Perdeu, Barroso!

Por Roberto Garcia

 

Pessoas e nações têm culturas, talentos, territórios, riquezas, história. É natural que gostem do que tem. Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste. Criança, não verás país algum como este. Conhece essa aí? Muito natural, também, que queiram proteger tudo isso. Nada de errado. Legítimo. Quem vai criticar?

Só que, às vezes, querem as coisas boas dos vizinhos também. Essa história de querer algo dos outros é bem velha.

O menino que pula a cerca prá pegar uma laranja no terreno da dona Maricota é um exemplo disso. Coisa de moleque, traquinagem, não é muito certo mas também não é grande pecado. Não vai pro inferno só por causa disso. Ela vai ralhar, ele pode até levar um puxão de orelha. Tem casos um pouco mais complicados. Tentar abocanhar uma boa parte do território alheio é outro extremo. Isso pode dar desavença, ressentimento, confusão. Chega a dar tapa, briga mesmo, até guerra tem acontecido por causa disso.

Sair de casa prá ir pegar a coisa dos outros é pintado de muitas formas. Em alguns casos, o ladrão e o invasor são vistos como gente feia. Outras vezes são descritos como heróis, grandes conquistadores. Já ouviu falar do rapazinho, jovem guerreiro, chamado Alexandre o Grande? Ele fez um grande exército e tomou a metade do mundo então conhecido pelo pessoal do lado de cá. Todo mundo queria ser como ele. Foi o fundador do helenismo, movimento cultural celebrado, a base do mundo ocidental. Maravilha. O Átila, os hunos, eram bárbaros, que invadiam a terra dos inocentes europeus. O Gengis Khan também. Seres desprezíveis. Quem vai defender isso? Mas olhe só, foram eles que inventaram calça comprida. Antes todo mundo andava de saia. Foi um avanço? Sei lá.

Em filme de Holywood os mocinhos são bonzinhos que lutam contra os índios, esses sim, bichos crueis, safados. Na entrada do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, tem um enorme monumento aos bandeirantes, portugueses que entravam na terra dos índios pra escravizá-los e roubar o ouro deles. Ah, esses são bons.

Preste atenção. Não é crítica, não. Quem sou eu prá botar defeito. Só vou mencionar o fato, não fui eu quem contei. É coisa de evangelho, Autor santo. Antes de entrar em Jerusalém, naquela caminhada fatídica, Jesus Cristo pediu um jegue emprestado. Uns dias depois morreu. A Bíblia não mostra a devolução. Como é que se classifica isso? Acidente de percurso? Maldosos dizem que foi caloteiro? Se responder errado pode não ir para o céu.

A história tem muitos lados. Eu acho que o meu é o certo. Você vai dizer que é o seu. Vou mencionar mais uma história. Não pense que é gozação. Nem relativismo, essa é a primeira acusação.

No julgamento do Moro, pra apurar a suspeição, Barroso atacou de macho, fez muita acusação. Disse que acusar o juiz é prova de corrupção. Disse que o Lewandowski, gentleman, professor, homem direito, coitadinho, tinha bandeado contra a lava-jato. Tinha se juntado aos sujos, petistas, imorais. Minha gata, Esmeranda Capeta de Jesus, esse é o nome completo dela, pediu data venia. Disse: Barroso, essa não. Gata sábia, sabe muito, analista ainda melhor. Assim como não quer nada, pergunta ela: mas quem foi que te nomeou prá esse cargo, Luis Roberto? Petista? Você se beneficiou do crime? Você veio sujo de lama, é produto da corrupção?

Esmeralda está aqui no meu colo. Eu no mato. Barroso não ouviu. Ela diz que tem guerra de narrativas. Que isso é coisa de gente. E isso ela não é não. É gata, virgem, honesta. Diz que não se mete com isso. Éla é independente, embora coma da minha ração.

Barroso tem suas virtudes. Vota a favor de LGBT. Já disse que tem amigo maconheiro. Chega a cheirar essa fumaça. Mas tragar? Ele jura que não.

Ficou um detalhe que Lewandowski contou. A lava-jato prendeu empresário grande. Diz que isso é vantagem. Mas acabou com a Petrobrás, a Distribuidora, os gasodutos, a indústria naval, muitas empresas de serviços, da cadeia de óleo e gás. Fechou milhões de empregos. O Brasil estava em oitavo lugar na classificação. Agora está em décimo quarto lugar. Foi prá trás. Quem ganhou com isso, Luis Roberto. Isso foi bom pra o Brasil? Afinal, que justiça é essa. Em que time você está jogando? Que história é essa de fazer acordo com governo estrangeiro, tudo debaixo do pano. Isso também é ilegal.

O Gilmar, bonachão, virou pro Barroso e resumiu tudo numa sentença: Vossa Excelência perdeu.

 

Roberto Garcia é jornalista.

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