Por Adriana do Amaral
Crise humanitária coloca o Brasil de volta no mapa da fome
Não é preciso ser “bidú” para constatar. Basta olhar para as ruas: a miséria avança Brasil afora. E se não mata imediatamente, como a #Covid-19, é um mal bem mais difícil de ser combatido. Afinal, a ciência avança em descobertas sobre o #coronavirus ao mesmo tempo que o descaso político põe fogo na lenha da exclusão social.
O desmonte do governo popular e suas políticas sociais atingiram o auge com a #ReformaTrabalhista de 2017, que ceifou milhões de postos de trabalho e formalizou a nova mão de obra escrava, o pseudo empreendedorismo individual. A #pandemia veio dar o golpe fatal, isolando as pessoas mais pobres em sítios de miserabilidade, que depois invadiram as ruas das cidades.
E não é achismo, é fato. De acordo com pesquisa realizada pela #FundaçãoGetúlioVargas, três vezes mais brasileiros passam fome. Isso, no curto prazo de seis meses.
Em agosto do ano passado eram 9,5 milhões e em fevereiro passado saltaram para 27 milhões de famintos. Isso, no “celeiro do mundo”, na “terra onde se plantando tudo dá”, no “país abençoado por Deus por natureza”. Mas, que feiura, hem?
Os números do estudo Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela #RedePenssan entre os dias 5 e 24 de dezembro, concluiu que 19 milhões de brasileiros sentiram fome ao longo do ano de 2020. Mais da metade das famílias passou por algum nível de insegurança alimentar.
Ele confirma ainda outra dura realidade: mesmo durante a #pandemia as mulheres sofrem mais as consequências da desigualdade social. Ou seja, 11,1% dos lares onde mulheres são “arrimo de família” enfrentaram mais restrições de alimentos do que aqueles cujos mantenedores são homens (7,7%). As “mães solo” são ainda mais afetadas.
Uma realidade fácil de ser constatada. Inclusive, porque as diaristas, como são conhecidas as trabalhadoras domésticas que atendem sob demanda perderam o trabalho por conta do risco de contaminação pelo #coronavírus.
Mas a falta de trabalho não escolhe suas vítimas. Mesmo os chamados bicos, os trabalhos informais são raros, hoje, devido ao #isolamentosocial, lockdown e falta de humanidade mesmo. Ambulantes, carregadores, cartazes humanos, propagandistas e ajudantes de serviços diversos que o digam.
O Censo da população de rua não dá conta de somar as pessoas que, sem emprego, sem teto, sem comida não têm mais para onde ir. De acordo com a prefeitura de São Paulo, na mais rica cidade brasileira, em 2020 havia cerca de 24 mil pessoas vivendo nas ruas, dormindo nas calçadas, marquises e embaixo de viadutos. Estima-se que o número de cidadãos em situação de rua quadruplicou desde a última contagem.
A fome não escolhe região e se faz presente nas zonas urbanas e rurais. Nas cidades, o “pobre povo brasileiro” ainda conta com a ação de voluntários, que distribuem alimentos e refeições prontas. No sertão as distâncias do país continental se faz letal. Já vimos esse filme, não é mesmo?
Neste Brasil de 2021, o desemprego fere a dignidade, o descaso político e social é sentença de morte e a falta de vacina só não preocupa mais do que a morte decretada pela fome.
Saudades do #Betinho, o irmão do #Henfil.
Foto: #GazetaViews
Saiba mais em:
Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil
https://portal.fgv.br/fgv-social