Por Virgílio Almansur
Há uma guerra semiótica correndo solta. Aproveito o Houaiss para caracterizar esse “homem que tem preocupação exagerada com a aparência pessoal”, cujo “exagero” desserve nas mal traçadas linhas trazendo uma aparência ilusória àquilo que conquistamos nos inúmeros períodos dos últimos 60 anos.
Alguém já disse que em momentos pacíficos não é simples distinguir a propaganda, quase sempre ideológica, do jornalismo. Quê dirá em momentos de conflitos, guerras etc.? No entanto, é nesse instante, de conflagração, que o maniqueísmo se torna evidente.
No encalço dessas matérias que nos aparecem pela via da palavra falada e escrita, percebemos algo diverso que espreita o bom senso e onde subjaz um texto híbrido. E esse hibridismo entre jornalismo e propaganda fere mortalmente a notícia e sua isenção.
Wag the Dog, Mera Coincidência, de 1997, traz o presidente americano envolvido em um escândalo sexual às vésperas das eleições. A conselheira do sujeito da Casa Branca recruta um especialista em situações de crise. Ele irá fabricar uma guerra na Albânia. Exatamente com o fito de desviar a atenção do “escândalo”.
Estava lá um verdadeiro pseudoevento, carregado aqui, redundantemente, eis que uma comédia e humor negro entremeados numa sátira política. A melodramaticidade de uma garotinha com seu gatinho carrega o que virá, posteriormente, como “breaking news”.
Vi inúmeros breaking news na semana passada. Notícia isenta nenhuma! Narrativas manipulam você cognitivamente! O sentimento do certo e/ou errado ocupa um lugar de destaque e sempre jorra aquele discursinho de padreco — tanto faz num enterro como na eleição de papa…
O perigo que nos espreita tem enorme radioatividade: são bombas semióticas lançadas por vetores de mídia que nos impedem uma compreensão dilatada daquilo que vemos e ouvimos. Elementos subliminares são absorvidos e a influência imagética perdura mais além da notícia que se dissolve em imagens carregadas de drama…
Trabalho árduo de pesquisa e que tem se valido de muitos autores, está a tentativa de elencar exemplos que possam ajudar na compreensão desses fenômenos. Os processos não verbais imperam e deixam uma marca: uma espécie de traço que só será desvendado tardiamente. Engatinhamos…
Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor
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Adorável seu texto Semântica Dândi! Parabéns!