No início da noite, realizei a rápida varredura diária dos jornais estrangeiros. O que mais salta aos olhos? Quase todo mundo questiona o controle do governo brasileiro sobre a maior parte da Amazônia.
Ou seja, parece terra sem dono, sem patrulha, sem monitoramento, sem nada. Se havia gente interessada em tomar conta de parte do nosso território, esse desejo cresceu com as demonstrações de incompetência do capitão e de sua tropa de botinudos viagreiros.
Enquanto os lambedores de Leite Moça seguem enchendo os pacovás do Tribunal Superior Eleitoral, vastas porções de terra foram entregues a traficantes, contrabandistas, madeireiros, garimpeiros e outros bandidos comuns, das mais diversas nacionalidades.
Convém repensar também o sistema de divisão federativa do Brasil, com estados tão imensos que são ingovernáveis. As mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips alçaram às manchetes globais o município de Atalaia do Norte, sobre o qual a maioria dos brasileiros nunca tinha ouvido falar.
Sua área, pasme, é maior do que a de Holanda e Bélgica somadas. E veja que é apenas o sétimo maior município brasileiro em área. Dentro de Altamira, no Pará, o maior de todos, cabem juntos Portugal, Croácia, Andorra e Liechtenstein.
Atalaia do Norte fica a 1.136 quilômetros de Manaus, capital do Estado. Para se ter uma ideia, a distância entre Rio e Brasilia, também em linha reta, é de 934 quilômetros.
Se formos falar de caminhos, terrestres ou fluviais, Atalaia fica a 1.620 quilômetros de Manaus. Para se fazer uma comparação, é mais rápido e seguro ir de carro de São Paulo a Assunção, no Paraguai: 1.350 quilômetros.
É certo que o Brasil precisa de uma nova organização federativa, capaz de estabelecer o controle do território e oferecer mínimo bem-estar aos moradores de rincões distantes. Esse redesenho administrativo também é fundamental para garantir a sobrevivência dos povos originários e a preservação dos recursos naturais.
A alternativa é entregar de vez esses nacos imensos do território à administração de um consórcio mundial. Essa é, porém, a pior solução, pois é o caminho mais curto para que as mega corporações se apossem do coração do planeta. O tempo é escasso.
