Por Jorge Antonio Barros (texto e fotos)
Uma onda de lamento e indignação inundou uma parte da orla da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, nesta manhã de sol forte e calor típico de verão. O motivo foi o protesto contra o assassinato do congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, que foi espancado até a morte, num quiosque da Barra, no dia 24 de janeiro. Marcada por cânticos afros, por grupos de diversas origens, a manifestação em defesa da vida e pelo fim da impunidade em homicídios, sobretudo contra negros, reuniu cerca de duas mil pessoas que levaram faixas, bandeiras e cartazes, cantando palavras de ordem contra o racismo. Havia faixas em protesto contra Bolsonaro e seu governo neofascista.
A manifestação foi pacífica, mas um grupo tentou destruir o quiosque Tropicália, para o qual trabalhava o congolês. Os organizadores pediram, do alto do carro de som, que os ânimos fossem controlados e que a justiça seja feita pelo Poder Judiciário. Três dos agressores de Moïse já foram presos pela Polícia do Rio. Mas, apesar da ação rápida da polícia, o caso ainda guarda muitas dúvidas. Uma delas é se há ou não envolvimento de policiais militares e milicianos que atuam naquela região da Barra. O dono do quiosque Tropicália seria um cabo do 18º BPM (Jacarepaguá), quartel de uma das áreas dominadas por milícias na cidade do Rio de Janeiro. Segundo fontes da polícia, a manifestação teve vários agentes do Serviço Reservado da PM, acompanhando o movimento.
A violência com que foi praticado o crime diante de câmeras é um dos sinais de que os assassinos apostaram na impunidade. Afinal, no Brasil, assassinatos de negros, principalmente pelas forças de segurança, costumam ser crimes insolúveis. A maior prova disso é que desde 2018 a polícia não conseguiu descobrir quem mandou matar Marielle Franco, a vereadora negra que foi morta com o motorista Anderson, no Estácio, na Região Central do Rio, em plena vigência da intervenção federal na segurança pública. Há fortes indícios de que foi um crime de pistolagem, encomendado por milicianos, mas a polícia ficou praticamente na estaca zero.
O protesto contra a morte de Moïse deu um nó no trânsito da orla da Barra num sábado típico de praia. Para a situação não ficar pior, a CET-Rio fez pelo menos três bloqueios – um no avesso à Praia da Reserva, outro na Avenida Ayrton Senna e um terceiro na Avenida Lúcio Costa, que foi o palco do protesto, perto do Posto Oito.
Inicialmente seria apenas uma concentração em frente ao quiosque onde Moïse trabalhou e teria ido pedir o pagamento de seu salário atrasado. Depois, o grupo saiu em passeata pela Avenida Lúcio Costa, percorrendo apenas um trecho de cerca de 500 metros e voltando pela pista em direção ao Recreio. Os motoristas, em sua maioria, fizeram silêncio ao saber que o motivo do engarrafamento era o protesto contra a morte de Moïse.
Fotos
Jorge Antonio Barros é jornalista e editor do Quarentena News, onde o artigo foi publicado originalmente.
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