Por Marlene Carvalho
Eu estava no sebo Lima Barreto, escolhendo livros e chegou um homem alto, um pouco curvado, mas não era velho. Conversou com o dono da livraria sobre livros e autores. Falava sem afetação sobre suas leituras: Beckett, Nabokov, Flaubert, Balzac e outros. Fiquei impressionada com seu modo apaixonado, mas direto e simples de falar de literatura e quase fui lá cumprimentá-lo. Ele saiu levando uma sacola de livros.
Entraram então duas moças bonitas e elegantes que pediram ao livreiro livros para decoração. Ele perguntou: sobre decoração? Não, para decorar uma estante. O livreiro não demonstrou espanto e mostrou livros encadernados, edições antigas. Parece que era isso que as moças queriam, ficaram escolhendo.
Nisso, entra uma mulher grisalha, tênis e roupa esportiva, um suéter pendurado no pescoço. Queria livros de Olavo de Carvalho. O livreiro lhe deu um, ela queria mais. Não tinha. Então ela disse que Olavo (se referia a ele como se fosse um primo) estava no Brasil para tratamento médico, o livreiro perguntou por que não se tratava no EUA, ela respondeu que Olavo prefere se tratar no Brasil. E comentou que vai haver muita procura dos livros de Olavo.
Eu tive vontade de me meter na conversa, mas pensei melhor e fui embora com minhas compras. Um livro de contos de Fitzgerald (20 reais) e a fotobiografia de um nobre russo ( 20 reais), ambos em ótimo estado. Nada como passar meia hora numa livraria.
Marlene Carvalho é escritora e professora da UFRJ.