Por Simão Zygband
Legenda da foto: Imagem da péssima conservação de livro raro de Monteiro Lobato
Depois da negligência do governo federal com a Cinemateca Brasileira, a sociedade civil decidiu ficar um pouco mais atenta com questões que envolvem o patrimônio histórico e a sua história e pretende fazer um ato simbólico na Biblioteca Monteiro Lobato, na Vila Buarque, em São Paulo.
Na segunda-feira (23), a partir das 10 horas, quando será reaberta ao público, a biblioteca, depois de mantida fechada por longo período por causa da pandemia de Covid-19, terá a presença de grupos que lutarão pela sua preservação. Ela foi criada por Mario de Andrade, nos anos 1930
O movimento é encabeçado por um grupo denominado Amigos da Lobato, que reúne intelectuais, artistas, professores, bibliotecários, entre outros. Ele pretende realizar um ato para chamar atenção do perigo que corre o acervo de Monteiro Lobato existente naquele prédio. Também foi realizada nesta quinta-feira (20), como parte do movimento, uma audiência pública sobre a questão organizada pelo vereador Toninho Véspoli (PSOL).
Recentemente circulou a informação de que a prefeitura, sob o comando do empresário Ricardo Nunes, do MDB, pretendia extinguir a Seção de Bibliografia e Documentação da biblioteca, que possui um riquíssimo acervo, patrimônio da cidade e do país, que documenta a história da Cultura Infantil Letrada.
Diante da repercussão do caso, não houve alternativa senão a prefeitura recuar de decisão polêmica, pois esta sessão é exatamente aquela cujos funcionários preservam minimamente o acervo de Monteiro Lobato. Eles seriam transferidos para outro local da municipalidade.
Ricardo Nunes recebeu em audiência, no dia 17, a bisneta de Monteiro Lobato, Cléo. Junto a eles participou a vereadora Janaina Lima, do partido Novo, uma parlamentar que fazia parte como líder e porta-voz do movimento “Vem pra Rua” que, entre outras proezas, ajudou a eleger o presidente Jair Bolsonaro, de quem agora faz questão de se distanciar.
O prefeito, que sequer convidou o secretário de Cultura Alexandre Youssef para a audiência (apesar das bibliotecas e equipamentos culturais estarem sob sua responsabilidade), se comprometeu a preservar o acervo, apesar desta informação sequer estar disponível na assessoria de imprensa da Prefeitura. Não há informações oficiais sobre o encontro.
A única nota divulgada pela Prefeitura era que a extinção da Seção de Bibliografia e Documentação da biblioteca Monteiro Lobato era um “fake news” ou uma notícia fantasiosa. O problema é que uma ata da reunião que decidiu pelo encerramento dos trabalhos no setor vazou para as redes sociais e não somente constava a transferência dos funcionários, como também a sua “extinção”.
Para piorar a situação, para amedrontar os funcionários da biblioteca Monteiro Lobato, a prefeitura, ao invés de vir a público explicar de que forma conseguiria recursos para preservar o acervo de Monteiro Lobato, que está em condições precárias, utilizou o jornal conservador O Estado de São Paulo para promover uma caça às bruxas. Com o título: “ Prefeitura vai investigar origem de informação sobre fim da sessão da biblioteca Monteiro Lobato”, a matéria diz que “A secretaria Municipal de Cultura de São Paulo instaurou procedimento legal interno para apurar como surgiu a informação de que a seção Bibliografia e Documentação da Biblioteca Monteiro Lobato seria extinta”.
O prefeito Ricardo Nunes, que herdou o cargo com o falecimento do anterior, Bruno Covas, foi indicado vice pelo vereador Milton Leite, de seu partido, com o consentimento do governador João Doria (PSDB). O temor é que, além de negligenciar o acervo, patrimônio histórico da infância brasileira, também se privatize a biblioteca ou mesmo se ponha à venda o terreno valioso onde ela está situada, no bairro central da Vila Buarque, em São Paulo.
A luta pela biblioteca é de todos nós.