Por Simão Zygband
A médica cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar deve recusar o convite do (sic) presidente Jair Bolsonaro para assumir o ministério da Saúde no lugar do militar Eduardo Pazuello, que alegou problemas de saúde para se afastar do cargo.
A Dra Ludhmila, que é coordenadora de Cardio-Oncologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo e de Cardiologia do Instituto do Câncer do estado de São Paulo, tem currículo suficiente para assumir o ministério (ao menos não é uma militar e sim uma médica). O Brasil, de fato, precisa de alguém que conheça minimamente do riscado.
Qualquer brasileiro, sobretudo se for médico, ficaria extremamente lisonjeado com o convite de um presidente da República para assumir o ministério da Saúde, ainda mais em um momento tão dramático em termos sanitários para o país.
O Brasil já acumula 280 mil mortes em um ano, com 11 milhões e meio de infectados e os óbitos diários chegando perto da casa dos 2 mil. Conter a disparada dos casos e mortes pelo Coronavírus se torna uma tarefa hercúlea, sobretudo pela falta de interesse do próprio Bolsonaro em conter a pandemia. Um.video mostra ele ridicularizando quem tinha contraído a doença.
Independentemente de aceitar o cargo, esta será a quarta mudança no comando da Saúde no (sic) governo Bolsonaro em pouco mais de 2 anos. O ministro da pasta tem uma durabilidade de no máximo 6 meses no cargo. Mal chega a esquentar a cadeira. Nem um general forjado na dureza da vida nos quartéis, como Eduardo Pazuello, conseguiu suportar o empuxo do cargo. Ainda mais atendendo ao comando do capitão reformado.
Não faltam médicos no Brasil simpatizantes do governo autoritário de Bolsonaro. Se de fato cumprissem com o juramento médico, que se baseia em quatro princípios fundamentais – jamais prejudicar o enfermo, não buscar aquilo que não é possível oferecer ao paciente, tipo milagres, lutar contra o que está provocando a enfermidade/acreditar no poder de cura da Natureza, – conceitos talhados por Hipócrates, na Grécia antiga, por volta de 460 a.C, jamais teriam votado em Bolsonaro. Ainda mais ser seu ministro da Saúde.
O site Poder 360 adianta não somente que Ludhmila deverá declinar do cargo (indicada que foi pelo alto escalão do Congresso, inclusive pelo presidente Arthur Lira), como também não agradou ao mandatário na reunião que teve no último domingo, onde estava presente o filho do (sic) presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Houve, aparentemente, uma falta de sintonia entre os lados.
Sua candidatura perdeu força depois que ela criticou nas redes sociais o uso de hidroxicloroquina e chamou Bolsonaro de “psicopata”, além de defendido a eleição do governador de Goiás, Ronaldo Caiado à presidência da República.
A pergunta que se faz é a seguinte: quem vai querer assumir o ministério da Saúde de um (des) governo que já está levando o país para o primeiro lugar no número de mortes por Covid no planeta, que em termos proporcionais já ultrapassou, inclusive, os Estados Unidos da América?
Quem assumir o ministério da Saúde vai literalmente ter que tirar o país do caos sanitário, que já se faz presente com o gigantesco número de mortos, com a grandeza da propagação da infecção (onde a população não tem disponível informações de prevenção a doença), com a quase totalidade das UTIs completamente tomadas por doentes morrendo sufocados, com a falta de vacinas, que são disponibilizadas a conta-gotas para a população e, sobretudo, com um governo negacionista, que incentiva a população a não realizar o confinamento e sequer a utilizar máscaras que, apesar dos milhares de mortos, ainda desdenha da doença.
Só Deus acima de todos. E salve-se quem puder.