Receitas para você ajudar no projeto de propaganda do grande fascista

Por Walter Falceta

1) Primeiramente, o delinquente busca desesperadamente por exposição. É o que Bannon recomendou ao mandatário e também a Trump. Não importa o motivo, busque presença permanente nas redes. Então, se você pretende auxiliar no projeto de propaganda do grande fascista, mantenha a figura dele em todas as suas redes sociais.

2) Transforme o que é maldade e desonestidade em alegoria excêntrica. Ou seja, ajude a folclorizar a figura. A folclorização vem sempre com um viés de complacência.

3) Difunda também a ideia de que o elemento é “louco” ou “meio louco”. A loucura é sempre uma boa desculpa e uma atenuante para o crime.

4) Transforme tudo em chiste, em piada, em anedota. O humor sempre empresta alguma candura à figura do tirano, como se seus delitos fossem menos graves e, portanto, dignos de risada.

5) Quando se transforma o déspota em personagem do anedotário, seus crimes são imediatamente reduzidos em gravidade. Afinal, se as pessoas ainda estão fazendo pilhérias e rindo, a situação não deve ser tão grave assim. Certo?

6) Quais japoneses faziam piada com a bomba de Hiroshima? Quais judeus brincam com as vítimas do Holocausto? Quem satiriza o drama dos refugiados? Ah, sim, a publicação francesa Charlie Hebdo fez graça com a morte do menino Aylan Kurdi numa praia da Turquia…

7) A história do Aristides, embora real, não fez parte dos xingamentos da mulher detida numa estrada do Rio de Janeiro. Depois, jogou-se a água suja da bacia junto com o bebê. E o anedotário avançou tolamente pelo território da homofobia. A referência à “noivinha”, em ataque depreciativo, revelou o preconceito que mora em setores amplos da esquerda. E o miliciano saiu ganhando mais uma vez.

8 ) O presidente fez uso eleitoral da facada. E continua fazendo com apoio massivo de setores da esquerda negacionista. Sim, ele foi esfaqueado. Se era um plano para esfaquear pouco e “deu ruim”, este é outro problema. Mas o fato é que a esquerda ajuda a perpetuar o mito do mártir. Não somente no negacionismo, mas também ao criar um anedotário sobre as sequelas físicas no fascista.

9) Por incrível que pareça, parte da população desengajada enxerga como desprezo pela vida humana as chatíssimas e repetidas piadas escatológicas sobre a constipação do elemento. Para setores médios, não politizados, isso “somente revela a verdadeira cara da esquerda”. De alguma forma, todas as pessoas doentes ou com parentes enfermos, muitos deles com os mesmos sintomas, sentem-se intimamente agredidos. Resultado: cria-se natural e inevitável empatia em relação ao genocida.

10) O brasileiro médio acredita que é obrigação moral fazer piada sobre tudo e sobre todos. E que, sem isso, o serviço não está completo. Do ponto de vista semiótico, trata-se de grave equívoco tropical. O que deveria ser fúria, vira motejo. O que deveria ser ira, vira gracinha. O que deveria ser indignação, vira chacota. Foi o que os italianos, depois de anos de experiências fracassadas, descobriram a respeito de Mussolini. As tentativas de ridicularizar o Duce somente o fortaleciam. Posto que o estúpido nele soava como virtude elegante para muitos cidadãos comuns. Onde os progressistas erram? Na banalização do mal. Repetindo: é na banalização da maldade.

 

 

Walter Falceta é jornalista e um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)

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