Por Luiz Hespanha
A escolha de integrantes de Comissões Parlamentares, as permanentes e as CPIs, são momentos inesquecíveis no Legislativo, principalmente quando não rola acordo. Sobra disputa, manipulação, rasteira e vaidade, não necessariamente nessa ordem.
O quebra pau começa na definição entre os integrantes do mesmo partido, quem vai para que comissão, se o partido tem votos para garantir a presidência ou a vice. E aí vem o segundo round, a negociação entre partidos aliados e adversários. É um verdadeiro banquete de sapos. Engole menos quem pode mais, mas sempre sobra um cururu ou um girino para alguém.
Nas CPIs as mais cobiçadas são aquelas que podem desgastar, ou defenestrar, quem está no poder, independente da gravidade ou leviandade das acusações. Nas comissões permanentes os objetos do desejo são as Comissões de Constituição e Justiça e Finanças e Orçamento.
São o filé do Legislativo. Tudo que pode ser aprovado, rejeitado, negociado, passa por elas. Tudo que é de interesse público, não muito público ou secreto mesmo, passa, obrigatoriamente pelas Comissões de Constituição e Justiça e de Finanças e Orçamento. Essas Comissões são filtros e torneiras, a depender do ponto de vista, do compromisso público, político-partidário e/ou pessoal do parlamentar ou lobby que representa.
E lá estava a jovem repórter cobrir a formação da Comissão de Educação. Que político, independente do matiz ideológico, tem coragem de dizer que não defende a Educação ou que a Comissão de Educação não é importante? Todos, sem exceção, têm um arsenal de platitudes sobre tudo e, nesse tudo, a Educação e a Saúde merecem sempre o maiores vazios argumentatórios como diria Odorico.
Finda a encenação das indicações, ela foi entrevistar o parlamentar que acabava de ser eleito pelos nobres pares para presidir a Comissão de Educação. “Podemos gravar, vereador, perguntou já com microfone e câmera ligados. Tentando valorizar aquele “grande momento do Legislativo”, a repórter emendou tres perguntas que não passavam de uma só: “O Sr. acaba de ser eleito presidente da Comissão de Educação, qual será sua linha de trabalho, o Sr. já tem alguma proposta de pauta para a próxima reunião, qual será o foco de sua atuação?
Incomodado com o tamanho do cururu que o fizeram engolir, o nobre edil de primeiro mandato não conteve o sincericídio: “Não sei porque me elegeram presidente da Comissão de Educação, não era o que eu queria, queria mesmo era a Comissão de Constituição e Justiça ou a de Finanças e Orçamento, mas foi o que sobrou pra mim”.
Resumo legislatório (olha o Odorico de novo): para muitos parlamentares a Educação é mero item de campanha, não programa permanente de mandato, ou seja: é resto, sempre sobra.
Luiz Hespanha é jornalista
Arte: Marone (fotografada no Museu Aberto de Arte Urbana/Carandiru/SP)