Por Edmundo Moraes
NÃO VENCI E NEM FUI VENCIDO, SÓ SOU UM POUCO ATREVIDO.
MERECEDOR DA PAZ:
VOCÊ SABIA QUE?
Resumo de uma vida de muitas lutas, de um ainda caipira. Graças a Deussss!
1 – Com a idade de seis anos, fui levar meu avô na estação, na cidade de Taiúva, a uns 8 kilometros da casa onde morávamos, depois de deixar meu avô João Pedro na estação. Montei na sela e voltei. Quando saí da cidade, mais ou menos umas 16 horas, no lombo da Égua, sozinho, desabou uma tempestade onde eu não via nada, a Égua Estântina me conduziu, passo a passo. Eu tremia em cima da cela como vara verde. Chegando em casa, já escuro, minha mãe me retirou do lombo da égua, duro e tremendo de frio, me deu um banho quente com sal grosso. Acordei com uns 40 graus de febre. E nisso fiquei uma semana de cama. SEI LÁ QUANTO TEMPO DUROU ESSE TRAUMA, mas hoje, se me perguntarem, se tenho medo de tempestade. Digo NÃO, pelo contrário, pretendo ver um Vulcão em atividade.
2 –Com a idade de 7 anos, iniciei o primeiro ano escolar, isso no meio do ano, na cidade (Vilarejo) de Andes, pouco antes de Bebedouro. Meu pai nos levou, eu e meu irmão Etelvino, e cronometrou o tempo de caminhada, 45 minutos para um percurso de mais ou menos 10 kilometros. Percurso feito a pé e descalço, só fui ganhar a primeira botininha com 12 anos, isso aconteceu comigo e os outros 6 irmãos. Porém, antes de ir para a escola, tínhamos que carpir um pequeno Eito, tirando o mato do plantio. Se cortássemos um pezinho das plantas, no caso, era arroz. Levamos uma surra. Se atrasássemos, na ida, ou na volta da escola. Outra surra!
3 – No terceiro ano primário, como havia acontecido com os outros irmãos, meu pai nos chamou, e disse; vão parar de estudar, para ajudar o pai e os outros irmãos na roça. Lembro que chorei, minha mãe disse, chorei o dia todo.
4 – Neste período, já tinha mais ou menos 9/10 anos, meu pai teve uma crise. Como um Católico fervoroso que era, vivia rezando, e as coisas nunca davam certo. Resolveu mudar de religião. Depois de várias tentativas, virou crente, Adventista do Sétimo Dia, Movimento de Reforma, nos obrigando a segui-lo, o que foi muito ruim. Desesperado, buscando ajuda dos céus. Mas nada! Até que, depois de várias tentativas, em outros sítios ou fazendas. Em 1962, resolveu tentar a vida em São Paulo. Com cinco dos 8 filhos que tinha. Dois casados e a Thereza, trabalhando como doméstica e estudando corte de costura em Araraquara.
5 – Vendeu os animais que tínhamos, inclusive, a Égua Estântina e todas as tralhas que usávamos na lavoura. Numa longa viagem de trem, viemos para a Capital. Imagina eu, com 15 anos vindo direto da roça para trabalhar em São Paulo. Era só, vergonha e medo! Chegamos numa quinta feira, e na segunda seguinte, eu e o mano Etelvino começamos a trabalhar como, aprendizes de Ouríveis, na Indústria e Comércio de Joias Alpha, na rua 25 de março. Na verdade, servíamos com contínuo, comprando café para os profissionais, até aprendermos um pouco da profissão. Aí fomos trabalhar em outras pequenas ourivesarias, para ganharmos um pouco mais. Porque todo dinheiro ganho, entregávamos nas mãos de minha mãe, para pagar a prestação da casinha e pagar as contas do mês . Minha mãe só nos dava o dinheiro da passagem, e levávamos marmitas para o trabalho.
6 – Com o Golpe de 1964, aos poucos a situação foi piorando, e o comércio de joias, sempre é o primeiro a ser atingido. A medida que o mercado de trabalho foi se reduzindo, tentávamos trabalhar até com ouro velho, em oficinas suspeitas. Mas não deu. Fui ser operário em fábrica de sapatos, metalurgia, vender cachaça (em três meses não vendi nada) etc. QUASE UM ANOS SEM EMPREGO!
7 – Dos cinco irmãos, só um trabalhando, isso já 1966/67. Saia a procura de emprego, com o dinheiro da passagem, que minha mãe nos dava, e cinquenta centavos. Quando a fome apertava, tomava um copo de leite gelado. ISSO SOUBE DEPOIS QUE MINHAMÃE SE FOI, (minha irmã contou, após a morte dela) minha mãe e uma concunhada dela, tia Lúcia, iam ao mercado central, pegavam as mercadorias descartadas, em baixo das bancas. Quando chegávamos das procuras de emprego nos fins de tarde. Sempre tinha um prato de comida quentinho, para saciar nossa fome.
8 – Ainda quase o fim do desespero. Começo do ano de 1967, indicado pelo meu irmão Leonir, barbeiro em Campinas, que um cliente seu que era chefe de vendas, fui tentar vender anúncio e assinatura do jornal, Folha de São Paulo, em três meses andando de gravata. Não consegui NADA!
Como, se não sabia nada sobre jornal? Como se fazia e tal? Abandonei tal trabalho e fui tentar ser escriturário neste jornal. No teste, fui reprovado.
Gratidão: dona Helena, creio não estar mais aqui, cuidava das contratações. Vendo em meu rosto derrotado! Numa frase inesquecível: “Em 16 de Outubro vai ser relançada o Jornal Folha da Tarde. Procura o seu Benê, chefe dos contínuos, e ele vai te arrumar um trabalho. Fala em meu nome”.
9 – Lá vou eu procurar o seu Benê, chefe dos contínuos e auxiliar do seu Jorge Antônio de MIranda Jordão, Editor chefe do Jornal. Umas cariocadas geniais, mais uns baianos, gaúchos etc. Como posso esquecer?. Envergonhado, naquele ambiente, onde só havia gente linda, educadas e sinceras, falavam e escreviam brilhantemente. Aos pouco fui me sentindo acolhido com muito carinho. Quando buscava um lanche, recebia uns troquinhos. De frei Beto, Rose Nogueira, Luiz Merlino, Ítalo Troca, João Ribeiro, Carlosss Guilherme de Penafiel, Nélito, Chico Caruso e Paulo Caruso, cobrindo as faltas do Chico Etc. Etc. Foi como eu estivesse me fartando de Mel . Doce mel do saber. Claro, os primeiros passos, ou engatinhar. Fui envolvido por essas pessoas incríveis, e consegui com uma grande ajuda do Miranda Jordão, voltei a estudar, fazer Madureza.
10 – Começo de um novo ciclo, anos meio após essa nova labuta, Penafiel, como não lembrar de, Tonico Ferreira, seu sub chefe do Penafiael, na Diagramação. Fui indicado para um desafio, dito pelo Penan. “Edmundo, se em uma semana, e se você conseguir Diagramar uma página do jorrrrnal, a vaga de Diagramador será sua no lugar do Dominguesss que sumiu”. Assim foi, meu início de uma carreira, dificílima mas muito enriquecedora. Com muita leitura, poucos estudos e recursos, mas muita, mas muita leitura, Tirando o atraso das lágrimas derramadas. Nos trinta anos dentro de várias redações, tentei, derramando muito suor e sangue, ser um bom profissional. Adquiri, e não abri mão, do meu ideal, se posicionar na sociedade, andar de cabeça erguida pela cidade, desviando das maldades.
AINDA TÊM O FINAL, COM ALGUNS PROPEÇOS NA VIDA PESSOAL. COMO HUMANA, ERRANDO E ACERTANDO, MAS SEMPRE CAMINHANDO.
Edmundo Moraes é jornalista, ator e poeta
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Edmundo Moraes, grande e caro amigo, “Sumore” de umamigamada. Aprendo muito com este singelo homem… Aliás, na companhia dos dois é só aprendizagem de humildade, visionismo e construção para vanguarda!