Por Simão Zygband
Em fevereiro do ano passado, uma semana depois do Carnaval e uma antes do confinamento pelo coronavírus, lancei meu primeiro livro, o “Queimadas na Amazônia – uma aventura na selva”, que conta uma história pessoal que vivi quando tinha entre 17 e 18 anos , depois de ter realizado uma caminhada de mais de 66 quilômetros na floresta, sem o menor preparo (a não ser físico) para a empreitada.Decidi contar esta história que me marcou muito, relatando toda a viagem que fiz, saindo da estação da Luz, em São Paulo, até retornar a ela mesma quase um mês depois, durante as férias escolares, passando pelo Pantanal e me dirigindo à Bolívia e ao Peru. A aventura aconteceu na selva amazônica peruana, mas não foi só nela.
Quando já havia escrito grande parte do livro, o mundo já começava a se deparar com a política irresponsável do governo brasileiro, cujo mandatário, um ex-militar reformado, apologista da tortura e que se orgulha de dizer que é contra os Direitos Humanos, inclusive com elogios ao coronel do Exército e ex-chefe do centro de tortura, o Doi-Codi, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Este fascínio pela ditadura trouxe consequências trágicas para o país em geral e para a Amazônia e o Pantanal em particular.Não bastasse tamanho desequilíbrio de elogiar a tortura, passível inclusive de pena de reclusão (uma vez que ela e a apologia dela são crimes hediondos e inafiançáveis), o Brasil também foi afetado diretamente pela pandemia ocasionada pelo Covid-19. Já são mais de 250 mil brasileiros que perderam a vida.Se tivesse vivido estes dois ano do desgoverno, com certeza teria escrito sobre o estado de calamidade que se abateu sobre o país, e não somente na questão amazônica. Ela é fruto de uma decisão insana de 57 milhões de eleitores brasileiros que apostaram no caos. E o obtiveram.Há quase dois anos o Brasil passou a viver literalmente um filme de terror. Ele é assistido, como se fosse uma anestesia geral, quase que bovina, de forma passiva, por uma sociedade que assiste atônita a destruição de tudo que se vê pela frente.
Não está sobrando pedra sobre pedra.Não é necessários relacionar tudo o que está se transformando em cinzas em nosso país: são incêndios fora de controle na Amazônia e Pantanal, nas instituições democráticas, nos direitos trabalhistas e previdenciários, no descaso com milhares de famílias enlutadas pela pandemia , no desemprego galopante de mais de 14 milhões de trabalhadores e no descontrole da economia, onde os salários sofrem com uma corrosão histórica e o dólar atinge patamares nunca “dantes navegado” , beirando os R$ 6,00.
Política deliberada
Se olharmos exclusivamente às queimadas na Amazônia e no Pantanal, trata-se de uma política deliberada do governo de ocupação das florestas e invasão das reservas indígenas, para ampliação da área de pastagens e para o cultivo de soja. Também há grande interesse das mineradoras, muitas delas estrangeiras, de olho em minérios como a bauxita e o nióbio. A ação também envolve os madeireiros, exploradores da madeira nobre da Amazônia. Depois de apoiarem financeiramente a campanha do atual presidente, estes grupos apresentaram a conta. Até meados de 2019, o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, registrou nada menos do que 72 mil focos de incêndio na floresta. O número é 82% maior do que o mesmo período do ano anterior, quando foram registrados pouco mais de 39 mil focos.
Os números mostram que na década de 1970, a Amazônia havia perdido apenas 1% de seu território com o desmatamento e hoje esta cifra já atinge a casa dos 30%. É resultado de uma sucessão de governos que se omitiu para impedir um tipo de negócio na região com características predatórias, que visa o lucro rápido, sem nenhuma sustentabilidade ou planejamento econômico, mas extremamente cruel com o meio ambiente. Mas acelerou como nunca no atual governo.
É preciso dar um basta nisso tudo. O Construir Resistência estará na linha de frente do enfrentamento do fascismo.