Compartilhado do QUARENTENA NEWS
Por Luiz Eduardo Rezende
Há anos a polícia do Rio tem a gravação, agora divulgada pela “Folha de S. Paulo”, na qual a irmã do miliciano Adriano Nóbrega afirma que alguém do Palácio do Planalto ofereceu um cargo no governo federal para quem matasse o ex-PM, que era chefe do Escritório do Crime e sabia demais sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco.
Não se tem notícia de qualquer investigação para descobrir quem, na sede do governo federal, onde funciona o Gabinete do ódio, fez essa promessa. Com certeza é alguém com muito poder, capaz de garantir a nomeação do assassino para algum cargo público. Se a Polícia Civil do Rio não tinha competência para investigar figurões de Brasília, que passasse a tarefa para a Polícia Federal.
Não há mais dúvida que o presidente Bolsonaro e seus filhos têm ligações com milicianos. Um deles, Roni Lessa, autor dos disparos que mataram Marielle e está preso, era vizinho do presidente no condomínio Vivendas da Barra. Adriano Nóbrega também era ex-PM e miliciano, companheiro de Roni Lessa no Escritório do crime.
Muito estranho que essa investigação não tenha prosperado. A irmã de Adriano faz uma acusação clara, direta. A polícia tinha tudo para descobrir quem mandou matar o miliciano e, por consequência, o mandante do assassinato de Marielle. Mas preferiu passar ao largo do Palácio do Planalto e da família Bolsonaro.
Assim, à pergunta que ecoa nos quatro cantos do Brasil sobre quem matou Marielle Franco, se junta uma outra que as autoridades precisam responder.
Quem matou Adriano Nobrega?
MUITA CARA DE PAU
O advogado Frederick Wassef e o ex-PM Fabrício Queiroz tem, entre eles, ligações muito estreitas. Ambos prestam serviços à família Bolsonaro, os dois respondem a processos na Justiça. Foi na casa de Wassef que Queiroz se escondeu quando procurado pela polícia por participação no esquema de rachadinhas nos gabinetes do presidente, quando era deputado federal, e do senador Flávio, na Assembleia Legislativa do Rio.
Sabem muito bem que, enquanto Bolsonaro for presidente, nada acontecerá com eles. Os processos não vão andar e não há risco de decretarem prisão preventiva para nenhum dos dois. Mas, e no ano que vem, se Bolsonaro perder a eleição e Lula estiver dando as cartas? Aí o mundo cairá sobre eles e não haverá mais a proteção do Palácio do Planalto.
Então a solução encontrada foi se candidatarem a deputado federal para serem acobertados pela imunidade parlamentar. Acham que o bolsonarismo de raiz tem um número de adeptos capaz de elegê-los. E escolheram São Paulo para se candidatarem. Se esquecem que tem muito mais gente contando com esses votos, como a deputada Carla Zambelli, o ex-secretário de Cultura Mário Frias e o ex-presidente da Fundação Palmares Sérgio Camargo. A disputa será acirrada.
Wassef e Queiroz não têm uma eleição garantida. Vão gastar tempo e dinheiro num tiro no escuro. Mas preferem apostar na possibilidade de uma temporada na mordomia de Brasília em vez de passar um bom tempo atrás das grades.
FALADOR PASSA MAL
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, talvez empolgado com manifestações de apoio que recebe onde vai, tem se excedido e falado muita bobagem, a ponto de aliados pedirem para ele falar menos e ouvir mais nos encontros públicos. Lula não respondeu ainda a esses conselheiros, que estão preocupados com a utilização na campanha das armas concedidas aos adversários, principalmente os bolsonaristas.
Ao se declarar a favor do aborto, Lula desagradou o eleitorado evangélico e católico. Seria mais prudente que defendesse a descriminalização. Mas não ficou por aí. Não é aconselhável, neste momento, anunciar que vai mandar pra rua oito mil militares que estão a serviço do governo. Provocação inútil e desnecessária.
Ao dizer que acabaria com a guerra entre Rússia e Ucrânia tomando cerveja numa mesa de bar, Lula provocou a ira do embaixador ucraniano, que considerou um desrespeito ao povo que está sofrendo as consequências dos bombardeios. Realmente a guerra deve ser tratada com mais seriedade.
Os bolsonarista adoraram essas gafes de Lula e prometem explorar essas declarações ao máximo na campanha. É claro que o ex-presidente também tem muita munição contra Bolsonaro, mas os petistas e seus aliados estão como aquele personagem de Miguel Falabella na televisão, que repetia:
Cala a boca Magda!
EMPREGO INDESEJÁVEL
Só falta o governo colocar um anúncio nos jornais: procura-se profissional competente e bolsonarista para o cargo de presidente da Petrobras. Ninguém quer segurar esse pepino. Bolsonaro demitiu o general Luna alegando que ele não cumpriu a missão de baixar os preços dos combustíveis. O militar não gostou, saiu cuspindo marimbondos.
O governo achou que seria fácil a substituição. O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e o lobista Adriano Pires, foram convidados. Atenderiam as exigências do Planalto, ou seja, fariam tudo o que Bolsonaro mandasse. Mas ambos tinham processos na justiça e seriam barrado pelo crivo dos órgãos internos. Preferiram dizer que recusaram o convite a passar por essa vergonha.
Agora o indicado é José Mauro Ferreira Coelho, que ocupa cargo de direção no Ministério das Minas e Energia. Mais um convidado a toque de caixa. Aceitou, mas o governo ainda vai ver se ele tem algum processo pendente para não ser vetado. Se estiver tudo certo o conselho da empresa, onde o governo tem maioria, deve aprovar a indicação.
Mas se der problema, o cargo continuará vago. Quem se interessar é só mandar o currículo.
DECLARAÇÃO ESPERADA
O deputado federal Eduardo Bolsonaro é, sem dúvida, o menos preparado intelectualmente da família. Por isso mesmo é o que mostra mais direta e claramente o que o pai e os três filhos pensam. São todos a favor da tortura, praticam atos de corrupção, tem torturadores como ídolos, são antidemocratas, racistas, misóginos e homofóbicos, embora se proclamem democratas e honestos.
Eduardo Bolsonaro há alguns dias exagerou. Ao ler uma crítica feita ao presidente pela excelente jornalista Míriam Leitão, debochou da tortura por ela sofrida pelos militares, quando foi presa e colocada num quarto escuro com uma jiboia. Chegou a dizer que tinha pena da cobra. Este é o retrato de um parlamentar sujo, sem princípios, sem humanidade. Não se trata de ideologia, muito menos de posição política. Quem defende a tortura dessa maneira não passa de um ser humano abjeto, sem princípios.
Ao ver a onda de solidariedade à Míriam, Eduardo Bolsonaro disse que falou porque a jornalista não provou que foi torturada, não mostrou nenhum vídeo, nenhum documento ou testemunha. Difícil saber se o deputado é só estúpido, tem má fé, ou as duas coisas. Onde já se viu torturador fazer vídeo para divulgação, assinar documento ou chamar testemunha.
É lamentável que os deputados do Centrão impeçam um processo de cassação de um deputado com esse perfil. Eduardo Bolsonaro representa o que há de pior, de mais vil na sociedade brasileira.
E CARLUXO NÃO CASOU
O vereador carioca Carlos Bolsonaro, que passa mais tempo em Brasília cuidando do Gabinete do ódio, e a gaúcha Geórgia Azambuja anunciaram que desfizeram o noivado dois dias antes do casamento. Ué, mas ele ia se casar? Ninguém sabia, talvez só o primo querido, seu companheiro de fé. Estão sempre tão grudados que não deve haver segredos entre eles.
Mas e a noiva? Apareceu de repente. Carluxo nunca foi visto ou fotografado com ela. Como se conheceram? Se encontravam sempre? Onde? Em que igreja ou cartório seria o casamento? Já tinham escolhido o local da lua de mel? O que o papai presidente achava do casamento? Esses são detalhes que os bolsonarista fãs de Carlos Bolsonaro gostariam de saber.
Sim, porque os adversários estão morrendo de rir e afirmam a toda hora: me engana que eu gosto
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Adriano Nóbrega, o acusado de ser miliciano: irmã denunciou que sua morte era desejada por alguém do Palácio do Planalto
Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem no Jornal do Brasil, O Dia e O Globo.
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