Construir Resistência
Gilmar Mendes e Sérgio Moro

Os equívocos de Sérgio Moro

Por Simão Zygband

Gilmar Mendes e Sérgio Moro

Muitas vezes me pergunto como Lula conseguiu sair das cordas e se eleger presidente da República pela terceira vez.

Como se sabe, a política é construída por uma conjunção de fatores. E, aparentemente, todos conspiraram a favor do presidente Lula. Também na vida é necessário ter sorte, mas apenas ela não basta.

Lula apostou certo quando decidiu se entregar para ser preso por Sérgio Moro. Muita gente, inclusive eu, acreditava que ele não deveria ter feito isso. Seria mais lógico ele se exilar, aceitar a condição de exilado político que lhe foi oferecido e organizar a resistência do exterior. Ele preferiu se defender preso, passou 580 dias injustamente na cadeia, e a história provou o acerto na sua decisão.

Mas como os ventos viraram e se tornaram favoráveis a Lula? Afinal tudo parecia perdido e muitos acreditaram, inclusive eu, que ele ia mofar na cadeia e iria ser difícil derrotar a perseguição fascista.

Mas, com o que ninguém contava era com o tamanho desproporcional do apetite pela riqueza e a ganância exagerada de personalismo e vaidade de Sérgio Moro, uma liderança fascista de pés de barro construída pela mídia golpista e por um empresariado reacionário cujo único objetivo era prender Lula e retirá-lo da disputa eleitoral.

Em condições normais de pressão e temperatura, Lula era invencível nas urnas, tinha amplo apoio das camadas mais pobres da sociedade e conseguiu, entre outras proezas, eleger e reeleger Dilma Rousseff, que nunca havia sido candidata a nada, não possuía acúmulo na política partidária.

Mas o chamado stablishment conservador (mídia e empresariado) não contava com a fragilidade intelectual de sua aposta para demolir Lula e o PT e este talvez tenha sido o erro deles.

Esta decisão  jogou o país nas mãos de um outro extremista, Jair Bolsonaro, ainda mais tacanho e despreparado que o juiz de primeira instância, elevado artificialmente à condição de paladino da justiça, um super-herói de sunga. Mas aí a bobagem já estava feita e está sendo difícil desfazê-la.

Sérgio Moro não tinha perfil para encabeçar a frente conservadora e começou a ruir pelos seus próprios defeitos. Foi com muita sede ao pote e como diz o ditado, quem nunca comeu melado e quando come se lambuza.

A sua vaidade, personalismo e sede de poder é gigantesca. Armou uma estrutura de denúncias com a Lava Jato e por trás dela uma rede de achaque aos depoentes. Pretendeu unir o útil ao agradável. Conseguia a delação premiada contra o Lula e ainda praticava extorsão daqueles que não delatavam do jeito que eles queriam ouvir. Assim foi contra o advogado Tacla Duran, o primeiro a se rebelar publicamente contra o procedimento ilegal de Moro.

As denúncias de Duran não teriam ganho a dimensão que ganharam se não fosse a ganância desmedida de Sérgio Moro e de seu cúmplice Deltan Dallagnol, um combinado entre promotor e juiz (o que acusa e o que julga), ambos curiosamente do mesmo estado, o Paraná. Ambos não se deram por satisfeitos e passaram a querer meter o bedelho onde não foram chamados. Acharam que poderiam chantagear os ministros do STF, mapear se tinham riquezas no exterior e medir forças com eles.

Quando explodiu o conteúdo das escutas da Vaza Jato (realizadas quase sem querer pelo hacker de Araraquara, Walter Delgatti) e divulgadas inicialmente por The Intercept Brasil (e posteriormente por toda a mídia), o castelo de areias de Sérgio Moro começou a ruir. Através delas os ministros do STF ficaram sabendo que o juiz queria fuçar nas contas dos magistrados no exterior e possivelmente chantageia-los. Assim ganhou a aversão de ministros como Gilmar Mendes, indiscutivelmente um dos todos poderosos do STF, que possui influência desmedida dentro do órgão.

Esta ideia equivocada de Moro virou os humores do STF, a ponto da maioria dos magistrados apoiarem inclusive a absolvição de Lula, o grande troféu do juiz. Ele ainda agora comete o mesmo equívoco, atacando Gilmar Mendes a quem acusa de “vender sentenças”. Esta ofensa pode lhe custar a liberdade, uma vez que a PGR sugeriu a sua prisão por ofensas ao ministro.

Briga de cachorro grande ante a pequenez do Marreco de Maringá.

Que seja feita a Justiça!

 

 

 

 

 

 

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