Esta figura grotesca, que parece personagem de série de quinta categoria sobre antigas repúblicas bananeiras, é o sujeito mais procurado da Bolívia.
A Justiça mandou prender os chefes do golpe de novembro de 2019 contra Evo Morales. A imprensa anuncia nas manchetes, como personagem principal entre os que serão encarcerados, a senadora e “ex-presidente interina” Jeanine Añez, que já foi presa.
Jeanine foi a boba da corte dos golpistas. A figura a ser julgada e condenada, para que os bolivianos tenham a reparação que merecem, é outra, é o general covarde Williams Kaliman, o comandante das Forças Armadas que traiu Morales.
Kaliman está na lista dos 13 que devem ser presos, por ordem da Justiça, em atenção a pedido do Ministério Público sob acusação de crimes de terrorismo, sedição e conspiração. São esses os civis, todos integrantes do ministério golpista de Jeanine: Arturo Murillo Prijic, Yerko Nuñez Negrete, Luis Fernando López Julio, Álvaro Guzmán Collao e Álvaro Coimbra Cornejo.
E estes são os militares procurados, participantes do golpe, mas não necessariamente ocupantes de cargos no ‘governo’ de Jeanine: general da Força Aérea Jorge Gonzalo Terceros Lara, general de Divisão Aérea Jorge Elmer Fernández Toranzo, vice-almirante Palmiro Gonzalo Jarjury Rada, almirante Flavio Gustavo Arce San Martín, general de Exército Jorge Mendieta Ferrufino e general de Exército Williams Kaliman Romero. E mais o chefe de Polícia Yuri Calderón.
Kaliman foi comandante do Exército e, por um ano, até o golpe, comandante das Forças Armadas de Morales. Fazia discursos nacionalistas e fingia estar identificado com as ideias e os projetos do governo.
Nunca teve a confiança total dos líderes do Movimento ao Socialismo (MAS). O traidor pode ser mais uma prova de que, entre 10 generais, nove e meio são golpistas.
Quando teve uma chance de se revelar e acovardar-se, acovardou-se sem muito esforço. Rendeu-se às pressões das polícias, que articularam um motim e acionaram o golpe.
Dizem que não quis ser subalterno de um movimento policial. Foi ele quem mandou o recado a Morales, para que o presidente renunciasse.
Depois do golpe, não teve coragem para continuar ao lado dos golpistas, fugiu para os Estados Unidos (onde havia feito curso de formação militar) e teria sido visto pela última vez na província de Santa Cruz.
Por onde anda o general que traiu Morales para se aliar às polícias, aos latifundiários, aos empresários e à conspiração liderada de fora pela Organização dos Estados Americanos?
Kaliman é o milico que não conseguiu, por sua covardia, ser protagonista de nada. Quando acharam que poderia defender o governo, encolheu-se. Quando parecia aliar-se até o fim aos golpistas, deu o recado a Morales (a mando de alguém) e caiu fora.
Não deve ser preso como líder do golpe, mas como traidor. Os bolivianos, que mais uma vez dão uma lição aos brasileiros, querem ver o milico covarde na cadeia. Assim também se restaura uma democracia.
Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.
Publicado originalmente no site https://www.jornalistaspelademocracia.com