Parque Augusta: vitória da comunidade (e também das construtoras)

Por Simão Zygband

 

São Paulo comemorou neste final de semana a (re)abertura o Parque Augusta, denominado Bruno Covas, em homenagem  ao prefeito falecido este ano. É uma vitória da comunidade, que durante anos se posicionou contra as construtoras, que iriam colocar abaixo, sem dó nem piedade, uma das poucas áreas verdes localizadas no centro da cidade para a construção de “empreendimento”.

Com certeza, para manter esta área, foi necessária muita luta, que se arrastou por mais de vinte anos.  No entanto, o que de fato determinou a viabilização do projeto foi um chamado “negócio da China”, que beneficiou as construtoras. O acordo entre a Prefeitura, o Ministério Público de São Paulo e as construtoras Cyrela e Setin previu que as empresas cederiam o terreno de 25 mil metros quadrados em uma área de proteção ambiental, na qual uma pequena porcentagem é edificável, localizado em um bairro central de São Paulo, em troca de 18 mil metros quadrados de um terreno público na Marginal Pinheiros, em área nobre e com um potencial de construção máximo, onde torres mais altas podem ser erguidas. O valor venal do terreno do parque, entre a rua Augusta e a Caio Prado, era estimado na época em 120 milhões, enquanto que o preço do terreno cedido, na avenida das Nações Unidas, foi mantido sob sigilo durante a inauguração.

Quem facilitou a vida das construtoras (até pela sua própria característica de gestão) mas que de fato viabilizou a construção do parque Augusta, foi o então prefeito e hoje governador João Dória (PSDB). Um político que tem caído no descrédito popular por não apenas ter traído o seu padrinho político, Geraldo Alckmin, mas por se indispor com o (sic) presidente Jair Bolsonaro, de quem fez campanha aberta por sua eleição. Foi o chamado Bolsodoria, que ele mesmo se encarregou de divulgar. Doria corre agora o risco de sequer conseguir legenda para disputar a presidência, o seu maior sonho.

Doria é da escola neoliberal, de participação mínima do estado na vida do cidadão e na sua gestão muitos bens públicos estão ameaçados como a Universidade de São Paulo, por exemplo, que está sendo sucateada possivelmente para concedê-la para a gestão privada.

No dia da inauguração, já ocorreu o primeiro protesto no parque, de funcionários públicos municipais contra o prefeito Ricardo Nunes, que enviou à Câmara Municipal projeto que aumenta a contribuição previdenciária dos servidores, o chamado SPPrev2.

Protesto de servidores

os

De toda forma, parabéns à comunidade que lutou incansavelmente para a viabilização do Parque Augusta (e até, de alguma forma, forçou o ex-prefeito João Doria a fazer a negociação desigual com as empreiteiras), bem diferente do tratamento dado à praça Roosevelt, existente à alguns metros de distância do local, totalmente abandonada e que foi concebida em concreto puro pelo então prefeito Gilberto Kassab, também afeito a facilitar a vida das empreiteiras. Há pouquíssimas árvores na praça de concreto, apesar do ex-prefeito ser engenheiro de profissão.

Agora resta a toda a comunidade paulistana lutar também pelo que resta de árvores na cidade. Atualmente a voracidade das empreiteiras tem botado abaixo bairros residenciais inteiros como a Vila Madalena e a Vila Anglo Brasileira, para a construção de horrendos empreendimentos, prédios de até 20 andares em locais onde antes havia muitas árvores e construções históricas horizontais.

Também é importante lembrar que o ex-prefeito Bruno Covas, que nomina o Parque Augusta, é autor de um dos maiores crimes ecológicos realizados contra a cidade de São Paulo que foi a concretagem da Vale do Anhangabaú, de onde foram arrancadas centenas de árvores e gastos R$ 100 milhões em um esdrúxulo projeto que acabou virando um “piscinão”.

Mas, a inauguração do Parque Augusta deve ser muito comemorada, pois nada se consuma só por boa vontade política. A vitória é bem descrita pelo ativista Daniel Silva em seu Facebook, que reproduzo abaixo:

” (Re)Abertura do Parque Augusta!!
Eu sempre tive esperança e me dediquei ao máximo, mas racionalmente não achei que iria acontecer. Sempre vitórias seguidas de derrotas. Horas, dias e anos de luta, muitas tretas internas e externas. Grupos ridiculamente heterogêneos lutando lado a lado, conservadores, maconheiros, gente tradicional, gente alternativa, gente que queria mato, gente que queria gente, gente que queria só caminhar e respirar… Isso tudo só me mostrou que, contra tudo que racionalmente eu ainda possa acreditar, talvez ainda haja esperança e compense lutar até lutas tão improváveis.
Uma briga desproporcional de moradores, frequentadores e ativistas contra a especulação imobiliária, contra uma construtora gigante, por um terreno de 25.000m² no centro de São Paulo. Vocês não tem ideia do que fizemos e de até onde fomos para conseguir, inacreditavelmente, vencer!!!
Agora o Parque Augusta finalmente não é de mais ninguém para poder ser de todos!”

É, portanto, motivo de comemoração sim a existência do Parque Augusta.

Vida longa para ele!

 

 

fotos: Heber Biella

Contribuição para o Construir Resistência ->

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