual Estado de Israel.

Para especialistas, o político, diplomata e advogado brasileiro Oswaldo Euclides de Sousa Aranha (1894-1960) deve ser considerado um dos maiores nomes do país no âmbito das relações internacionais.

Em 1948, por conta dessa atuação, Aranha chegou a ser indicado para o Prêmio Nobel da Paz.

Legenda da foto: Oswaldo Aranha eu reunião com autoridades internacionais na ONU, em 1947

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