Por Haroldo Ceravolo
O que está ocorrendo, ainda, nas estradas brasileiras é uma tentativa descabelada de golpe de Estado. Já deu errado, já fracassou, mas nem por isso deixa de ser o que é: uma tentativa de golpe de Estado.
No seu brevíssimo pronunciamento, Bolsonaro não reconheceu a derrota. Seu discurso é de quem não sabe perder. Mas, ao mesmo tempo, aceita que perdeu e faz cara feia, numa encenação para sua plateia e seus robôs digitais e de carne e osso.
A toalha foi jogada, mas Bolsonaro não topou aquela cena típica do boxe em que o juiz pega nos braços dos dois combatentes e levanta a mão do vencedor. Se houver chance, ele volta ao ringue para provocar mais alguma balbúrdia. Seu destino, no entanto, já está selado.
Para a esquerda, Bolsonaro abriu uma avenida. A punição dos crimes do governo atual pode começar não com a Comissão da Verdade da Pandemia, mais do que necessária, mas por algo muito concreto e urgente: a punição dos policiais rodoviários envolvidos na tentativa de impedir eleitores de votar no domingo e dos agentes da PRF que facilitaram, para não dizer organizaram, o locaute de hoje.
Lula tem todos os trunfos na mão para, até antes de levantar o sigilo de 100 anos de Bolsonaro, exonerar a bem do serviço público todos os servidores envolvidos nos dois episódios. Além disto, Lula pode dar cabo da instituição policial mais aparelhada pelo bolsonarismo nos últimos e determinar o fim da PRF, transferindo suas atribuições para as polícias rodoviárias estaduais (quando não existirem ou forem insuficientes, para as polícias civis ou militares dos Estados). Ele vai fazer isso? Provavelmente, não, mas a chance está dada.
Essa medida tenderia a ser apoiada não só por eleitores de Lula, mas também pelos de Bolsonaro prejudicados por bloqueios nos últimos dias. De quebra, fica mais fácil apurar o caso do assassinato de Genivaldo de Jesus Santos numa câmara de gás improvisada por agentes da PRF em maio de 2022, em Sergipe – episódio mais do que simbólico do desejo de nazificação do Brasil pela polícia de Bolsonaro.
Tais medidas seriam entendidas como o primeiro passo de desfasticização do país.
Haroldo Ceravolo é jornalista, editor e Publisher de livros