Por Sonia Castro Lopes
Dizem que à noite todos os gatos são pardos. Sem luz todos se parecem, sendo impossível distingui-los com clareza. Porém, no desespero de alçar à posição de favorito do partido que reúne a fina flor da direita palatável àquela fatia de eleitores nem… nem… os gatos do PSDB começaram a se digladiar em brigas e disputas. Ou seja, o partido se transformou num verdadeiro saco de gatos, para usar outra expressão popular envolvendo os simpáticos felis catus.
É preciso encontrar o representante da terceira via para evitar a polarização, repetem com insistência os porta-vozes e simpatizantes do partido, em sua maioria emissários do quarto poder, a mesma mídia hegemônica que ao ver desidratar todos os ‘liberais-democratas’ nas eleições de 2018, investiu no capitão por acreditar que não havia outra opção, já que PT “nunca mais.”
Imediatamente após a vitória de Dilma em 2014 a felidae reuniu sua turminha mais aplicada e, sob liderança de seus próceres, iniciou o processo de golpe. Inconformados, pediram a recontagem dos votos, o que não deu em nada. Só lhes restou armar o bote. Golpe de Estado, sim, em que parlamentares envolvidos até o pescoço com casos de corrupção instituíram um processo de destituição de uma presidenta democraticamente eleita sob pretexto das célebres “pedaladas fiscais,” prática contumaz nos governos anteriores.
Tratou-se, efetivamente, de um julgamento político como demonstra a trilogia de documentários sobre o tema: O Processo, Excelentíssimos e Democracia em Vertigem, aliás, todos excelentes. Esse tipo de golpe que corrói por dentro a democracia foi aplicado no Brasil e propiciou a emergência do governo protofascista que hoje se encontra no poder. O protagonismo do capitão-deputado durante a votação pelo impeachment da presidenta foi de causar asco a qualquer ser humano que possua um mínimo de civilidade. Se este fosse um país sério ele sairia preso do Congresso quando dedicou seu voto ao sanguinário torturador coronel Ustra, de quem Dilma Roussef foi vítima durante o período da ditadura civil-militar.
O nome do ex-juiz Sergio Moro, antes aclamado como herói por essa fatia do eleitorado, não tem hoje o mesmo impacto de antes, embora não esteja fora do páreo (há expectativas sobre a sua candidatura encampada por partidos de direita). Diante da incerteza de sua candidatura e do constrangimento pela comprovação das irregularidades nos processos anulados pelo STF, o PSDB procura dentro de seus quadros um outro nome que o represente no próximo pleito presidencial.
Com Aécio Neves mais sujo do que pau de galinheiro, Tasso Jereissati abrindo mão da candidatura e Alckmin mudando de turma, restaram três gatos no saco. João Dória, governador de São Paulo, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e Artur Virgílio, ex-prefeito de Manaus são os candidatos que disputarão as prévias do PSDB. Em debate acirrado ontem (19) promovido pelos jornais O Globo e Valor houve alfinetadas e cobranças de todos os lados. Talvez o menos cotado dos três seja o ex-prefeito, mas seu apoio certamente será bem-vindo aos dois principais contendores que foram bastante criticados pelo suporte dispensado ao presidente Bolsonaro nas eleições de 2018.
É sobejamente conhecido o apoio de Dória ao atual presidente. Já Eduardo Leite assegurou que votou em Alckmin no primeiro turno e no segundo não juntou seu nome ao de Bolsonaro como fez seu concorrente, referindo-se ao movimento Bolsodoria. Ao final, fizeram mea-culpa em relação ao episódio, sendo Dória mais enfático ao afirmar que o próprio partido fez a necessária autocrítica ao “governo genocida.”
Leite tem apoio do diretório do RS, de MG e mais seis estados enquanto Dória detém o diretório de SP, estado que conta com o maior número de filiados, e de mais quatro unidades da federação. Com menor capital político Virgílio se mantém no páreo e lamentou profundamente as “picuinhas” internas do saco de gatos em que se transformou seu partido.
Quem vencerá as prévias tucanas que deverão ser decididas daqui a um mês? Em minha modesta opinião, quem quer que seja não conseguirá atingir a casa de dois dígitos no pleito final para desespero dos nem… nem…
E, derrotados, quem apoiarão no segundo turno? Façam suas apostas…
Foto: O Globo, 17/10/21. Caderno Política, p. 7