Plenário de STF julga Lula

Roberto Garcia

 

Hoje tem mais. A segunda parte do julgamento do habeas corpus do Lula. Se passar a pretensão dele, fica livre. Livrinho. Quase certamente, vai disputar a presidência. De novo. Pela quinta, sexta vez. Quem decide é o plenário do Supremo Tribunal Federal. Onze ministros, já velhos, em sua maior parte experientes, já mudaram de opinião várias vezes, ninguém sabe direito o que tem na cabeça deles. Parecem meio esfinges, aquele gato de pedra nas areias perenes do Egito.

Dizem que no supremo quem manda é a Constituição, as leis. Supostamente, não olham o nome da pessoa em julgamento, apenas as circunstâncias. Mas isso é meio balela. Quem disse isso foi um ministro do próprio Supremo, o Ricardo Lewandowski. Ele disse que o caso já foi julgado numa divisão do tribunal, a segunda turma, onde atuam cinco ministros, e que não caberia julgar o mesmo caso de novo, no plenário, onde todos os onze ministros tem assento. Apesar de ele estar certo, a maioria discordou dele.

Esse é um caso complicado. Lula não é qualquer um. Já governou o país por dois mandatos. Quando saiu, gozava da aprovação de mais de 80 por cento da população. Conseguiu fazer a sucessora. Dizem que ele tivesse indicado um poste esse poste teria sido eleito. Tal o entusiasmo que suas medidas tinham conseguido.

A oposição a ele babava de ódio. O anterior, Fernando Henrique Cardoso, quase levou um pontapé no traseiro. Ao sair, seu nível de apoio não passava dos 30 por cento.

Acusações de corrupção sempre havia para todos. Nunca foram provadas.

A Dilma, eleita por indicação de Lula, também foi muito popular. Mas foi apeada da presidência por um golpe. Dizem que ela era honesta. E que os acusadores dela eram os picaretas e ladrões. Em parte, pelo menos, parece que é verdade. Nesta semana, mesmo, o Tribunal de Contas da União a declarou inocente de uma das acusações que mais pesaram na criação do ambiente para o seu impeachment. A compra da refinaria da Petrobrás em Pasadena, no Texas. O acusador principal dela, o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, é que foi parar na cadeia. Ainda está em prisão domiciliar. Esse sim, era um pilantra, é uma opinião unânime.

Tem muita gente que não se conforma com decisões de tribunal. Adoram quando os juízes consideram culpados os que não gostam. Mas não aceitam quando vem o perdão. Hoje, isso acontece com Lula. Gravações obtidas por um hacker, das conversas entre os procuradores que o acusaram, demonstram que houve uma grande armação. Estavam a fim de impedir que ele se candidatasse de novo à presidência. Naqueles tempos parecia imbatível. Conseguiram mete-lo na prisão.

Mas ele saiu, por decisão judicial. Hoje, no Brasil e no mundo, um número considerável de gente acha que Lula sempre foi inocente. Concordam que houve armação. Parece também haver nisso uma crescente unanimidade. A de que o resultado da condenação de Lula levou o país a um desastre. Criaram uma tal balburdia, confundiram o povo, que elegeu um desatinado. Até mesmo o pessoal que o rodeia tenta controlar Jair Messias, para que ele não faça tanta loucura. Mas nem com camisa de força ele para. Parece disposto a ir até o fim destrambelhado. Que não é bom.

O que acontece no Supremo é apenas um elemento. O drama é ainda maior. Tem uma comissão no Senado que vai investigar Bolsonaro. Dizem que isso não vai ser bom pra ele. Que todas as burradas que ele cometeu vão ser detalhadas. Com o caro preço para uma população. Que hoje está mais pobre e sem assistência. Com 360 mil mortos. É um descalabro, é coisa sem nome. Vamos ver no que dá. Agora é uma questão de horas, de dias.

Tem um lembrete importante. Isso é a justiça dos homens. Perfeita não é. Qualquer que seja a decisão, vai ter desacordo. De um lado e de outro, possivelmente, manifestação, discurso, barulho que não acaba mais.

Melhor manter a cabeça fria. Nesses casos a melhor forma de resolver é eleição. A maioria é que decide. Democracia foi bela invenção.

 

Roberto Garcia é jornalista

Contribuição para o Construir Resistência ->

Resposta de 0

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *