Ri melhor quem ri por último

Por Sonia Castro Lopes

Na última quarta feira (20), quando foi divulgado o Relatório da CPI da Pandemia, o capitão contra-atacou, mobilizando a equipe econômica para anunciar a implantação do novo programa de transferência de renda, o Auxílio Brasil no valor de 400 reais que seria pago a partir do próximo mês com vigência até o final de 2022. Através dessa medida  eleitoreira, cujo objetivo não é outro senão tentar reverter seus baixos índices de popularidade, os resultados da tática suicida não poderiam ser outros: pânico no mercado financeiro, alta do dólar, Bolsas despencando, além da debandada de quatro integrantes de primeiro escalão do Ministério da Economia. Ao tentar evitar o furo do teto de gastos, o ministro Paulo Guedes foi atropelado pela decisão da comissão especial da Câmara que aprovou proposta para liberar recursos que excedam  os limites orçamentários. O presidente, maior interessado no ‘auxílio’, afirmou que assumiria todos os riscos para colocar em prática seu intento.

Totalmente isolado tanto do ponto de vista político quanto econômico, o Posto Ipiranga capitulou. Após a notícia de que teria pedido demissão, prestou-se à humilhação de fazer um pronunciamento em rede nacional ao lado do chefe. Visivelmente constrangido, na tentativa de justificar o inexplicável e com o claro objetivo de alavancar o projeto de reeleição presidencial, ele  tenta explicar ao público que o auxílio, por ser temporário, poderia perfeitamente ser custeado com a arrecadação fiscal sem ferir o teto de gastos.

O novo auxilio proposto pelo governo é nitidamente populista e foi criado com o intuito de superar o bolsa familia criado no governo Lula que reduziu a pobreza, aumentou a escolarização das crianças e tirou o Brasil do mapa da fome. A atual medida, sem planejamento e totalmente improvisada, não será suficiente para garantir o êxito da  trajetória do capitão rumo a 22. Afinal, de onde serão retirados os recursos para bancar o auxílio-combustível já prometido a 750 mil caminhoneiros? E o pagamento dos precatórios? Haverá negociação ou calote? Haja dinheiro para saciar o apetite  dos parlamentares do Centrão que cobram cada vez mais caro para blindar o presidente. Mexer no fundo eleitoral, nos cargos e salários dos mais de seis mil militares apinhados no poder e em diversos gastos que poderiam ser restringidos para fazer face à crise que acomete sem piedade a população vulnerável, nem pensar!

Atemorizado com as possíveis consequências da CPI, cujo relatório apresenta mais de mil páginas com provas contundentes que o indiciam em nove crimes, o presidente reage contra atacando com o novo auxílio  e demais penduricalhos que levarão a economia ao colapso. Resta saber se o relatório terá acolhimento na Procuradoria Geral da República (PGR) aparelhada com o cão de guarda Augusto Aras. Já se tem notícia que a Advocacia Geral da União (AGU) foi consultada para acionar a PGR no sentido de arquivar o relatório do relator Renan Calheiros. O senador Flavio Bolsonaro, o filho 01 do capitão,  vem se mobilizando para processar o relator da CPI e se mantém otimista quanto ao destino do documento que, em sua opinião, deverá ser arquivado. Em entrevista a várias emissoras de rádio e televisão afirmou que seu pai iria gargalhar diante dos resultados da CPI e, numa atitude debochada, imitou a gargalhada paterna.

Se Bolsonaro tem na Câmara e na PGR “gente sua”, a maioria dos políticos que ainda o apóia vem acompanhando a derrocada de um governo que, tentando melhorar seus índices de popularidade, se lança numa aventura que fatalmente desembocará numa crise econômica sem precedentes. A pressão social ocasionada pela miséria na qual se debate grande parcela da população brasileira somada à atitude dos parlamentares de oposição e dos oportunistas que costumam abandonar o barco na hora em que os ventos mudam, são fatores que pesarão na hora de decidir a favor do reequilíbrio do campo político. Espero que, em breve, a justiça e  espírito democrático sejam restabelecidos nesse país tão devastado pelo ódio e pelo sofrimento.

Estamos a um ano das eleições e o desespero toma conta do presidente. Certamente não haverá impeachment, tal o nível de blindagem do governo, mas não há mal que sempre dure. E como diz o velho ditado, ri melhor quem ri por último. 

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