Por Beatriz Herkenhoff
Construiindo uma ciranda do bem viver…
Com frequência pergunto se seremos os mesmos após a #pandemia da #Covid-19. Por que volto a essa questão? Porque estamos vivendo um dos momentos mais difíceis da nossa existência.
Ou ficamos paralisados na mesmice, na tristeza, na indiferença e na lamentação ou damos um salto qualitativo que fará a diferença. Nesse instante converso comigo mesma, reproduzo minhas vozes interiores que estão o tempo todo me inquirindo sobre que legado deixo em minha passagem por esse mundo.
Não sou nada sozinha. Por isso convido você a entrar na roda e dialogar comigo. Abrir novos caminhos de luz.
Vamos tecer uma colcha de retalhos em que os quadrados terão diferentes cores e belezas. Pedaços de panos que juntos expressam nossa potência, singularidade, maturidade, história de vida, dores, perdas, conquistas e superações.
Nesse contexto tão desafiador, precisamos acrescentar, somar e caminhar de mãos dadas. Algumas indagações podem contribuir no processo de construção desse mosaico, tais como:
Seremos tocados pela dor e pelo sofrimento do outro ou manteremos nossa trajetória egocêntrica e onipotente? Alimentaremos nossos sentimentos de imortalidade ou seremos invadidos por uma consciência de nossos limites e finitudes?
Permaneceremos fechados no mundo virtual ou desfrutaremos mais da presença do outro? Vamos arregaçar as mangas para reconstruir o Brasil ou prosseguiremos acomodados?
Seremos mais abertos para gestos de solidariedade, respeito, diálogo, igualdade e justiça ou não? O que está bom? O que é possível mudar?
Que rupturas são necessárias? O que (quem) agregar? O que reciclar?
Que despedidas (desapegos) fazer para sermos mais plenos e possibilitar um mundo mais justo? Que esperanças resgatar?
Que vivências possibilitam o desabrochar da nossa essência e que podem liberar o amor, a compaixão, a ternura, o perdão e a gratidão para a convivência com o outro? Como estabelecer uma relação entre as mudanças estruturais que desejamos (o sonho de uma sociedade mais justa e igualitária) e as transformações internas necessárias para que nossas atitudes individuais reflitam no coletivo?
As grandes mudanças implicam movimentos de massa, mas, começam também pelo meu eu. Cada vez mais percebo que pequenos gestos e ações, fazem toda diferença ao serem multiplicadas! A relação dialética entre as mudanças externas e internas é fundamental para a coerência entre aquilo que sonhamos e a forma como vivemos.
Somos extremamente contraditórios.
Quantos lutam contra a violência em relação às mulheres, mas, humilham e desqualificam a esposa dentro da sua própria casa. Defendem valores éticos, o respeito, a justiça, mas, não conseguem ter posturas coerentes.
No momento de tomar uma decisão ignoram os interesses coletivos em favor dos particulares. Acabam tendo atitudes preconceituosas em relação a outras etnias, aos negros, às mulheres, aos LGBTQIA+, entre outros.
Essas superações precisam ser pensadas e repensadas na relação comigo mesma, com o outro, com o universo e com outras culturas. Como vou contribuir com uma sociedade justa e igualitária se não paro e vivo essas questões no meu dia a dia?
Somos desafiados a tecer um cotidiano com mais cuidado e delicadeza. Estar mais atentos à mente perversa, que muitas vezes, nos inunda com pensamentos negativos ou de desânimo.
Ter tempo de qualidade para o outro e para nós mesmos. Criar formas coletivas para enfrentar as sequelas deixadas pelo isolamento, principalmente com políticas públicas direcionadas para as crianças, os jovens e os idosos.
Desligar-nos de pessoas tóxicas; aproximar-nos daquelas que renovam nossa energia, que nos dão alegria, prazer e fortalecem nossas crenças de que um novo mundo é possível. Construir uma ciranda do bem viver, engajar-nos em ações e manifestações que apoiam a ciência, a democracia, a educação, a saúde pública e o Estado de direito.
Não nos omitir em questões que são fundamentais para o futuro da humanidade e do Brasil. Buscar o equilíbrio interior é um grande desafio diante de tantas atrocidades.
Temos que tomar cuidado para o caos do mundo não se instalar no nosso ser. Ao mesmo tempo não podemos ser coniventes com a barbárie que quer tomar conta do mundo e do Brasil. Não podemos naturalizar a violência, o preconceito, a morte e o caos.
Quero fechar esse momento de reflexão com a música de #IvanLins: “Desesperar Jamais”. Que ela nos renove e fortaleça na busca por mudanças.
Que possamos nos transformar. Melhorar o nosso planeta.
“Desesperar, jamais
Aprendemos muito nestes anos
Afinal de contas, não tem cabimento
Entregar o jogo no primeiro tempo
Nada de correr da raia
Nada de morrer na praia
Nada, nada, nada de esquecer
No balanço de perdas e danos
Já tivemos muitos desenganos
Já tivemos muito que chorar
Mas agora acho que chegou a hora
De fazer valer o dito popular:
Desesperar, jamais.”
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Beatriz, querida, que reflexão maravilhosa!
Você me tocou profundamente. A sua maneira sábia de colocar as palavras me levam a refletir e a conversar com o meu interior.
Você está deixando um legado muito bonito, você é uma luz que ilumina quem está ao seu lado. Mas você vai além: chama cada um de nós a caminhar, a refletir sobre a nossa coerência, a seguir o caminho que está trilhando. Que bonita a sua reflexão sobre a mudança que cada um pode fazer. Sermos a mudança que queremos ver!
Que orgulho sinto de você! Agradeço a Deus por te conhecer desde sempre. É um privilégio!
Querido Zezé fiquei muito emocionada com seu feedback. Achei forte a sua interpretação de sermos a mudança que queremos ver. Esse é o grande desafio. Buscar a coerência para fazermos a diferença. Formarmos uma ciranda de construção de um mundo melhor, gratidão
A impressão que eu tenho é que essa pandemia veio para revelar não apenas a nossa fragilidade mas também a nossa indiferença, o nosso comodismo, o nosso egoísmo. O relato bíblico da queda do homem no Éden é interessante, porque o texto diz que o casal estava nu mas só perceberam quando tomaram um choque de realidade, antes se sentiam confortáveis, donos da situação, foi necessário algo acontecer para que os seus olhos se abrissem e enxergassem a realidade.
Eu me vejo assim. OS MEUS OLHOS ESTÃO SE ABRINDO.