Por Sergio Papi
Heróis que morrem anônimos, para os quais não há exéquias, morrem sós. Há algum tempo surgiu uma notícia no jornal: corpo encontrado em canteiro de obra no Paraíso. Há sim, fantasmas insepultos, gente morta sob o chão dessa cidade. Ainda vagam em nossa precária memória os desaparecidos, aqueles de quem não mais se pode saber, aqueles que não citamos nem mesmo o nome, perdidos para sempre. E como falar de certo homem, se há quem duvida que existiu, se há quem não acredite que morreu? Ele desapareceu, é um fantasma, melhor mantê-lo assim, oculto.
Sei muita coisa de ouvir falar, – uma enfermeira das Clínicas o teria visto nos corredores da morte, já li muitos depoimentos, conheci uma pessoa que o conhecera desde a infância. Mas, é preciso se ater aos fatos. Dou uma busca no Google. Nada! Sumiram mais uma vez com aquele que alguém me disse, era a figura mais parecida com Cristo que ela tinha conhecido. Mas, Cristo ressuscitou. Ele não era afinal nenhum Messias trazendo a grande mensagem, era apenas um homem de fé. Tem nome citado nos relatórios da Comissão da Verdade, mas nada além disso. Nas biografias de companheiros de sua organização, algumas pinceladas, testemunhos de sua entrega religiosa à causa e, claro, algumas críticas ao seu adquirido sectarismo, diante dos titubeios dos cordões que desfilavam na avenida.
As investigações sobre o caso do corpo encontrado nas escavações da fundação de um novo condomínio, localização privilegiada, área social composta por living com piso de pinho, sala de jantar e cozinha, ficaram a cargo da delegacia da região, por acaso aquela da Rua Tutóia. E nunca mais saiu notícia, não se sabe em que pé estão as investigações. Morreu outra vez e assim será, a morte anônima de um bravo guerreiro que sonhou um país justo.