Todo mundo queria ser o Lula

Por Simão Zygband

É inegável a capacidade do presidente Lula em ter algum tipo de premonição. Foi dele a frase profética proferida durante a sua oitiva pelo então juiz de primeira instância, o desleal Sérgio Moro: “Doutor. Hoje sou eu que estou sendo massacrado. Amanhã será o senhor”. Não deu outra. Ele sabia para que lado o mundo gira. É um ser político em sua essência. Óbvio que todos estão sujeitos ao erro.

Todo político visionário como é o Lula tem que ter a visão do futuro. E apostar nela. Não ter medo de ser feliz. O presidente eleito em condições muito adversas do que as de seu adversário, saiu fortalecido das urnas, apesar da diferença estreita de votos. E se considera livre para agir da melhor maneira que lhe convier, evidentemente após ouvir todos aqueles que o cercam, conhecendo-lhes suas opiniões. Mas as decisões só cabem a ele, única e exclusivamente.

O Brasil tem um péssimo hábito adquirido com o futebol. Todos acreditam que poderiam ser o técnico do time e que a sua é a fórmula mágica para torná-lo vencedor. Um campeão. Transfere-se isso com muita naturalidade para a política. Todo mundo quer ser o Lula sem ser ele, sem ter a rodagem, o feeling dele.

A imprensa, sobretudo, aquela mesma que propagou o golpe de Estado contra Dilma Rousseff e o PT, que jogou o país no colo do fascista Jair Bolsonaro, que fez vistas grossas muitas vezes aos seus desmandos e aos verdadeiros crimes que cometeu, arvora-se no direito de decidir e querer interferir nas decisões que Lula toma ou irá tomar.

E não é somente a imprensa, mas também muitos daqueles que entenderam a importância de votar no ex-presidente para derrotar o fascismo. Convenhamos que não foi tarefa fácil e a costura política de construir a Frente Ampla devemos creditar inteiramente ao líder petista.

Agora vejo verborragias por todas as partes, inclusive de aliados, que novamente compram o fast food da imprensa golpista no que se refere à opção de política externa, de aproximar o país do bloco China/Rússia, como se assim Lula estivesse rifando os parceiros históricos norte-americanos, apoiando a invasão de Wladimir Putin à Ucrânia e deixando o pobrezinho do Volodymyr Zelensky ao relento. Haja viúvas do nazista ucraniano. O choro se multiplica por todos os lados, jogando lenha na já intensa fogueira bolsonarista.

Mas tem também aqueles que querem dar pitaco na indicação do advogado Cristiano Zanin, homem de estrita confiança do Lula para ser ministro do Supremo Tribunal Federal (melhor seria que fosse uma mulher preta, clamam os identitários), que não fosse tão identificado com o presidente (vociferam os puristas), enfim, mil ponderações que só cabem exclusivamente ao governante maior, chefe inclusive das Forças Armadas.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Também se sentem no direito de julgar a primeira dama, Rosângela da Silva, a Janja, por interferir nas decisões do marido (isso sim é uma grandíssima novidade na vida de qualquer casal), por estar bem ou mal vestida, por gastar com compras de móveis para repor os surrupiados no Palácio da Alvorada. “Mas eu votei nele e não nela”, dizem os críticos e, sobretudo, as críticas.

Como todo brasileiro que se julga credenciado a tomar as mais difíceis decisões do país, mesmo estando sentado confortavelmente na poltrona de sua sala diante do televisor, na verdade, todos queriam ser o Lula sem ter a história, o acúmulo e a trajetória dele.

Que tal iniciar a caminhada vitoriosa se filiando a um sindicato?

 

 

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