Uma menina

Por Virgilio Almansur

DILMA resistiu estoicamente. Sofreu muito! Pense numa menina aos 23 anos. Pense em suas filhas chegando a essa idade e submetida à barbárie!

Pense no algoz, naquele assassino homenageado em 17/04/16 por ninguém menos que um vagabundo de estribeira, do baixíssimo clero, aclamado como mito, nada mais que um palmito…

Pense em suas meninas, em suas namoradinhas… Pense numa sobrinha; pense numa neta. Pense tão somente na garota que você amou ou ama.

Pense na filha do vizinho que você viu nascer, na prima distante que você vê nos albuns de família. Pense na gata da praia que você olha até ela desaparecer e voltar deixando-o atônito pela curvilínea expressão de um corpo a atrair os deuses da beleza enquanto você boquiaberto perde o senso da razão e exprime aquele “meu deusxxx!!!”

Pense! Pense em todas as meninas… Pense na menina frentista balouçando seus seios enquanto limpa seu vidro dianteiro. Pense! Pense ainda nessa menina que você imagina pura, desinibida, galhofeira, alegre, festiva e colega, colega de sua filha ou sobrinha, sobrinha de sua melhor amiga, neta de seu grande companheiro…

Pense!!! Não deixe de pensar na mais incrível emoção em ver uma menina desabrochando para a vida, conquistando a universidade, fazendo seus estágios, começando a trabalhar e contando novas a cada dia de suas conquistas. Pense na aventura que essa menina terá pela frente, nas histórias que comporá e nas promessas que cumprirá ou não…

Pense na menina… Pense agora que essa menina terá o Estado contra ela; ela que imaginou resistir em entregar esse mesmo Estado à mãos criminosas, estúpidos plantonistas que se sentem ainda hoje donos desse pedaço alviverde.

Pense nessa menina sendo surrada, espancada, chutada e seviciada. É a sua filha, lembra? Sua sobrinha! Sua vizinha que você viu nascer. A netinha de sua melhor amiga… Sua namoradinha desde os 14 e que agora conta com 23 anos e o presidente de seu país, a tal pátria amada, quer lhe dar algumas lições.

Pense na sua menina sendo açoitada; pense agora que essa menina resiste, pouco chora mesmo apanhando. Pense! Pense na sua capacidade de resistir, mesmo solitária, numa solitária, sendo coberta por fezes e urina.

Pense agora, que o terror, aclamado e venerado, será parte das brincadeiras de um monstro representante das chamadas forças armadas; um herói!

Aquele coronel venerado pelo inominável e seu vice burlesco, homenageado como um herói brilhante; um ustra… Este convidará expectadores, voyeurs quase profissionais para um espetáculo que irá se repetir por dias, meses e anos…

Pense na menina exposta, amarrada pelos pés num batente… Pense agora naquela gata de outrora rindo mas sob abuso, acuada, tendo suas partes íntimas exploradas por um cacetete emborrachado.

Pense! Tapas e mais tapas nas orelhas… Sim! Você ouviu e viu… Tapas e mordidas… Mordidas de um, dois, três… A satisfação é garantida. E há quem pague, vindo correndo de uma das avenidas mais famosas do Brasil varonil…

O coronel é banbanban… Laureado como herói do inglório exército cumprirá com o que seu aluno esperou com muita certeza ao tê-lo invocado.

Pense na menina sendo penetrada inúmeras vezes; primeiro frontalmente promovendo dor e depois sob aviso de empalamento e o sangue jorrando pelas costas com muito mais dor.

Pense naquela garota. Pense na menina graciosa sob espancamento, com as pernas abertas e sua intimidade não só exposta mas quase dilacerada.

Pense! Observe que há eletrodos em seus grandes lábios já arroxeados quase necrosados. Sim!!! É isso mesmo! Você está vendo um coronel do exército brasileiro praticando seu esporte preferido: subjugar aquela menina de suas lembranças para que ela confesse o inconfessável ou o já sabido.

Um dia ele confessará: “…Era preciso! Era necessário!”.

Pense então que a sua namoradinha de antanho agora não reagirá mais com naturalidade. Ela requererá uma atenção especial por muito tempo, eis que mutilada na carne e no espírito. A sua menina está com escoriações. Um caminhão a atropelou. As maçãs do rosto estão esmagadas e a mandíbula não mais se encaixa…

Pense na garotinha que você gerou, viu nascer, cuidou, criou, ensinou e agora balança num pau-de-arara e recebe palmadas. Está como um franguinho pronto pra ser assado.

Pense naquelas lindas mãos que o afagava. Já estão sem unhas, extraídas com um alicate. O coronel, o terror da menina, ainda usa um alfinete: aplica-o sob o que resta da faixa ungueal para prender a carne exposta. A menina grita e recebe um safanão.

Aquela menina novinha está irreconhecível, quase cadavérica. Pense na gata que você babava quando via… Pense!

Pense nessa menina levando choques e mais choques e depois jogada às jaulas fétidas com companheiras já trucidadas.

Continue pensando! Você, nós, lamentavelmente, contribuímos para o escarnecimento, para que essa gentalha voltasse. Foram se insinuando, deram pitacos irresponsáveis, ousaram desafiar a própria instituição, vestiram-se de maçons ilibados e contribuíram para um massacre durante dois anos pandêmicos. Ficamos calados!

Nós sabíamos quem eram!!! O “terror de Dilma” foi bem recebido, não foi repudiado; todo congresso admitiu… Nenhuma sanção, nenhuma representação, nada de ética… Fomos e continuamos covardes!

 

Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.

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