Por Adriana do Amaral
Terça-feira, 20 de abril do segundo ano da #pandemia. Padre #JulioLancellotti completa 37 anos de devoção a Deus, desde a sua ordenação presbiterial. Aos 73 anos, talvez seja o maior militante dos Direitos Humanos do Brasil, e um dos mais atuantes ativistas no mundo pela abrangência das causas que defende.
Ele consegue reunir em torno de si fieis, agnósticos e ateus; políticos e personalidades. Ao mesmo tempo é amado e odiado. Tudo o que ele faz ou fala repercute imediatamente, na mídia ou na vida real.
Com padre Julio sempre foi assim. A cada pedra tirada do caminho outras pedras surgem para serem retiradas, figura ou literalmente. Pessoalmente, ele enfrentou o discurso de ódio ao longo da vida, inclusive através de ameaças de morte e calúnias.
Aonde quer que esteja, no entanto, Padre Julio Renato Lancellotti garante o alento e conforto aos fieis ao dizer, com precisão, o que queremos ou necessitamos ouvir. Principalmente ao longo da crise humanitária que se instalou no Brasil pandêmico.
Seja no altar da pequena Paróquia de São Miguel Arcanjo, na cidade de São Paulo, ou nas mídias sociais. São mais de 67 mil seguidores na sua página pessoal do #Facebook, cerca de 532 mil no #Instagram e supera os 176 mil no #Twitter. Além da página da paróquia, grupos associados e publicações no YouTube.
Mas é nas ruas, principalmente do centro velho da capital paulista, que a dimensão da figura humana do padre Julio se faz sentir. E foi sempre assim. Seja frente à Pastoral do Povo da Rua, Carcerária e da Criança e do Adolescente, só para citar algumas das linhas de atuação do religioso. É no relento e nas prisões que ele encontra Jesus personificado a cada pessoa marginalizada, doente e excluída.
Estar com o padre Julio é uma experiência inesquecível. Eu o vi algumas vezes, caminhando pelo quadrilátero da Saúde, no complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Uma dessas vezes eu troquei o seu nome, confundindo com o capelão do HC, padre João. Ele não me poupou, corrigiu, mas perdoou sorrindo o meu pecado.
Entrevistei- o pela primeira vez num outro momento difícil da saúde nacional. Era o ano de 1994 e ele havia fundado a Casa Vida 1 e 2, onde abrigava, tratava e amava com carinho paterno de crianças órfãs de pais vitimados pela AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Sempre apoiado no voluntariado.
“Eles vieram à vida para viver e temos de garantir a qualidade de vida destas crianças”, disse-me então. Eram crianças de zero a nove anos, sintomáticos ou soropositivos, renegados pela sociedade numa época que ele também teve de enfrentar o ódio resultante do preconceito e da discriminação.
Mais tarde, uma nova entrevista e o padre Julio já engajado na proteção das pessoas em situação de rua e na terceira, já em plena pandemia, tentando informar, conscientizar e proteger todas que o procuram. Um comunicador da fé, que não precisa atuar ou cantar, apenas ser o que é.
No domingo, dia 18, o santo homem vestiu o mesmo traje de 37 anos atrás e usou o mesmo “cálice” na celebração da missa. A veste, segundo ele, perdeu o brilho, a cor, está puída e com pequenos buraquinhos. Aliás, a batina usada nas missas é mais uma das formas de ele se expressar, assim como a sua multiplicidade inclusiva.
Como sempre, o nosso santo vivo, como eu ouso dizer, encarnava o misto de bondade, compaixão, resiliência e indignação, fazendo da missa uma aula de história antiga e recente. Como poucos, padre Julio sabe traduzir em palavras simples a complexidade do mundo atual. Impecável, aponta caminhos para a preservação da vida humana e da ascenção social.
Como um messias da atualidade, no domingo ele traçou os caminhos a serem percorridos pela América, principalmente a Latina:
“Os caminhos da América são caminhos de liberdade, de vida e de esperança. Não caminhos de ditadores nem daqueles que querem calar os irmãos; essa América ferida, solidária a todos, sem discriminar, sem preconceito a nenhum grupo. Com liberdade, justiça e fraternidade, cuidando dos miomas, da vida e defendendo a natureza: a ecologia integral.
A fé em Deus e as diretrizes da Teologia da Libertação norteiam a sua jornada. No seu “mantra” e benção ele repete: Força e coragem. Não desaminem.
Celebramos Padre Julio Lancellotti, benditas sejam as suas palavras!
Para quem quiser contribuir para as ações do padre Julio Lancellotti:
Paróquia de São Miguel Arcanjo
Banco: Bradesco 237
Agência:0299
Conta corrente: 034857-0
CNPJ: 63.089.825/0097-96
www.oarcanjo.net