Construir Resistência
Fantasminha da copa

Vai ter Copa, de novo

Por Walter Falceta

 

Primeiramente, os trezistas erraram. Teve Copa em 2014. Tirando o time dos 7 a 1, foi bem-sucedida e gerou recursos para o Brasil. O investimento teve o devido retorno financeiro.

Então, para vocês, eu digo: vintecentaveiro, vá se catar! Ha ha ha…

Agora, com relação a esta copa de 2022 esperava-se uma grita global que não veio. O Catar não tem tradição no futebol. Nem mesmo é um polo turístico e cultural. É basicamente uma planície coberta de areia com a metade do tamanho de Sergipe.

Tem 2,8 milhões de habitantes, menos do que Salvador. Mas os cataris mesmo são cerca de 313 mil, mais ou menos o equivalente aos habitantes do distrito da Casa Verde, na região norte de Sampa.

Não é lá um lugar com muita história. Lá atrás, era um seco reduto de adestramento de cavalos e camelos. Depois, começou a produzir e comercializar pérolas.

É governado pela casa de Al Thani desde 1825. Eles se mantiveram no poder durante a dominação otomana, de 1871 a 1916, e depois, no período do protetorado britânico, até 1971.

O manda-chuva Tami Bin recebeu o poder do papis, Hamad Bin, que governou de 1995 a 2013. Detalhe: esse cara chegou ao poder com um golpe de estado contra o próprio pai, Khalifa Bin, que estava no comando desde 1972. Hamad tem três mulheres, duas delas suas primas, e 24 filhos.

O Catar não é muito bonzinho. Implica com homossexuais e limita a liberdade das mulheres. Em 2008, quando começaram a estruturar a candidatura à Copa, tinham a mais alta emissão per capita de dióxido de carbono. E também uma das maiores taxas de consumo de água por habitante: 400 litros por dia.

Esse país, que tem a segunda maior renda per capita do mundo, e que não cobra impostos de seus cidadãos, apoiou os Estados Unidos na Guerra do Golfo de 1991.

Depois que ganhou o direito de sediar o torneio, começou a investir pesada e apressadamente em obras de infra-estrutura, principalmente com mão de obra da Índia, Bangladesh, Paquistão e Nepal.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a OIT, somente em 2020 morreram 50 trabalhadores em obras da copa. Outros 500 sofreram ferimentos graves.

Checando os registros dos países que exportam mão de obra para o Catar, o jornal The Guardian chegou à conclusão de que 6,5 mil trabalhadores morreram no Catar desde 2010.

Muitos por quedas, acidentes de trânsito e desmoronamento de estruturas de suporte. O ambiente é insalubre e outros tantos morreram de doenças do coração ou do pulmão.

Entre junho e julho, a temperatura chega a 40 graus e nunca baixa dos 30 graus. Por isso, aliás, a competição será realizada em novembro e dezembro.

Segundo a Anistia Internacional, parte considerável dos trabalhadores vive em condições análogas às da escravidão.

Acredita-se que o país gastou 3,8 bilhões de dólares para ganhar o direito de sediar a copa, parte considerável em propinas.

Blatter admitiu, em 2015, que a escolha do país foi um erro. E botou a culpa no nefando Platini. Segundo o ex-presidente da FIFA, quem fez a cabeça do ex-jogador foi o ex-presidente francês Sarkozy. As falas de Blatter sugerem que o ex-mandatário também embolsou algum para realizar o trabalho.

Aliás, foi essa escolha malandra que deixou os malandros norte-americanos muito ressentidos. Aí, botaram o FBI para esculhambar com toda a cartolada da FIFA.

Males que vêm para bem. Sem essa desfeita, o canalha fraudador e lavador de dinheiro José Maria Marin nunca teria sido preso. As investigações, aliás, comprovaram que até parte da mídia foi subornada.

De bom nessa copa, o simpático mascote La’ebb, mistura de Gasparzinho com arraia, e a ótima animação sobre o mundo paralelo dos incentivadores da invenção. Na festa, nota 10 para o figurino de Idris Elba.

No sorteio dos potes, o Brasil se saiu muito bem. Passará facilmente à segunda fase. E poderemos torcer com a camisa amarela, tranquilamente, resgatando o uniforme canarinho. Afinal, em dezembro, o Bozo já terá sido derrotado e Lula estará esperando sua terceira posse em Brasília.

O grupo de Espanha e Alemanha é complicado. Assim como aquele de Portugal e Uruguai. A aposta dos comentaristas da Globo não é descabida. Pode dar Brasil e Inglaterra na final.

A Rússia está proibida e cancelada, mas como tenho bom ouvido, percebi que, na entrada da artista egípcia, tocaram um trechinho de Sherazade, de Rimsky-Korsacov. Se foi subversão, eu adorei.

Walter Falceta é jornalista e um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)

 

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