Veja se colocou a serviço do golpe militar?

Por Simão Zygband

Espero que esteja enganado, mas a revista Veja desta semana presta um serviço pouco claro quando traz uma matéria nas páginas amarelas com o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), general Luis Carlos Gomes Mattos. É um militar bolsonarista que acredita que o presidente (sic) Jair Bolsonaro é um “democrata”. Ele também afirma que “não há hipótese de retrocesso institucional” e que “a oposição está esticando demais a corda”.
O repórter de Veja, Rafael Moraes Moura pergunta aquilo que mais se comenta a boca pequena pelos bares e nas ruas das cidades: “Fala-se muito em uma ameaça de retrocesso democrático. Esse risco existe?
Responde o veterano general, de 73 anos, com mais de 50 anos de Exército, tendo presenciado (no mínimo) o golpe militar de 1964: “De jeito nenhum. Muito pelo contrário”, responde ele. “O presidente Bolsonaro é um democrata, fala com o palavreado do povo, mas nada disso com a intenção de quebrar as estruturas, destruir as instituições, dar um golpe”.
A crise econômica brasileira, que ganhou graves contornos com o golpe na presidenta Dilma Rousseff, com a eleição do militar-miliciano Bolsonaro e, claro, com a trágica epidemia de Covid-19 tratada de maneira equivocada pelo desgoverno genocida, teve forte reflexo no mercado editorial.
Veja, fundada em 1968 em pleno regime militar, foi uma das poucas publicações que se mantiveram vivas na recente falência da editora Abril, sua “Publisher” As demais revistas da empresa foram descontinuadas (deixaram de existir). Não é segredo para ninguém o papel desagregador que o semanário da família Civita exerceu contra o governo Dilma e os ataques frequentes que realizou contra os governos do PT. Foram nada menos que 70 capas controversas (para se dizer o mínimo) contra o ex-presidente Lula. Sem dúvida alguma, seu Conselho Editorial e a direção da empresa estiveram ativamente a serviço do golpe.
Com tanta dificuldade financeira no atual momento político (os impressos enfrentam gravíssima crise, a ponto de ser descontinuada a concorrente, revista Época, da editora Globo), chama a atenção que exatamente a revista Veja utilize as páginas nobres da publicação, as Amarelas, para dar espaço de fala ao general Luis Carlos Gomes Mattos, um veterano de Exército, o presidente do STM.
Veja se propõe assim a ser a porta-voz de um suposto golpe militar? Quer ajudar a dar recados à sociedade de que a oposição “está esticando demais a corda”? A matéria em questão foi paga pelo governo federal, envolvendo recursos públicos? A quem eles servem, ao pretender amedrontar, exatamente no final de semana em que as forças de oposição realizaram grandes manifestações de rua, em plena pandemia, por não tolerarem mais tanto descalabro do desgoverno genocida, que entre tantas proezas, negligenciou com a morte de meio milhão de brasileiros?.
Todo cuidado com este novo quadro político deve ser tomado. Mas as oposições não devem recuar ante a fala de um general alimentado com recursos públicos, tal qual milhares de seus pares, contratados a preço de ouro para prestar serviço no (des) governo Bolsonaro.
Veja deve tentar novamente voltar a ser plural, como fez em plena ditadura militar e não se colocar a serviço de um golpe de estado.

Algumas capas de Veja contra o ex-presidente Lula

 

 

Resposta de 0

  1. Excelente texto!!!
    Boa comemoração das 150.000 visualizações, quando o leio…

    Uma honra participar da Revista.
    Sucesso!!!

    Caminhemos às 300.000

    Abs.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *