Muita gente conheceu somente agora a magnífica obra humanista de Bruno Pereira, um homem apaixonado pelas plantas, pelos bichos e pelos povos da floresta. Pena que tenha sido uma apresentação póstuma.
Ainda assim, esse homem perseguido pelo ministério de Sergio Moro nos deixa uma legado fabuloso de coragem, competência e candura no desempenho de suas funções.
No início da semana, surgiu no Youtube um vídeo em que Bruno aparece sentado no chão da floresta molhada, enquanto entoa Wahanararai, um cântico Kanamari, típico do ritual do Ayahuasca. Os indígenas, que não aparecem na imagem, fazem as vozes do coral.
Trata-se da linda história de uma mamãe arara que chama seus filhotinhos para a entrada do ninho. É hora da refeição e ela vai alimentá-los.
É, pois, uma narrativa poderosa do amor materno, de relações parentais saudáveis e da dinâmica de cooperação que marca os povos ancestrais. É educação com amorosidade, para a gente lembrar Paulo Freire.
A canção faz parte de um CD chamado Nawa Waik – Musicalidade Kanamari, lançado em 2013, por ocasião do V Festival Cultural Kanamari. O encarte do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) oferece um detalhado painel de tradições e textos sobre as manifestações artísticas da etnia.
Dias depois da divulgação do vídeo original, o cantor e compositor André Abujamra resolveu produzir um remix da obra e utilizá-la como fundo para um vídeo sobre Bruno Pereira, o jornalista Dom Phillips e os desafios dos povos originários da região do Javari.
Ficou supimpa. Eu chorei. André escreveu o seguinte a respeito:
– Eu não costumo ficar profundamente triste. Quem me conhece sabe que sou muito otimista e raramente faço a tristeza me dominar, mas hoje eu quebrei a espinha ! Geralmente eu faço música como uma oração! Quando vi o vídeo do Bruno, chorei muito e daí fiz esse remix! Meu amigo e irmão Mauro Renui fez o vídeo! Força e amor.
O trabalho é comovente. Mostra o ataque brutal de garimpeiros, madeireiros e barões do agronegócio a um dos últimos paraísos do planeta. A flauta, o tambor e as cordas inspiradas compõem a atmosfera desse hino nacional nascido na mais remota ancestralidade.
O vídeo exibe também imagens de outros heróis, como o companheiro Chico Mendes e a sempre amável irmã Dorothy Stang.
Há muita recordação, muito sofrimento e também a voz de incentivo de alguém que jamais fugiu da luta por um mundo mais justo e melhor.
Você vê e ouve aqui abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=rTmpvw-fPT0
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