Por que reclamar? Finalmente, o Brasil é conduzido por FDP de marca maior

Por Carú Schwingel

Finalmente, à frente do país alguém que representa todos os FDP com os quais tive o infortúnio de conviver neste Brasil. Nas ruas do Rio Grande do Sul, os eternos “velhões”, que permitiam jovens serem espancados pela polícia sem nada fazer, afinal “eram presos, eram delinquentes ou mereciam”. Esses mesmos que olhavam e olham uma mulher de cima à baixo quase salivando, que encostam sem permissão em ti, seja no braço, na perna quando podem no carro, em qualquer lugar, pois “têm o direito”, a mulher estava “querendo, oferecendo-se”.

Nas reuniões de trabalho na Bahia, em que o “digníssimo” chefe de gabinete te chama para “avisar” que no contrato de sua empresa será “incorporado” uma pessoa, pois comunicação é “área sensível” e precisa estar “alguém de sua confiança”. O neto do Senador, ex-ministro, com “posto” na órgão público, recebendo acima de 10 salários mínimos, sem pisar “na repartição”. A corrupção ativa e passiva de agentes públicos com dinheiro público que consideram privado, melhor ainda, “para suas famílias”, pois nos cargos estão a mulher, os filhos, amigos. Alguma semelhança?

Em São Paulo, em que o coleguinha diz: “agora, ela irá tirar o nosso emprego”, a outra, por receio de ter agido errado, te joga na fogueira, difama e destrói para quê? Para “conservar” o emprego dela. Lei da Selva! “Faz arminha, que passa!” Por fim, as que assumem à frente dos homens brancos de poder, reproduzindo e legitimando suas atitudes. Para “suportar”, a caixinha com tarja preta, o câncer de útero, ovário, mamas. Feminino aviltado.

Um FDP com capacidade para levar o jornalismo a cumprir seu papel social em defesa do interesse público. Não é o cúmulo da ironia? Reclamar do quê? De ver Leitões conscientes de sua responsabilidade social?

Coleguinhas que, por um lado, difamavam políticas sociais legítimas, atos regulatórios para civilidade e bem-estar social e, por outro, recebiam Herzogs por matérias pontuais, específicas, aclamados pelos defensores dos direitos humanos? Reclamar por ver consórcios de veículos atuando pelo direito ao acesso à informação, finalmente reconhecendo o social acima do econômico para sua empresa? Reclamar pelas máscaras de quem tem consciência, história e memória neste país caírem? Reclamar pela perplexidade de ainda serem os antigos editores do partidão, os mesmo que alquebraram a autonomia dos jornalistas nas greves nos 70 e 80 em troca de interesses pessoais ou pontuais, os críticos sem audiência do FDP mor que, parcialmente, também os representa? Reclamar de ver o Jornal Nacional fazer jornalismo?

Toda vez que penso em reclamar pela pantomina da gestão da pandemia, pelos custos no cartão corporativo, pelos absurdos falados, pelas ações do escritório do ódio, pela falta de transparência na administração federal, pelas mentiras inventadas e disseminadas, lembro de alguém com quem convivi, trabalhei, atuei que agiu “igualito no más”. Finalmente está à frente de nosso país o que nove entre dez brasileiros consideram como “político”: um corrupto, um ser execrável, alguém sem valor. A desconsideração da política, a ignorância generalizada levou um político com três décadas de “carreira” e dois projetos de lei propostos ser considerado “não-político”, alguém “diferente”.

Sim, #Bolsonaro é o presidente do Brasil e o representa. Não o Brasil que conheço, defendo, amo. Mas um que aí está, que reconhecemos na incongruência e preconceito, inclusive no escolher chamá-lo FDP, responsabilizando quem o criou por seu obtuso caráter e não a seu próprio ser e atuação.

Mas ao representar, explicita-se a ação e também a responsabilidade. No país da Anistia para torturado e torturador, só descanso ao ver quem destruiu a política ambiental do Brasil, construída em tamanhas batalhas, na cadeia. Ao ver quem permitiu a morte de mais de meio milhão de pessoas por incompetência administrativa na cadeia. Os tribunais internacionais existem e irão julgar os crimes contra a humanidade cometidos por Salles e asseclas. Veremos Bolsonaro e família cerceados de suas liberdades.

E saberemos que ali estarão cada um, cada uma FDP que tivemos a infelicidade de encontrar e conviver neste país.

Carú Schwingel é jornalista, pesquisadora, empreendedora, ativista. Mestre em Cibercultura, Doutora em Comunicação e Culturas Contemporâneas, com pós-doutorado em Fotônica e Novas Mídias.

Autora de “Ciberjornamismo” e “Mídias Digitais”.

Integrante da #RededeInovaçãoPolíticanaAméricaLatina e conselheira da ONG #AsuntosdelSur, que atua com formação política na América Latina.

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