Vladimir Herzog, símbolo da luta pela democracia

Do Instituto Vladimir Herzog

Há 50 anos, em 25 de outubro de 1975, foi assassinado o jornalista e cineasta Vladimir Herzog. Vítima da ditadura, tornou-se uma figura fundamental para a construção da nossa democracia.

Sua vida e sua trajetória profissional, inspirações para o Instituto Vladimir Herzog (IVH), foram marcadas pela permanente preocupação com os direitos humanos.

CAMPANHA 50 ANOS POR VLADO

Com o marco desta data, listamos as ações previstas em decorrência dessa efeméride. Ainda trazemos um resgate histórico e os desdobramentos do Caso Herzog. Confira:

2025 – Ano Vladimir Herzog na ABI

Entre elas, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) instituiu o ano de 2025 como o ano Vladimir Herzog e exibirá um banner em seu site, além de produzir diversos conteúdos sobre a história de Vlado ao longo do ano.

2025 – Logo especial por Kiko Farkas

A pedido do Instituto Vladimir Herzog, uma logo, especialmente produzida para marcar os 50 anos do assassinato, foi desenhada pelo designer gráfico *Kiko Farkas.

 

 

Dentre as variações, a tipografia traz, na frase “50 anos por Vlado”, o rosto do patrono do IVH da maneira como buscamos relembrá-lo sempre: com o sorriso e o olhar que transparecem sua sensibilidade diante de um mundo com tanto ainda a ser transformado.

A logo será aplicada aos materiais desenvolvidos pelo Instituto para relembrarmos essas cinco décadas de resistência. O conteúdo gráfico, bem como a orientação de aplicação, estão disponíveis para qualquer organização, entidade ou pessoa que desejar utilizar em seus materiais, sites, plataformas, etc.

*Kiko Farkas é também autor da obra “Verdade”, uma arte que referencia a luta de Clarice Herzog em sua busca incessante por justiça para Vlado.

24 de outubro – 50 anos do assassinato de Vlado | RJ ABI

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) convoca a sociedade, jornalistas, estudantes e defensores dos direitos humanos para um grande ato em memória de Vladimir Herzog, o jornalista brutalmente assassinado há 50 anos pela ditadura militar brasileira. O evento faz parte do “Ano Vladimir Herzog”, instituído pela própria ABI, e conta com o apoio de importantes entidades como o Instituto Vladimir Herzog, o Grupo Tortura Nunca Mais, o Clube de Engenharia e o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro.

Serviço: 24 de outubro, sexta-feira, às 17h, na sede da ABI, localizada na Rua Araújo Porto Alegre 71, no Centro do Rio de Janeiro.

24 de outubro – TV Cultura produz documentário sobre Vladimir Herzog

A TV Cultura está produzindo um documentário inédito sobre Vladimir Herzog, jornalista assassinado pela ditadura militar em 1975. A obra irá abordar sua trajetória pessoal e profissional, seu legado na luta pela democracia e os impactos de sua morte para a história do Brasil.

Com depoimentos inéditos, imagens de arquivo e entrevistas com familiares, amigos e especialistas, o documentário pretende resgatar a memória de Herzog e refletir sobre os 50 anos do seu assassinato, completados em 2025.

Estreia: 24 de outubro na Cinemateca de SP e 25 de outubro na TV Cultura e plataformas digitais da emissora.

25 de outubro – Ato Inter-religioso 50 anos por Vlado

Em 2025, o Brasil lembra os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, brutalmente assassinado em 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI, em São Paulo. Para marcar a data, a Comissão Arns e o Instituto Vladimir Herzog realizam a recriação do ato ecumênico na Catedral da Sé, mesmo local em que ocorreu a histórica cerimônia de 1975, que desafiou o regime militar e se consolidou como divisor de águas na luta pela redemocratização do Brasil.

Naquele ano, mais de 8 mil pessoas se reuniram na Sé para a missa de sétimo dia em homenagem a Herzog. O gesto, conduzido por líderes religiosos como o cardeal D. Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright, com o apoio do jornalista Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de SP, tornou-se marco na resistência democrática.

Cinco décadas depois, o novo ato ecumênico será dedicado não apenas à memória de Herzog, mas também a todas as famílias que perderam entes queridos durante a ditadura.

A programação prevê acolhida a partir das 19h, com participação do Coro Luther King, seguida de manifestações interreligiosas, com a presença de Dom Odilo Pedro Scherer, da reverenda Anita Wright – filha de Jaime Wright, e do rabino.

Apresentações culturais com grandes nomes da música brasileira acontecerão no interior da catedral. Além disso, a exibição de vídeos especialmente produzidos para a ocasião estão previstos, entre eles, a leitura de uma carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, feita pela atriz Fernanda Montenegro.

Estarão presentes no evento ainda amigos e familiares de Vlado, parlamentares, ministros, figuras públicas e José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, representando as organizações realizadoras.

Serviço | Data: 25 de outubro de 2025 (sábado) | Horário: 19h | Local: Catedral da Sé – Praça da Sé, São Paulo – SP | Evento gratuito e aberto ao público.

25 de outubro – Caminhada por Vlado: jornalistas sairão do Auditório Vladimir Herzog até a Catedral da Sé para ato inter-religioso

No dia que marca os 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura militar, um ato inter-religioso na Catedral da Sé reunirá lideranças religiosas, familiares, autoridades e artistas para recriar o momento histórico de 1975.

Em 30 de outubro de 1975, milhares de pessoas se reuniram na Praça da Sé para o ato ecumênico em homenagem a Vladimir Herzog, jornalista assassinado por agentes do Exército no dia 25 daquele mês. A mobilização, organizada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) sob a liderança de Audálio Dantas, tornou-se um marco na história contemporânea brasileira: o primeiro grande protesto de massa contra a ditadura militar (1964–1985) após o AI-5.

Diretor de jornalismo da TV Cultura e professor da ECA-USP, Vlado foi detido, torturado e morto nas dependências do DOI-CODI. Cinquenta anos depois, a luta por memória, verdade e justiça continua viva.

No sábado, 25 de outubro, a partir das 19h, a Comissão Arns, o Instituto Vladimir Herzog, o SJSP e diversas entidades promovem a recriação do ato inter-religioso na Catedral da Sé, em homenagem a Herzog e a todas as vítimas da ditadura.

Para marcar presença coletiva, o SJSP convoca toda a categoria para uma concentração no Auditório Vladimir Herzog, a partir das 17h, de onde partirá a Caminhada por Vlado até a Catedral da Sé.

A memória dos que lutaram por um Brasil justo e livre permanece como farol diante das ameaças autoritárias que ainda rondam o país. Por Vlado e por todas as pessoas assassinadas pela ditadura militar, exigimos justiça para golpistas do passado e do presente.

O assassinato sob tortura de Vladimir Herzog no DOI-CODI é um crime imprescritível que ainda exige apuração e punição. Assim como em 1975, o SJSP reafirma seu compromisso com a verdade, a justiça e a democracia.

Caminhada por Vlado | Sábado, 25 de outubro, a partir das 17h | Auditório Vladimir Herzog – Rua Rego Freitas, 530, sobreloja, Vila Buarque | Caminhada até a Catedral da Sé, onde ocorrerá o ato inter-religioso.

26 de outubro – Calçadão do Reconhecimento será inaugurado na Praça Vladimir Herzog

No próximo dia 26 de outubro de 2025, a Praça Memorial Vladimir Herzog, em São Paulo, receberá a inauguração do Calçadão do Reconhecimento — uma intervenção permanente no espaço, com a instalação no piso dos nomes de todas as pessoas e coletivos vencedores do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais importantes do país.

A iniciativa reforça o compromisso com a valorização da imprensa e dos direitos humanos, conectando o espaço urbano à memória de lutas por justiça e democracia.

Serviço: evento programado | Data: 26 de outubro de 2025 | Local: Praça Memorial Vladimir Herzog – Centro, São Paulo – SP | Atividade: Inauguração do “Calçadão do Reconhecimento” com nomes dos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog.

27 de outubro – Livro “Dom Angélico – Um abraço de quebrar os ossos”

A biografia “Dom Angélico – Um abraço de quebrar os ossos”, escrita por Camilo Vannuchi, será lançada oficialmente em 30 de outubro de 2025, com distribuição em formato físico e digital. A obra já está disponível para pré-venda, com envios programados a partir da data de lançamento.

Com uma narrativa sensível e contundente, o livro traça um perfil de Dom Angélico, uma das figuras mais marcantes da igreja progressista brasileira, reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos humanos, da justiça social e da democracia, desde os anos da ditadura até os dias atuais.

Entre seus feitos, destaca-se sua participação no histórico ato de 1975 em homenagem a Vladimir Herzog, quando se posicionou publicamente contra a violência da ditadura militar. O título faz referência à intensidade de sua presença pastoral e à firmeza de suas convicções. Episódios emblemáticos são relembrados, como sua atuação após o assassinato de Manoel Fiel Filho no DOI-CODI (1976), sua resistência em protestos por segurança no transporte público, e sua participação em atos ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva em momentos decisivos da história recente.

A obra também traz depoimentos de nomes como Frei Betto, Padre Júlio Lancellotti, Dom Paulo Evaristo Arns, Ana Dias, Maria Victoria Benevides e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Serviço / Publicação | Título: Dom Angélico – Um abraço de quebrar os ossos | Autor: Camilo Vannuchi. Data de lançamento físico: 27/10, às 18h, no Tucarena – Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

28/10 a 1-/11 – 50 anos por Vladimir Herzog | Rio de Janeiro

Em memória dos 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NIEJ/UFRJ), em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, realiza o ciclo de debates “50 anos por Vladimir Herzog”, entre os dias 28 de outubro e 1º de novembro de 2025, na Associação Scholem Aleichem (ASA), em Botafogo, Rio de Janeiro.

O evento reúne jornalistas, historiadores, pesquisadores e lideranças religiosas em uma série de mesas-redondas dedicadas a refletir sobre o legado de Herzog e sua contribuição para a democracia brasileira.

A sessão de abertura acontece em 28 de outubro, às 20h, com participação de Michel Gherman (NIEJ/UFRJ) e Ivo Herzog (Instituto Vladimir Herzog), seguida da mesa “Herzog: um catalisador na luta pela democracia”, com Miriam Leitão, Luiz Carlos Azedo e Daniel Aarão Reis, sob mediação de Marcos Chor Maio (Fiocruz, JIpD-SP).

No dia 1º de novembro, o encontro prossegue com duas mesas: “Engajamentos políticos e resistência democrática” (16h às 18h), com Dulce Pandolfi, Maria Paula Nascimento Araujo e Esther Kuperman, mediação de Estela Scheiynar (UERJ); e “Vlado: judeu comunista, comunista judeu” (18h às 20h), com Rabino Alexandre Leone, Marcos Chor Maio, Beatriz Kushnir e Michel Gherman, mediação de Flavio Limoncic (UNIRIO).

As discussões retomam o papel simbólico de Vladimir Herzog como referência na luta contra a ditadura e pela liberdade de expressão, abordando também as dimensões políticas, éticas e religiosas de sua trajetória.

Serviço / Data: 28 de outubro e 1º de novembro de 2025 | Local: Associação Scholem Aleichem (ASA) | Endereço: Rua São Clemente, 155 – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ

Realização: ASA e NIEJ/UFRJ | Apoio: Instituto Vladimir Herzog, PPGHIS, CCMA e JIpD-SP

28 de outubro – Jornalismo e memória: 50 anos de luta por justiça para Vladimir Herzog

O Departamento de Comunicação Social da UFRN promoverá no dia 28 de outubro (quarta-feira), no auditório I do Labcom, às 19h, a mesa redonda intitulada “Jornalismo e memória: 50 anos de luta por justiça para Vladimir Herzog”. Com a realização da mesa, o Departamento de Comunicação da UFRN e seus grupos de pesquisa se associam à série de eventos promovidos no Brasil para assinalar os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo.

Está confirmada a participação do engenheiro Ivo Herzog, filho de Vladimir e Clarice Herzog. Ele é um dos fundadores do Instituto Vladimir Herzog, entidade sem fins lucrativos que tem como missão a defesa dos valores democráticos, dos direitos humanos e da liberdade de expressão. Ivo participará de sessão por videoconferência.

Confira mais informações no link: UFRN discute memória e justiça nos 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog

10 de novembro – 50 anos da morte de Vladimir Herzog: a Sentença que condenou a União

Em memória dos 50 anos da morte de Vladimir Herzog, a OAB São Paulo, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), o Instituto Vladimir Herzog e a Comissão Arns promovem o evento “50 anos da morte de Vladimir Herzog: a Sentença que condenou a União”, no próximo dia 10 de novembro de 2025, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo.

No dia 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog compareceu espontaneamente ao DOI-CODI de São Paulo, atendendo a uma convocação para prestar depoimento sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro. Foi detido sem ordem judicial, torturado e morto. Na tentativa de encobrir o crime, os militares falsificaram a causa da morte, alegando suicídio — versão que rapidamente foi desmentida pela sociedade civil e pela imprensa.

Em 1978, a Justiça brasileira reconheceu a responsabilidade do Estado: em uma sentença histórica, o juiz Márcio José de Moraes condenou a União pela prisão ilegal, tortura e morte de Herzog — marco jurídico e simbólico no processo de redemocratização do país.

Cinco décadas depois, o evento reunirá juristas, acadêmicos, familiares e defensores de direitos humanos para refletir sobre a importância histórica do caso, a justiça de transição e os desafios da democracia brasileira diante de ameaças autoritárias.

Serviço | Data: 10 de novembro de 2025 (segunda-feira) | Horário: 10h | Local: Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP | Endereço: Largo São Francisco, 95 – Centro, São Paulo – SP

Resgate histórico

Vlado: UM CATALISADOR DA LUTA

PELA REDEMOCRATIZAÇÃO

Vladimir Herzog, o Vlado, foi torturado e morto no antigo prédio do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) no bairro do Paraíso, em São Paulo. Então diretor de jornalismo da TV Cultura e responsável pelo telejornal “Hora da Notícia”, o jornalista foi procurado na noite do dia 24 de outubro em seu local de trabalho por dois agentes que pretendiam levá-lo para “prestar depoimento” sobre suas supostas ligações com o Partido Comunista Brasileiro. Após uma tensa negociação, Vlado se apresentou espontaneamente na manhã seguinte e não saiu com vida.

Herzog era judeu e o rabino Henry Sobel não seguiu a tradição reservada aos casos de suicídio no enterro do jornalista; e sim o rito completo, de forma tradicional. Essa atitude deixou ainda mais claro que a morte de Herzog não havia sido um suicídio, como diziam os laudos emitidos pelo DOI-CODI; mas sim um assassinato político.

O HISTÓRICO ATO ECUMÊNICO

Logo após a morte, um movimento se constituiu. No dia 27 de outubro de 1975, algumas horas após o enterro de Vlado no Cemitério Israelita do Butantã, o auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) reuniu jornalistas, artistas, parlamentares, estudantes e sindicalistas de diferentes categorias.

Desse encontro, foram aprovadas duas propostas: batizar o espaço onde acontecia a reunião em homenagem a Vlado e fazer o culto ecumênico em sua memória.

Realizada no dia 31 de outubro de 1975, a missa de 7º dia do jornalista contou com a presença de mais de 8 mil pessoas, que compareceram à Catedral da Sé. O ato ecumênico foi realizado graças a D. Paulo Evaristo Arns, o Rabino Henry Sobel, o reverendo Jaime Nelson Wright e Audálio Dantas, presidente do SJSP na época. Audálio foi peça chave na articulação do ato e denúncia do assassinato brutal de seu colega de profissão. O evento é considerado um marco na luta pela democracia e na derrocada do regime ditatorial.

MANIFESTO “EM NOME DA VERDADE”

Em 1976 o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo recebeu e encaminhou à 1ª Auditoria Militar de São Paulo, por ofício, o “Manifesto ‘Em nome da Verdade’”, um abaixo-assinado no qual os jornalistas apontam fatos não esclarecidos em relação às circunstâncias da morte de Vladimir Herzog.

A manifestação dos jornalistas foi entregue à Justiça com 467 assinaturas e, posteriormente, recebeu novas adesões em outras capitais, chegando a 1.004 nomes. As manifestações póstumas à morte de Vlado contribuíram para o enfraquecimento da ditadura e retomada da democracia.

Manifesto reuniu, inicialmente, 467 assinaturas, finalizando com 1004 adesões. Imagem: Reprodução jornal “O Estado de S. Paulo”.

Nos anos seguintes, houve muita luta e resistência para que a morte de Herzog fosse reconhecida como decorrência da sessão de tortura a que ele foi submetido. A verdadeira versão dos fatos só começou a ser devidamente comprovada, de maneira oficial, com a criação da Comissão Nacional da Verdade e, finalmente, com a retificação do atestado de óbito, em março de 2013, que, ao invés do suicídio, aponta como causas da morte do jornalista lesões e maus-tratos.

O CASO HERZOG

Em 1978, a Justiça brasileira, em sentença proferida pelo juiz Márcio José de Moraes, condenou a União pela prisão ilegal, tortura e morte de Vladimir Herzog. Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) publicou a condenação do Estado brasileiro pela falta de investigação, julgamento e punição aos responsáveis pela tortura e assassinato do jornalista. O tribunal internacional também considerou o Estado como responsável pela violação ao direito à verdade e à integridade pessoal, em prejuízo dos familiares de Herzog.

Vladimir Herzog em estúdio de rádio da BBC Londres. Imagem: Arquivo pessoal Ivo Herzog/Acervo Vladimir Herzog

A sentença determinou que os fatos ocorridos contra Vladimir Herzog devem ser considerados um crime de lesa-humanidade, conforme definido pelo direito internacional. Ao ser classificado como um crime contra a humanidade, a Corte concluiu que o Estado “não podia invocar nem a existência da figura da prescrição, nem a aplicação do princípio ‘ne bis in idem’*, da Lei de Anistia ou de qualquer outra disposição análoga, ou excludente similar de responsabilidade, para isentar-se de seu dever de investigar e punir os responsáveis”.

Por meio da sentença, a Corte ordenou ao Estado brasileiro que reiniciasse a investigação e o processo penal correspondente àqueles fatos, para identificar, processar e responsabilizar os autores da tortura e do assassinato de Herzog. Além disso, o Brasil deveria adotar as medidas mais idôneas conforme as suas instituições para que se reconheça o caráter imprescritível dos crimes contra a humanidade e crimes internacionais, assim como arcar com os danos materiais, imateriais e custas judiciais e advocatícias. A sentença foi publicada em 2023, mas ainda faltam cumprimentos por parte do Estado.

*Princípio que proíbe que uma pessoa seja processada, julgada e condenada mais de uma vez pela mesma conduta. Fonte: Jusbrasil.

RETIFICAÇÃO DA CERTIDÃO DE ÓBITO

O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça de São Paulo, determinou em 24 de setembro de 2012 a retificação do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog, para fazer constar que sua “morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”. A decisão atendeu a um expediente de iniciativa da Comissão Nacional da Verdade, criada para esclarecer as violações de direitos humanos no período da ditadura militar.

Em março de 2013 os familiares do jornalista receberam o novo atestado de óbito no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). No atestado anterior, a versão para o óbito era de “enforcamento por asfixia mecânica”.

A família do jornalista Vladimir Herzog recebe o novo atestado de óbito retificado. Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

15 ANOS DO IVH E O LEGADO DE VLADO

O Instituto Vladimir Herzog nasceu para promover a vida de Vladimir Herzog e defender os direitos humanos. Criado pela família Herzog e amigos em 2009, sob a inspiração da corajosa luta de Clarice Herzog, o IVH é parte de um esforço coletivo e tem como missão trabalhar pela defesa da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão.

Ao longo dos últimos 15 anos, o IVH tornou-se uma referência na sociedade civil, ampliando sua atuação graças ao trabalho de inúmeras pessoas comprometidas com a missão de manter viva a luta por mudanças sociais.

Em 2024, o IVH realizou a exposição “Sobre Nós”, em celebração aos 15 anos de atuação do Instituto. A mostra, que ocupou a Cinemateca Brasileira com um panorama histórico da resistência democrática por meio de documentos históricos e expressões culturais, contou a trajetória da luta por justiça e democracia no país, de 1964 aos dias atuais.

Convite para a exposição “Sobre Nós – 60 anos da resistência democrática no Brasil | 1964-2024 | 15 anos do Instituto Vladimir Herzog”, realizada em 2024.

A memória de Vlado também está viva em diversos espaços espalhados pelo Brasil, como ruas, praças, escolas e centros acadêmicos. E ainda através do Prêmio Vladimir Herzog, um dos mais tradicionais da imprensa, que desde 1979 reconhece e estimula jornalistas e artistas do traço a tratarem do tema da Anistia e dos Direitos Humanos.

CLARICE HERZOG, UMA HEROÍNA

Nascida Clarice Ribeiro Chaves, herdou de Vladimir o sobrenome Herzog. Conheceu Vlado quando cursava Ciências Sociais na USP. Nos primeiros anos da ditadura, casaram-se e juntos se exilaram em Londres, onde nasceram seus filhos Ivo e André Herzog.

Apesar da ditadura, a família retornou ao Brasil em 1968 com a esperança de que poderiam viver dias tranquilos em meio aos atos repressivos que ocorriam na época.

Após o assassinato de Vlado, Clarice iniciou sua luta por justiça e responsabilização judicial dos algozes de seu companheiro. Em 1978, ela denunciou e conseguiu o reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre a morte de Vlado, numa vitória considerada histórica por diversos especialistas do período.

Clarice Herzog é reconhecida como uma heroína, por sua determinação em buscar a responsabilização do Estado pela morte do marido, desde o primeiro momento após o assassinato. Em 1979, por corajosa decisão do juiz Márcio José de Morais em processo movido pela família Herzog, a Justiça brasileira condenou a União pelo assassinato de Vlado. E em 1996, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu oficialmente que Vlado fora assassinado.

DECISÃO HISTÓRICA EM FAVOR DE CLARICE

No início de 2025, após 50 anos de luta por justiça, a 2ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Distrito Federal deferiu reparação econômica em prestação mensal para Clarice Herzog pela perseguição política de Vladimir Herzog.

Após 50 anos de luta, Clarice Herzog recebeu reparação histórica em 2025. Imagem: Arquivo Pessoal Ivo Herzog/Acervo Vladimir Herzog.

A medida foi deferida no escopo da ação que busca a declaração de anistiado político post mortem de Vladimir Herzog, cumulada com pedido de reparação econômica em favor de Clarice, nos termos da Lei de Anistia.

Segundo os advogados Beatriz Cruz e Paulo Abrão, integrantes do escritório Cruz e Temperani Advogados Associados, autor da ação, ainda há um longo caminho até a decisão de mérito na ação do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1). Apesar disso, a concessão da medida liminar é um importante marco que garante o imediato pagamento da prestação mensal devida à viúva.

VLADO RECEBE ANISTIA APÓS 50 ANOS

Vlado foi anistiado pela Ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, por meio da Portaria nº 525, publicada dia 18 de março no Diário Oficial da União, junto à formalização pública da indenização de Clarice Herzog.

A Comissão de Anistia é o órgão responsável por analisar os requerimentos de perdão a quem foi perseguido pelo Estado durante a Ditadura Militar. Com a decisão, Vladimir Herzog foi oficialmente reconhecido como vítima do regime, 50 anos após seu assassinato.

A decisão coincide com a anistia de Clarice Herzog, em 2024 e a decisão judicial que determinou uma indenização em reconhecimento à perseguição política sofrida por seu marido.

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