Lula deve promover uma faxina no governo

Por René Ruschel

Depois de tantas traições,  presidente pretende espanar cargos do Centrão

A paciência acabou e a vassoura saiu do armário. À frente da articulação política, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, anunciou o que chamou de “reorganização da base do governo”.

Em bom português significa que a faxina começou. Partidos do Centrão — PP, PSD, Republicanos e até o MDB — começaram a perder cargos, indicações e espaços no governo.

“Quem quiser estar no governo, deverá ser voto do governo no Congresso”, resumiu Gleisi, num recado claro aos que vivem pendurados nas benesses, mas votam contra o Planalto quando o gongo soa.

A derrota da MP do IOF/Bets escancarou que mais da metade dos votos contrários vieram justamente da base governista, partidos que têm ministérios e cargos no primeiro escalão.

O que vemos agora é uma tentativa de “reorganização” da casa antes que ela desabe. A justificativa é simples: quem trai o governo na hora H perde o assento no banquete.

Essa lógica de “voto fiel ou adeus palanque” parece querer substituir a velha barganha de cargos.

Mas há riscos. Uma faxina tão ampla pode gerar rupturas abruptas. Desgastar partidos aliados é caminhar sobre gelo fino. Além disso, cargos e ministérios é o cimento que segura coalizões.

Arrancá-los sem estrutura alternativa pode inviabilizar o próprio governo. É a metáfora do jardineiro que ao arrancar ervas daninhas acaba arrancando as flores junto. Necessário, mas arriscado.

Por fim, há um detalhe relevante. No Planalto corre solta a notícia que Lula deve incluir Guilherme Boulos na próxima reforma ministerial.

Essa indicação pode servir como um sinal de que o governo ainda busca salvaguardar seu núcleo petista e progressista, mesmo enquanto expurga seus traidores de ocasião.

Em resumo: Lula está desistindo de governar com base frouxa e decide empunhar a tesoura. Um gesto pedagógico de cortar para curar.

Mas o sucesso dependerá de ter coragem suficiente para não se exceder nos cortes e sabedoria para montar uma base coerente. Não apenas castigar, mas substituir.

Porque no presidencialismo não basta ter poder no Planalto. É fundamental sustentá-lo no Congresso. E o governo descobriu, com atraso grande, que nunca teve de fato essa sustentação.”

René Ruschel é jornalista

 

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