Por Tião Nicomedes
Moradores sem rua?
Alô, alô #VereadoraSonairaFernandes (Republicanos-SP). Se estiver ventando muito não venha de helicóptero!
Parodiando o grande cantor e compositor #JorgeBemJor, também deu vontade também de chamar o síndico #TimMaia. E a patota dos arquitetos e engenheiros prá ver essa presepada que tá rolando# em #Sampa City.
A elite dos sabetes importando dos #EUA o modelo #Arquiteturadaexclusão.
No mais, sem perda de tempo apressar o passo…. Enfim, chegamos. Bem-vindos ao #PatiodoColégio.
Berço do triângulo do #CentroHistórico, notem a pequena concentração de gatos pingados em frente ao monumento à Estatua da Liberdade. Podem vir se “aprochegando”…
Mas, foi só a vereadora Sonaira dar o ar da sua graça e tudo teve inicio. Um dos organizadores liga o megafone agitando a galera a abrirem as faixas e cartazes.
Ah, vale lembrar, a Saionara, a gente deduz a lógica, integra a #ComissãodeEducação lá na #CâmaraMunicipal. Com certeza iriam tratar das ações referentes à volta as aulas presencias. Abertura das escolas. Mas, lendo os cartazes, me caiu mais um dente:
“Moradores sem Rua”.
E, logo um dos organizadores, o Sr. Saulo, noutro megafone dá o tom do protesto:
“São Paulo pede socorro”.
E tá criado o grito de guerra. Vira um berreiro em uníssono: socorro… socorro.
Discursos inflamados onde clamam, ou melhor reclamam, o direito à cidade. Acusando a #populaçãoemsituaçãoderua de usurpação das praças e vias públicas da cidade.
Quanto a eles, munícipes, estudantes, trabalhadores, reclamando que estão perdendo o direito de ir e vir, que a cidade tá abandonada e as calçadas fedendo a mijo. Insatisfeitos com a falta de segurança e do incômodo que os “mendigos” trazem.
Ressalva: pedem aplausos reafirmando o apoio das policias Civil, Militar e a GCM.
Não demorou muito pra chamar atenção. A barulheira deu no que deu, despertando a ira nas malocas do entorno. E foram acordar logo quem?
O Jean. Morador de rua letrado.
Pronto. Acordou já virado no jiraia. Lá vem ele apontando o dedo. fazendo a leitura. Revoltadíssimo.
“Como é que é o negócio? Moradores sem rua? Essa gente reclamando de ter casa pra morar? É isso mesmo, seu Tião?
Pronto. Sobrou pra mim. Eu já tava esperando que alguém da #poprua me reconhecesse e viesse tomar satisfação. Viu que tô com câmera do celular ligada:
“Pode gravar. Eu tô autorizando. E soltou o desabafo. Contou que perdeu emprego e a casa onde morava por conta da #pandemia.
“Eles querem tirar a gente da rua? Nois vai pra onde? Se eu sair daqui não tenho pra onde voltar. Vou fazer o que? Eu não posso fazer nada”, concluiu.
Percebo uma roda de pessoas bajulando um engravatado. Outro político, esse deve ser peixe grande. Me aproximo.
Bem que estava certo. Somos apresentados. É o deputado estadual #MajorNeco, do #PSL-SP Partido pelo qual se elegeu o presidente #Bolsonaro, hoje sem partido. Já imaginava o discurso…
Pode conceder uma entrevista para a #Tiviu, a #tvpoprua? Ele se mostra simpático e começa com uma rápida leitura de conjuntura.
Sendo ele da direita, obviamente não pouparia críticas aos partidos de esquerda. E culpa o #PT pelo aumento do desemprego e o crescimento da população em situação de rua. Argumenta que isso vem de antes da #quatentena e a #pandemia só acentuou. Chama para o #governodoestado e a #prefeitura a responsabilidade de cuidar dos sem teto. Fala de seus tempos nas ruas como policial. Conta que mandava prender médico que se recusava atender pessoas carentes.
E a marcha começa… Caminhada até a antiga sede da SMADS, na Líbero Badaró 456, que mudou para o 25o. andar do edifício 425.
Isso, eu e nem a metade da cidade não estava a par, mas, simbolicamente, encontrar as portas da #SecretariaMunicipaldaAssistênciaSocial fechadas em plena #pandemia? Em meio do inverno, com gente morrendo ao relento de hipotermia? É deveras assustador.
Queriam protocolar documento, mas empurram por debaixo da porta. E seguem até o #PaláciodoAnhangabaú, a prefeitura, onde retomam a gritaria:
“Socorro… socorro.”
Olho para a vereadora Sonaiara, que não quer dar entrevista e resmunga qualquer cousa com os assessores. Dá pra entender como anda a educação no país.
Encerramos por aqui, direto da #PraçadoPatriarca. Sair cantando um samba:
É gente que vive chorando de barriga cheia…
Sebastião Nicomedes de Oliveira é “poeta das ruas”. Autor da peça teatral Diário de um Carroceiro e do livro As Marvadas é artista popular. Ex-catador e ex-morador em situação de rua, integra o MIPR (Movimento Internacional de População em Situação de Rua).