Por Adriana do Amaral
Caetaneando, me vem à mente a canção de outras épocas, quando o Sol ainda era vendido nas bancas de revistas como um farol que iluminava a escuridão da informação. O poeta perguntava: quem lê tanta notícia? Mas ele podia caminhar contra o vento na década de 1967. Ou não? Eram tempos difíceis, então, quando vigorava a ditadura militar no Brasil.
Depois de um final de semana quente, climaticamente falando, na manhã desta segunda-feira (29) mergulhei na leitura das suítes (repercussão) das notícias e manchetes. É surpreendente como a democracia brasileira nos faz ler tanto lixo e como a notícia virou um luxo para poucos que conseguem interpretá-la ou têm acesso a ela.
A notícia mais chocante, é claro, repercute o caos na saúde pública nacional, que transformou o Brasil num cenário de crise humanitária nunca vivido antes. Fui dormir pensando que não há mais carros funerários para transportar os corpos das vítimas da #Covid-19 na maior cidade do país e que pelo menos 50 carros particulares foram contratados pela Secretaria Municipal das Subprefeituras. Seria o “uber” da morte?
Tão chocante quanto é a repercussão, inclusive através de notícias falsas e manipuladas, sobre o surto vivenciado pelo policial Weslei Soares, na região turística do Farol da Barra, em Salvador, na Bahia. Fora de si, o soldado jogou pertences dos ambulantes no mar, disparou tiros de fuzil para o alto e contra os colegas da Polícia Militar. Após três de negociação ele foi dominado e depois socorrido no Hospital Geral do Estado.
Em nota oficial, o comandante do Bope, Major Clédson Conceição, explicou que o soldado alternava momentos de lucidez com acessos de raiva. “Os nossos objetivos primordiais são preservar vidas e aplicar a lei. Buscamos, utilizando técnicas internacionais de negociação, impedir um confronto, mas o militar atacou as nossas equipes. Além de colocar em risco os militares, estávamos em uma área residencial, expondo também os moradores”, informou.
Outras duas notícias chamaram a minha atenção: a demissão do Ministro das Relações Exteriores, que por incompetência conseguiu fazer o Brasil virar piada internacional, nos isolando, diplomaticamente falando, do resto do mundo e o ressurgimento da eterna “rainha dos baixinhos”, Xuxa Meneghel. O primeiro caiu após pressões internas, inclusive com a chancela da assinatura de 300 embaixadores. A segunda perdeu a oportunidade de ficar calada.
“Serviriam para alguma coisa antes de morrer”, justificou Xuxa ao sugerir que as pessoas em situação de cárcere poderiam ser usadas como cobaias humanas em testes químicos. Logo ela que se diz protetora dos animais a ponto de não comer carne não se importa com a qualidade de vida humana? Xuxa pediu desculpas, diz ter pensado uma coisa e falado outra, mas ela é uma mulher experiente, treinada para falar em público. Desdizer não implica que iremos esquecer o dito.
Quanto ao ministro, o sucessor deve ser um tão ruim ou pior do que ele. Afinal, nada muda no “quartel de Abrantes”. Pelo menos nesse Brasil da #pandemia, que mais parece hospício.
Crédito da ilustração: Instagram UJS Brasil