Construir Resistência
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Sobre esquerda e direita

Por Roberto Sander

Ouço muita gente por aí criticando a polarização ideológica que vemos hoje no Brasil como se fosse algo produzido pela intolerância de ambos os lados. Não há maneira de pensar esse fenômeno de forma mais retrógrada.

O grande Ariano Suassuna já nos ensinava, só pra deixar a coisa bem mastigadinha, que “quem, na sua visão social, coloca a ênfase na justiça é de esquerda” e aquele que “a coloca no lucro e na eficácia é de direita”. Por mais que queiram dizer que não existe mais esses dois pólos, será como fugir da realidade não reconhecer que essa dicotomia está aí mais forte do que nunca. Pois nesse momento em que a direita avança a galope, como não se colocar de forma bem clara à esquerda e até de forma radical?

O próprio Suassuna, quando o chamavam de radical, dizia algo assim: “A coisa é tão pro lado de lá que tenho que ser radical pra pelo menos tentar equilibrar um pouco o jogo”. Digo o mesmo: como não ser radicalmente de esquerda numa país injusto como o Brasil? Talvez se vivesse na Dinamarca, Japão ou Canadá, fosse de centro. Mas no Brasil, onde campeia o capitalismo mais descaradamente predatório, onde as condições mínimas de uma vida digna ainda não estão ao alcance da maior parte da população, onde educação e saúde ainda ficam em segundo plano nas prioridades dos governos, como cruzar os braços achando que pela meritocracia tudo se resolverá? É óbvio que nesse quadro haverá polarização.

E ela existe, vamos ser claros, não por intolerância de quem é de esquerda, pois esses, como um dia foi Suassuna, apenas resistem a essa onda que quebra na direção de um buraco social cada vez maior.

 

Roberto Sander é jornalista, editor e escritor.

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