Por Etienne Biasotto
Após um difícil período pandêmico, as instituições de ensino superior retornaram às atividades presenciais. Na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), retornamos presencialmente em fevereiro de 2022 e pretendemos intensificar ainda mais nossas atividades em 2023, na esperança de cumprirmos com o importante papel dessa instituição no desenvolvimento da Educação Superior Pública de nossa região, contribuindo com a redução das desigualdades, com a inclusão social, enfim, contribuindo com a construção de um processo civilizatório que traga o desenvolvimento sustentável para a nossa sociedade.
Além das dificuldades impostas pela pandemia, a UFGD sofreu, por 1107 dias, um período de intervenção que corroeu o clima organizacional dessa importante instituição do nosso Estado e pactuou com o apequenamento do ensino público federal a partir da redução orçamentária do recurso discricionário destinado à UFGD.
Os recursos disponibilizados para as Universidades têm sido reduzidos drasticamente e, na contramão dessas reduções, têm-se significativos aumentos nos contratos imprescindíveis para o funcionamento de nossa instituição.
As Universidades Públicas Federais têm vivenciado uma sequência de cortes orçamentários desde 2021. Foram 18,5% a menos em recursos para custear as despesas dessas instituições.
Em 2019, ano que antecedeu a pandemia, o limite liberado no PLOA para o custeio da UFGD foi de R$ 30.067.907,00. Em 2022, o valor disponibilizado foi de R$ 24.621.877,00.
Apenas para demonstrar as dificuldades que temos enfrentado durante esse período, se atualizarmos o valor do orçamento liberado em 2019 pela variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no período até janeiro de 2022, que foi de 20,63%, teríamos um valor de R$ 36.272.237,61.
Em julho de 2022, fomos surpreendidos com a liberação da proposta orçamentária para 2023, na qual o recurso disponível para custeio é de R$ 23.211.529,00. Valor menor do que o já insuficiente recurso disponibilizado em 2022 e que inviabilizará as manutenções preventivas e corretivas em equipamentos, instalações, não permitirá que façamos aquisição de equipamentos, softwares e materiais importantes para práticas laboratoriais, não possibilitará a ampliação de programas de assistência estudantil, muito menos o reajuste no valor das bolsas para garantir o mesmo poder de compra aos nossos bolsistas, fará com que os veículos oficiais fiquem ociosos sem a devida manutenção, entre outras dificuldades que enfrentaremos.
Não satisfeitos com o sucateamento imposto às Instituições Federais de Ensino Superior, hoje, dia 05 de outubro de 2022, apenas 3 dias após as eleições presidenciais, o governo federal realizou o bloqueio de mais 399 mil reais da UFGD. Com o orçamento extremamente limitado e com despesas que não estavam previstas, como a taxa municipal de lixo, que atingiu o valor de 195 mil reais, a UFGD encontra-se em situação extremamente vulnerável.
As Universidades são guardiãs do conhecimento, são plurais e, pela importância da UFGD para o cone sul do estado, nós resistiremos.
Etienne Biasotto é mestre e doutor em Sistemas Elétricos de Potência, especialista em Gestão de Hospitais Públicos, Reitor Eleito da UFGD em 2019 e, atualmente, Pró-Reitor de Avaliação Institucional e Planejamento.