Por Claudio Viola
Me dei ao trabalho de assistir a uma entrevista de Ciro Gomes num canal do YouTube. O Ciro foi Ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco (aquele vice do Collor que virou presidente) e depois foi Ministro da Integração Nacional no governo de Lula. Ciro fez parte do governo do homem que hoje ele chama de ladrão. Sem provas materiais, é claro! Ciro foi acolhido num governo petista que seguiu a cartilha nacional-desenvolvimentista que tanto defende.
Ouvi o Ciro falar sobre economia brasileira e sobre o desastre do NEOLIBERALISMO no segundo mandato de FHC e de sua ressurreição em 2016 com Temer. Atacou ferozmente a doutrina NEOLIBERAL e ao mesmo tempo disse que os mandatos de Lula/Dilma foram equivocados economicamente, mesmo que tivessem colocado o Brasil como sexta economia mundial, tirado o país do Mapa Mundial da Fome, quitado a nossa dívida histórica com o FMI, transformado 37 bilhões de dólares de reservas cambiais ao final do governo FHC (2002) em mais de 370 bilhões de dólares no segundo mandato de Dilma e reduzido o desemprego para o recorde histórico de 4,3% no final de 2014.
Não entendo o que Ciro condena quando critica os governos de Lula e de Dilma, a qual chamou de “um aborto”, que injetaram dinheiro na tecnologia nacional, criaram universidades públicas, desenvolveram a pesquisa, proporcionaram inclusão social e propiciaram o desenvolvimento econômico do país em patamares nunca antes vistos.
Não sei qual seria o projeto nacional-desenvolvimentista de Ciro Gomes. O que sei é que ele chamou Fernando Haddad de “poste”, que ele abandonou o país e refugiou-se em Paris enquanto fascistas-milicianos chegavam ao poder no segundo turno da eleição presidencial de 2018 e que sua atitude ratificou os mais de 42 milhões de votos nulos, em branco e abstenções. Ciro, o coronel falastrão, fugiu da trincheira que tentou defender a frágil democracia nacional naquele ano trágico. Falou com toda a convicção que Lula merecia estar preso. Hoje o próprio STF desqualificou a prisão de Lula e colocou seu juiz-carrasco sob suspeição.
E aí Ciro Gomes? Perante a JUSTIÇA as provas contra Lula vão se desintegrando uma a uma. Estou aqui santificando Lula? Longe disso minha gente. Só quero justiça real, com as mãos limpas e com PROVAS MATERIAIS. Então o coronel Ciro Gomes, rico, poderoso, ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará, de tradicional família de Sobral (CE), gestado politicamente no Partido Democrático Social (PDS, a antiga ARENA), que transitou por outros partidos tais como: PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e que finalmente desembarcou no PDT em 2015, é hoje o homem que sobe nos palanques com dignos representantes da direita nacional, da fina flor do NEOLIBERALISMO e que busca a construção da “terceira via”, o caminho desejado, em desespero, pelos que viram o projeto Bolsonaro (que apoiaram) fracassar e que temem a vitória de Lula.
Não mitifico Lula, não sou filiado ao PT, acho que o Partido dos Trabalhadores cometeu equívocos em seus mandatos e não consigo ver qualquer manifestação angelical na política tupiniquim. Isso não invalida que eu reconheça Lula como Estadista, como o presidente que fez os melhores governos em nosso país, entre 2003 e 2010, nos últimos 521 anos (com inclusão econômica e social) e que só um povo imbecilizado é capaz de refutar os avanços conquistados entre 2003 e 2015 para abraçar um projeto presidencial de um idiota que jogou o país numa crise política, econômica e social sem precedentes.
Ciro Gomes é um oportunista que tenta descolar da figura do coronel arrogante e travestir-se de POVO. Quer pegar um barco para o Planalto apostando numa terceira via que não vai se consagrar. Ciro Gomes assassinou sua credibilidade política quando virou as costas para a democracia que corria riscos brutais naquele distante outubro de 2018. Cuspir na cara do Lula, ofender a Dilma e desqualificar a importância de Haddad é típico de um político cujo discurso mal se sustenta numa mistura mal cheirosa de populismo forçado, de contradições no seu projeto econômico e na falta de coerência política/ideológica em sua extensa folha de filiações políticas-partidárias.
Claudio Viola é jornalista e economista.
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