Por Luis Otavio Barreto
Há um problema muito grande na polícia do Brasil, isto é, desconsiderando a própria; a profissão como último recurso daquele que não se adequou a nenhuma outra ou não gosta de estudar. Você faz um único concurso e pronto. E isso é um coisa normal de se ouvir entre eles.
Eu tenho péssimas experiências com a polícia. Olho pra eles e consigo sentir o medo que nunca senti olhando para bandidos, por exemplo.
Em Macaé, RJ, uma vez, meu irmão e eu fomos abordados por bandidos. Entramos numa rua errada, aonde estava rolando uma busca por um delator. Na nossa inocência, os vidros estavam fechados. Os bandidos pararam o carro, nos revistaram, revistaram o bagageiro e, não encontrando nada, nos pediram desculpas, explicaram a situação e nos alertaram sobre o vidro, aconselhando abrir, enquanto estivéssemos por ali.
Na mesma Macaé, tempos depois, a polícia nos parou. Dois policiais corruptos; um deles, virado, com a cara cheia de cocaína, revistou a mim, meu irmão e o carro. Eles nos abordaram com uma metralhadora apontada na minha cara, gritando para descer do carro. Este que gritava, possuia um fortíssimo complexo de inferioridade que era percebido através do discurso que não parava de repetir: – Sou um agente do estado no cumprimento de seu dever.
O policial dizia ser o chefe daquela área. Não achando nada em que pudesse firmar qualquer acusação, veio com “Eu sou o comando por aqui, se vcs facilitarem ($$$$$$), podem vir buscar a droguinha de vocês numa boa”.
Quietos, pelo pavor de uma complicação numa cidade – detestável – que não era a nossa, pela metralhadora daquele policial, pelo estado psíquico do outro e pela urgência de sair dali, entramos no carro e saímos. Passei mal o resto do dia. Desejei as piores coisas, em pensamento, àquele homem. Foi um horror.
Eu não gosto de polícia. Nunca gostei. Acho um péssimo mecanismo de proteção, aliás, será que protege mesmo?!
A morte de Kathlen Romeu e de seu bebê, ainda no ventre, é mais um atestado, outro, mais um, e outro e mais um, de que a diferença do risco de morte entre bandido e polícia é somente a farda. Arrisco dizer o seguinte: isso, numa favela, num tribunal do crime, não passaria em branco, caso fosse o assassínio causado por um membro da organização…no estado, humpf…
O problema é e sempre será a falta de educação e as profissões de arrimo.
Luis Otavio Barreto é músico pianista e professor de Lingua Portuguesa.