Por que cancelei minha assinatura do Valor Econômico

Por Rodrigo Vianna

 

Claro que nunca tive ilusão com a linha editorial dos jornais mantidos pelas Organizações Globo. Trabalhei lá por quase 12 anos (fui repórter especial da TV Globo, em São Paulo e no Rio, entre 1995 e 2006), e conheço bem os controles internos que a família Marinho estabelece, especialmente na cobertura de temas considerados sensíveis.

Mesmo assim, decidi assinar há alguns anos o jornal Valor Econômico, por entender que é um veículo voltado para empresários/executivos/donos da grana: um público menos interessado na propaganda ideológica (a que estão sujeitos os leitores de O Globo ou os telespectadores do Jornal Nacional, por exemplo), e que precisa de informação fidedigna para orientar investimentos. Além disso, o Valor possui bons colunistas/articulistas e repórteres que, em geral, não brigam com os fatos.

Aos poucos, porém, vinha percebendo que o Valor estava longe de ter esse rigor informativo. Ainda assim, fui levando… e mantive a assinatura. Pelo menos, aquilo servia pra vigiar de perto o pensamento (!) da burguesia (anti)nacional.

O que assisti na última segunda-feira (04/10/2021), no entanto, fez-me interromper o exercício de tolerância com a pauta dos adversários. Fui tratado pelo Valor como um idiota (que, em geral, não pretendo ser).

Relembremos: acabava de estourar o Pandora Papers, apuração de um Consórcio de Jornalistas espalhados pelo mundo, e que revelou como a elite empresarial e política em dezenas de países investe seu dinheirão em contas escondidas sob a rubrica de empresas de fachada: as chamadas “offshore”.

Paulo Guedes, ministro da Economia, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, estão na lista (ao lado de gente poderosa da Argentina, Chile, Colômbia, México, Rússia, Índia, Espanha, Inglaterra etc).

The Guardian, Le Monde, Washington Post, entre outros, trataram o escândalo com a importância devida: manchetes, chamadas de primeira página… Já a Globo preferiu esconder, e divulgar tudo de forma “discreta”. Nem o JN na TV, nem O Globo (no papel ou no digital) manchetaram o caso.

O Valor, jornal da família Marinho, deu o azar de ter marcado uma live com Campos Neto exatamente no dia seguinte à eclosão do escândalo. É evidente que não havia outro tema mais importante a tratar com o presidente do BC do que o envolvimento do nome dele no Pandora Papers.

Em vez de perguntar na lata o que deveria ser perguntado, o diretor de Redação do Valor passou mais de uma hora num exercício bisonho de puxa-saquismo. Já no finalzinho da live, resolveu tocar no assunto das contas escondidas, quase pedindo desculpas ao “Dr. Roberto” (era assim que o jornalista se dirigia ao neto de Bob Fields).

Depois de assistir à cena insólita, decidi enviar um email ao jornal, cancelando minha assinatura. Publiquei também uma carta aberta ao Valor, que você pode ler neste link.

Posso agora usar meu dinheirinho não para financiar um jornal que trata seu público como idiota, mas para manter sites que, a exemplo do Brasil 247, se esforçam para lançar luzes sobre escândalos como o Pandora Papers. Sites que não cumprem o papel nefasto de defender uma agenda “liberal” nos costumes, ao mesmo tempo em que ajudam a manter uma política econômica de fome que é o coração do governo genocida.

 

Rodrigo Vianna é jornalista e âncora do Boa Noite 247

rodrigo.vianna@brasil247.com.br

Obs: Texto obtido no Facebook do jornalista

 

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