Do Jornal do Papi
Sergio Papi é deslocado com falta, mas juiz não marca.
Atiraram no que não viram e acertaram em quem não tem nada a ver com o peixe
Que maçada! Alegando a necessidade de reformas e consertos em geral, instâncias estratosféricas, ora instáveis, resolveram, sem mais aquela, exonerar do alto cargo que exercia, com mãos suadas, o nosso querido editor.
Depois de anos servindo à coisa seus de pastéis frios, sem prerrogativas, notas frias, negociatas ou negaceios, nosso homem de serviços vários volta a enxergar, olho no olho, o olho da rua, com a vista já cansada de vê-lo e, ás pressas, deixa folha corrida em mais uma gaveta vazia, onde sempre esquece sobras de seu sóbrio estilo.
Desocupado e despreocupado, o estoico servidor jamais fez hoje o que era para amanhã, seguindo arraigada crença, herdada de seus antepassados ameríndios, o “pode ser que não precise”, transmitida de geração a geração, nos últimos quinhentos anos.
Durante o tempo em que se dedicou à causa, procurou, nosso homem de visões e vislumbres, descortinar melhor porvir para si e outros, incorporando espíritos (de corpo!) e noções básicas de varejo.
Agora, deita luzes sobre as românicas colunas dos cadernos de emprego, ele que possui artifícios suficientes para se meter em próximas enrascadas, com a ajuda dos amigos.
Quebradas ilusões e sigilos bancários, nosso editor chefe pode, à noite no hotel, contemplando no espelho a diáfana face que Tupã lhe emprestou, dizer, com orgulho cívico, típico dos nobres fidalgos: “ainda não foi desta vez que me dei bem”.
Aquecido pelo sol de inverno do Anhangabaú, nosso editor mantêm-se frio, lendo nas nuvens e nas bancas de jornal o desfecho dos acontecimentos, enquanto aguarda chamados do além para servir em outras repartições.
“É dando de ombros, que se recebe as más notícias” é outro preceito pertinente ao momento, extraído do código de condutas que guia o nosso estimado (em reais) editor e que o ajuda a encarar meio de lado as contas a pagar.
Sérgio Papi é escritor, arte finalista, web-design, ilustrador
Arte do próprio