Construir Resistência
Imagem: Reprodução

Quem se interessa pela idosa da van?

Por: Francisco José Nunes

O filme #ASenhoradaVan (2015) aborda a vida de uma homeless inglesa, de maneira complexa, dramática e com a acidez típica do humor britânico. A história é baseada em fatos reais, com um toque de “realismo mágico”, ao estilo #GabrielGarcíaMarquez.

Trata-se da história de Mary Shepherd (Maggie Smith), uma idosa que nos anos 1970 estaciona sua van no bairro Camden Town, em Londres. Ela mora nessa van, não tem bons hábitos de higiene e acumula sacolas plásticas.

Hostilizada pelos habitantes do bairro, ela é proibida de estacionar sua van na rua. O único morador que a tolera é Alan Bennett (Alex Jennings), que permite que ela use o banheiro de sua casa e autoriza que ela estacione sua van “provisoriamente” na sua vaga de garagem. Mas ela acaba ficando durante 15 anos.

Miss Shepherd é uma pessoa complexa, no sentido pleno dessa palavra. É misteriosa, não se abre com ninguém; é seguidora do catolicismo conservador; faz declarações homofóbicas e anti-comunistas; e, tem um constante complexo de perseguição. Some-se a isso os problemas comuns que atingem as pessoas idosas: dificuldades na visão, oscilação entre demência e lucidez, problemas intestinais, entre outros. 

O filme é baseado na vida de #MargaretFairchild, uma homeless, que falava um inglês impecável, sabia tocar piano e falava francês fluentemente. Nos anos 1970, ela estacionou sua van na Rua Gloucester Crescent, no Bairro Camden Town, um bairro de classe média londrino. Próximo à casa de #AlanBennett, um escritor de peças de teatro. Após ceder a sua vaga de garagem, para que ela estacionasse a sua van, ela ficou por 15 anos, até a sua morte no dia 28 de abril de 1989, aos 78 anos.

Somente após a morte da Sra. Fairchild é que Alan Bennett ficou sabendo que ela, na juventude, estudou piano com o maestro #AlfredCortot. Nessa época optou por ingressar num convento de freiras. Entretanto, no convento, foi proibida de continuar tocando piano.

Durante a #SegundaGuerraMundial trabalhou como motorista de ambulância. Depois da Guerra foi morar com a sua mãe. Passou a ter problemas de saúde mental, foi internada em clínica psiquiátrica e, depois de inúmeras fugas, recebeu alta. Envolveu-se em um acidente de trânsito e passou a viver dentro da sua van. 

A Sra. Shepherd, na ficção, é atendida por duas assistentes sociais, refletindo a importância dessas profissionais e a complexidade no atendimento das pessoas em situação de rua, especialmente as pessoas idosas. É impossível assistir a esse filme e não se lembrar do #PadreJúlioLancellotti, de todos os profissionais e voluntários que atuam na atenção às pessoas em situação de rua, em São Paulo.

O filme gira em torno da brilhante atriz Maggie Smith, com 81 anos, quando fez a gravação. Atualmente com 86 anos, ela já ganhou dois #Oscar, três #GlobodeOuro e 46 prêmios. Ficou muito popular quando participou nos filmes da saga #HarryPotter, com os papéis de Minerva McGonagall, vice-diretora de Hogwarts, professora de transfiguração e chefe da casa Grifinória. 

Assistir Senhora da Van é muito oportuno para esses tempos sombrios que estamos vivendo. Porque trata o drama das pessoas em situação de rua com equilíbrio e doçura. Principalmente por chamar a atenção para o fato de desconhecermos as histórias de vida dessas pessoas.

Mary Sheperd real e a personagem vivida pela atriz Maggie Smith, repectivamente (divulgação)

Serviço:

Filme: A Senhora da Van (2015)

Direção: Nicholas Hytner

Roteiro: Alan Bennett

Plataforma: Netflix

Francisco José Nunes é Mestre em Ciências Sociais – PUC-SP; Graduado em Filosofia; Professor na Faculdade Paulista de Comunicação – FPAC.

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