Por Ana Clara Ribeiro
Há sete meses, toda segunda e terça-feira eu caminho uns 25 minutos pra UNIFESP pra acompanhar os ambulatórios para o meu Mestrado. No caminho, uma árvore. Há seis meses e três semanas, eu passando por essa árvore, me deparei com um casulo de borboleta ou mariposa, não sei exatamente qual. É um casulo gigante (prá mim, menina da cidade), uns 15 cm de altura e uns 3-4 cm de largura.
Toda vez que eu passava por esse casulo, umas sete e pouco da manhã, quando a cidade está ainda em câmera lenta, pessoas sonolentas com conversas baixas com seus acompanhantes e os carros ainda em pouca quantidade, eu dava uma parada e ficava olhando o tal casulo. Ele SEMPRE estava se mexendo, mesmo com pouco vento, adorava!
Passo pela mesma árvore na volta do caminho, olho o casulo, mas aí já é meio-dia. Tem muita luz, calor, som, carro, movimento, conversa e a reflexão tá meio em modo operacional, nunca da mesma forma que foi feita pela manhã,
Pensei várias vezes em tirar foto do casulo, mas fiquei me reprimindo, “essa mania de postar nas redes sociais” e nunca tirei. Mas também queria que o casulo fosse só meu. Como se fosse um segredo que só eu percebia na rua.
Os meses foram passando e nada do casulo abrir. Observar os ritmos da natureza sempre acalmam minha mente. Numa cidade tão caótica como São Paulo, eu aprendi a me prender em pequenos detalhes da natureza, como as minhas próprias plantinhas, meus gatos. Eu tenho aprendido que por mais concreto que eu esteja rodeada, tem SEMPRE um pouquinho de natureza comigo, é só olhar pro céu.
E, em resumo: semana passada passei pela árvore e PAH: o casulo não estava mais lá, nem no chão. será que alguém levou pra casa? (eu mesmo já pensei em levar pra ser só meu, mas consegui tirar esse impulso egoísta das minhas ações). Será que o casulo abriu? Nunca saberei. Senti-me traída pelo casulo e percebi depois o absurdo que era e o quanto que a gente se apega às coisas.
Seguirei tranquila pela rua toda segunda e terça, mesmo o caminho agora não sendo o mesmo. Quem sabe eu acho outro segredo pra preencher minha cabeça nas jornadas matinais?
Ana Clara Ribeiro é médica formada pela #Unicamp, com residência em Clínica Médica e Reumatologia pelo #IAMSPE São Paulo e mestranda em osteoporose pela #Unifesp.
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A vida parece ser mais interessante nos detalhes.
Viva a vida.